Política

Jornal turco diz que jornalista saudita foi torturado antes de ser decapitado em consulado saudita

Jornal 'Yeni Safak' diz que teve acesso a áudio feito dentro do consulado saudita em Istambul, onde Jamal Khashoggi esteve em 2 de outubro. Desde então, jornalista está desaparecido.

Por G1 17/10/2018 15h03
Jornal turco diz que jornalista saudita foi torturado antes de ser decapitado em consulado saudita
Jamal Khashoggi, jornalista crítico ao governo da Arábia Saudita, desapareceu após entrar no consulado do seu país em Istambul - Foto: Mohammed al-Shaikh/ AFP

O jornalista saudita Jamal Khashoggi foi torturado antes de ser decapitado no consulado de seu país em Istambul, na Turquia, informou nesta quarta-feira (17) o jornal turco “Yeni Safak”. Há duas semanas, o paradeiro do jornalista é desconhecido.

Em 2 de outubro, Khashoggi, de 59 anos, que era crítico do governo da Arábia Saudita, foi ao consulado do seu país, em Istambul, para resolver trâmites burocráticos relativos a seu casamento com uma cidadã turca. Desde então, está desaparecido.

O periódico, que é ligado ao governo turco, afirma que teve acesso a um áudio que mostra que os agentes sauditas cortaram os dedos de Khashoggi durante o interrogatório na representação diplomática saudita, em 2 de outubro. “Depois sua cabeça foi cortada até a morte”, descreve o jornal, que não deixa claro como teve acesso à gravação.

"Façam isto lá fora. Vocês vão me causar problemas", afirmou o cônsul saudita Mohammad Al Otaibi, ainda de acordo com o jornal turco.

“Se você quiser continuar vivo quando voltar à Arábia Saudita, fique quieto", respondeu um homem não identificado.

Al Otaibi deixou Istambul na terça-feira.

Esta é a primeira vez que uma publicação turca afirma que teve acesso a esse áudio. Anteriormente, o jornal turco “The Sabah” afirmou que um ele teria sido feito pelo relógio do próprio Khashoggi e recuperado em sua conta online.

Um grupo de investigadores, formado por Turquia e Arábia Saudita, fez buscas por várias horas no consulado saudita em Istambul. Uma autoridade turca disse à agência Associated Press que os investigadores encontraram uma nova evidência de que Khashoggi foi morto no local. No entanto, outra autoridade de segurança disse à rede Al Jazira que não foi encontrada nenhuma evidência conclusiva.

Investigações

As autoridades turcas acusam Riad de ter ordenado o assassinato do jornalista a uma equipe enviada ao consulado. O governo saudita nega.

O jornalista, que também tinha cidadania americana, morava desde 2017 nos EUA e trabalhou para o "Washington Post". Por isso, os Estados Unidos acompanham a investigação.

Mike Pompeo, secretário de estado americano, visitou Riad na terça-feira (16), onde se encontrou com o rei Salman e com o filho dele, o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, antes de viajar para a Turquia nesta quarta-feira. O governo saudita afirmou a Pompeo que está disposto a fazer uma exaustiva investigação.

"Foram muito claros. Compreendem a importância deste problema, estão decidido a seguir até o fim das investigações", afirmou Pompeo.

A imprensa americana chegou a informar que a Arábia Saudita cogitava reconhecer a morte do jornalista durante um interrogatório no consulado e atribuir o fato a "agentes fora de controle", o que não aconteceu até o momento.

Na Turquia, Pompeo se reunirá com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e com o ministro das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, durante encontro com o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, em Riad, na Arábia Saudita, na terça-feira (16) — Foto: Leah Millis/Pool/AFP