Concurso de Monografia do Arquivo Público potencializa contribuição a gestores
Duas arquitetas e um historiador foram os grandes vencedores na edição do terceiro certame promovido pelo Arquivo Público de Alagoas
As dependências do Arquivo Público de Alagoas (APA), onde estão guardados um tesouro de mais de três milhões de documentos — fruto de 58 anos de existência — foi a grande inspiração para três jovens pesquisadores conseguirem galgar os primeiros lugares no terceiro concurso de monografia d de Alagoas.
Foi lá, no cenário que resguarda e preserva a reminiscência administrativa e histórica da população alagoana em meio a fotografias, mapas, jornais, livros, cartões postais que compõem as memórias e registros que os pesquisadores Tharcila Maria Soares, Adriana Guimarães Duarte e Lydio Alfredo Rossiter venceram o certame, cujo resultado final foi homologado e publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) no dia 26 de dezembro de 2019.
Primeira colocada, Tharcila venceu com o tema “Urbanizar” a Vegetação: O Ideário dos Agentes Construtores de Maceió-Alagoas no Século XIX; a segunda colocada, Adriana, abordou “Referências Culturais Enquanto Processo Histórico de Ocupação no Litoral Norte de Maceió: Em ameaça ou em nova acomodação?”. Já a Menção Honrosa saiu para Lydio com “Casos de Vida e Morte” - Ciclos Epidêmicos e Administração das Freguesias no Contexto de Embate entre o Regalismo e o Ultramontanismo em Alagoas.
Arquiteta e urbanista, doutora pelo Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e professora do Curso Superior de Tecnologia em Design de Interiores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas (IFAL), Tharcila resume assim o seu trabalho: “Este trabalho é decorrente da minha tese de doutorado em Arquitetura e Urbanismo da Ufal e consiste em um estudo histórico sobre a construção cultural entre sociedade e vegetação a partir dos ideários dos agentes construtores da cidade de Maceió durante o século XIX, contribuindo com o debate sobre a inserção e a preservação da arborização e dos espaços ajardinados na cidade”, explica Tharcila.
Ela ressalta que a escolha por esta temática se deu ainda durante o curso de mestrado, com a descoberta de uma rica ? e inédita ? documentação existente no APA. “Naquele momento, a leitura de uma pequena parte dessa documentação, que tratava especificamente dos jardins públicos de Maceió, chamou a atenção para a existência desses locais, ainda pouco estudados, suas características espaciais, suas funções e sua importância para a história da cidade. Com o ingresso no doutorado, esta pesquisa foi aprofundada e complementada, gerando o trabalho”, completa a primeira colocada
Já a segunda colocada, a também arquiteta graduada, mestra e doutora em Urbanismo pela Ufal, Adriana destaca que sua pesquisa contribui para suscitar nos gestores públicos a consciência e reflexão das questões pertinentes à mobilidade urbana. “No meu trabalho, o edital permitiu que eu atingisse e provocasse uma conexão com a sociedade com um tema tão recorrente na sociedade atual e cuja pesquisa serve para colaborar socialmente com o intuito de atingir um público maior”, ressalta Adriana.
Para Lydio, um dos focos de sua pesquisa é chamar atenção para as lacunas do processo histórico ainda pouco ou nada explorado. “Na pesquisa, chamo atenção para a formação das elites locais”, informa o bacharel em História pela Ufal.
Trabalhos subsidiam decisões dos gestores públicos
As monografias classificadas em primeiro e segundo lugar, além da menção honrosa, serão publicadas pelo Governo do Estado, por meio do Arquivo Público. E para cada edição de 500 exemplares, 10% da tiragem serão destinadas ao autor e os demais serão de propriedade do APA.
Segundo a bibliotecária e superintendente do Arquivo Público, Wilma Nóbrega, facultar aos profissionais e estudantes de universidades públicas e privadas de Alagoas a oportunidade de apresentarem suas pesquisas à sociedade será uma referência não só pela quantidade e qualidade dos trabalhos apresentados, como também pela repercussão no meio acadêmico, nas mais variadas áreas do conhecimento.
“Os trabalhos trarão importantes análises, sugestões e contribuições importantes para o conhecimento do processo histórico, político, econômico, cultural e educacional em Alagoas”, ressalta Wilma, ao acrescentar que as pesquisas selecionadas e vencedoras tiveram como principais fontes de pesquisa o acervo do Arquivo Público de Alagoas.
Os três pesquisadores foram recebidos pelo secretário executivo de Gestão Interna do Gabinete Civil, Felipe Cordeiro, que representou o secretário-chefe da pasta, Fábio Farias. Cordeiro ressaltou a importância do Concurso de Monografia por criar um grande banco de ideias e sugestões que contribuam para o conhecimento da cultura, da tradição e do estímulo à alagoanidade.
Digitalização, a próxima meta do APA
Nos seus 58 anos de história, a mais nova pretensão do APA é a digitalização de todo seu acervo para acompanhar as mudanças tecnológicas e também tornar o acesso ainda mais democrático. “É nosso dever disponibilizar todo o material em diversos formatos, inclusive no digital. O Governo do Estado, através do Gabinete Civil, que está sempre nos apoiando, está analisando a possibilidade de parceria com uma empresa que digitalize o acervo”, diz Wilma Nóbrega.
Sob sua gestão, diversos projetos estão sendo tocados, como o evento cultural Chá de Memória e o projeto Memória Reveladas, que permite à sociedade o acesso a fontes, antes sigilosas, do período da Ditadura Militar, além de todo o material da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) digitalizado e disponível no Arquivo Nacional. Também foi criado o Fundo do Governo do Estado de Alagoas para comportar todas as mensagens, decretos, leis e outros documentos administrativos dos governos estaduais de 1912 até os dias atuais.