Xangô Rezado Alto leva tradição e história para orla de Maceió
Evento reuniu grupos de matriz africana neste domingo (02)

Há 108 anos, 150 casas de culto de matriz africana celebravam o Dia de Iemanjá quando foram atacados por uma milícia que destruiu objetos sagrados e espancou uma mãe de santo. O episódio ficou conhecido como “Quebra de Xangô”. Para lembrar da data e evitar que ações como essa voltem a acontecer, a Prefeitura de Maceió realiza o Xangô Rezado Alto. Em sua nona edição, o evento aconteceu neste domingo (02), na orla da capital.
O evento é coordenado pela Fundação Municipal de Ação Cultural (Fmac) desde 2013 e contou com um cortejo de cinco grupos culturais, além da apresentação de mais seis grupos em um palco na Feirinha da Pajuçara.
Para Amaurício de Jesus, coordenador de Políticas Culturais do órgão, essa é uma forma de fazer a sociedade refletir sobre o tema. “As comunidades tradicionais chegam para lembrar a população da importância dessas tradições e a forma como essas tradições ajudaram a construir a cidade”, comentou.
O coordenador fala, ainda, como a ação ajuda a minimizar o preconceito. “Trazer esses grupos para esse ambiente é dizer e demonstrar que as pessoas têm direito de circular e estar onde elas querem estar”, finalizou.
O historiador e babalorixá Célio Rodrigues, o pai Célio, fala da necessidade de ir às ruas nesse dia 02 de fevereiro. “A importância da celebração do ‘Quebra’ é para dizer não a intolerância religiosa. Toda sociedade, toda comunidade de matriz africana está nas ruas, está na praia, está nesse asfalto dizendo não para intolerância. Para que nunca mais ocorra o que ocorreu em 1912”, disse.
Sobre essa intolerância, Lucélia Tayna, de 24 anos, fala um pouco. “O Quebra aconteceu em 1912, mas atualmente a gente ainda sofre diversos quebras. Eu quando chego no ônibus, de turbante, e o outro não quer sentar ao meu lado, eu quando vou para a faculdade e sou olhada com crítica. Por isso, acho que o Xangô Rezado Alto tem que ser estudado, anunciado e vivenciado todos os dias do ano”, disse a jovem que faz parte do grupo Afoxé Odô Iyá, o primeiro Afoxé de Alagoas, e se apresentou na celebração.
Luciana Fon, servidora pública, estava encantada com as apresentações e com a história do evento. “Essa é a primeira vez que venho acompanhar, mas já tinha ouvido muito falar. Acho que a resistência deles é muito importante. Num país como o nosso, a gente não tem que ter preconceito. Temos que nos respeitar”, ponderou.
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