Lira sobre desfile de tanques e voto impresso: “Trágica coincidência”
O presidente da Câmara disse ainda que espera serenidade na votação da PEC do Voto Impresso: "Para que não haja vencedores nem vencidos"
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse nesta segunda-feira (10/8) que considera o desfile de blindados na Esplanada dos Ministérios, programada pelo Planalto para esta terça-feira (10/8), uma “coincidência trágica” com a agenda da Câmara. Os deputados votarão na mesma data a proposta de emenda à Constituição (PEC) que estabelece a adoção do voto impresso no país para as próximas eleições.
Lira contou que falou com o Planalto e teve garantias de que o evento já estava programado e que não há nenhum intuito de constranger ou intimidar o Congresso, ou mesmo, de ameaçar a democracia no país.
“Encaro isso como uma trágica coincidência, não é que eu apoie essas ações”, disse Lira, em entrevista ao site Antagonista.
O desfile ocorrerá em um momento de forte tensão entre o governo Jair Bolsonaro e o Poder Judiciário. As Forças Armadas planejam um desfile militar inédito em frente ao Palácio do Planalto, conforme comunicado oficial distribuído pela Marinha. A nota diz que “um comboio com veículos blindados, armamentos e outros meios da Força de Fuzileiros da Esquadra, que partiu do Rio de Janeiro, passará por Brasília”. O destino final é o Campo de Instrução de Formosa (CIF), onde é feito anualmente, desde 1988, um grande treinamento da Marinha, a chamada Operação Formosa.
“Na oportunidade, às 8h30, no Palácio do Planalto, serão entregues ao Presidente da República, Jair Bolsonaro, e ao Ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto, os convites para comparecerem à Demonstração Operativa, que ocorrerá no dia 16 de agosto, no CIF”, diz ainda o comunicado.
Apesar da negativa de intimidação recebida do Planalto, Lira reconheceu que, diante do tensionamento presente no país, esse tipo de atitude dá margem a se pensar em uma ameaça ao sistema democrático e disse que se houver por parte da sociedade uma vontade de adiamento da votação, que ele estaria disposto a retirar da pauta. “Esse movimento não é usual. Não sendo usual, em um país que está polarizado do jeito, isso dá cabimento que se especule algum tipo de pressão”, criticou.
“Políticos de oposição viram no gesto de Bolsonaro uma tentativa de demonstração de força, de intimidação do Congresso e de ameaça à democracia no país. Eles prometem responder ao presidente derrotando a proposta do voto impresso no Plenário, na votação que está marcada para as 15h desta terça-feira (10)”, disse.
“Se os deputados quiserem e se a população achar que é conveniente, a gente pode adiar a votação porque quando discutimos esse assunto na semana passada, eu quero entender que esse movimento já estava programado.
“Nós entramos em contato com o Palácio eu falei com o presidente e ele nos garante que não havia esse intuito. Ele está convidando a Câmara e o Senado para participar desse convite, mas eu quero dizer que não é usual e esse tipo de especulação cabe nesse momento, muito embora a coincidência trágica da agenda da Câmara com essa passagem dos blindados para Formosa.
Lira ainda disse que espera serenidade nas discussões do voto impresso para que a melhor escolha seja feita para o país.
“O que é importante nesse momento é que se procure ter serenidade e que não haja vencedores nem vencidos”
O ser questionado sobre as ameaças constantes do presidente, os ataques às instituições e outros poderes feitos por Bolsonaro, Lira disse que não pode se responsabilizar por um ato que não seja dele.
“Cada um tem sua liturgia e responde sobre seus atos. Eu procuro cumprir o meu papel como presidente da Camara”, observou .”