Meio ambiente

Pesquisador da Ufal diz que festas e 'banho de lua' ameaçam a biodiversidade marinha

Segundo o professor, atividades de turismo, se não reguladas, geram impactos diretos aos recifes, como o pisoteio e quebra de corais, poluição das águas por resíduos de combustível das embarcações

Por Jamerson Soares 31/01/2025 19h07 - Atualizado em 31/01/2025 20h08
Pesquisador da Ufal diz que festas e 'banho de lua' ameaçam a biodiversidade marinha
Festas noturnas e diurnas em praias de Alagoas ameaçam a biodiversidade marinha, segundo especialista - Foto: Reprodução

O professor e pesquisador da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), dr. Robson Santos, divulgou nesta sexta-feira (31) um alerta à população e às autoridades sobre as festas e os 'banhos de lua' realizados nas praias de Alagoas.

Segundo ele, as atividades de turismo, se não reguladas, geram impactos diretos aos recifes, como o pisoteio e quebra de corais, poluição das águas por resíduos de combustível das embarcações, plástico, poluição luminosa e sonora, dentre outras.

"A iluminação artificial intensa pode desorientar organismos marinhos, afetar o comportamento e reprodução de corais e pode atrair predadores para áreas onde normalmente não estariam. Música alta pode afetar a comunicação e comportamento de peixes e invertebrados, além de estressar organismos sensíveis, como algumas espécies de peixes e tartarugas marinhas que utilizam os recifes como local de descanso", explicou o professor.

O alerta foi divulgado após a publicação de um perfil no Instagram que promove festas e passeios noturnos nas praias de Maceió, especialmente para turistas.

Ainda de acordo com o pesquisador, o turismo depende de recifes de corais saudáveis e a promoção de festas nos ambientes recifais não está alinhada com práticas de turismo sustentável, comprometendo o próprio futuro das atividades de turismo.

"Um turismo desordenado e que não respeita as capacidades de suporte dos recifes compromete o seu próprio futuro. Isso é especialmente verdade quando estamos passando por uma crise global dos recifes de coral, devido a degradação costeira e aos eventos de aumento da temperatura das águas ligados às mudanças climáticas", pontuou.

Ele também citou um dado sobre o percentual da mortalidade dos corais em grande parte dos recifes rasos monitorados por cientistas. "Em Alagoas, por exemplo, devido ao evento de elevação da temperatura, no ano passado nós tivemos mortalidade de 80-90% dos corais. Essas atividades desordenadas associadas a atual crise climática, cria um ambiente completamente desfavorável a manutenção da saúde dos recifes de coral nos próximos anos."

Alternativas

Para o pesquisador, há atividades alternativas de baixo custo de turismo noturno que poderiam ser exploradas, como os passeios de Stand-Up Paddle ou caiaque, sem o uso de iluminação intensa e ancoragem nos recifes, com guias treinados e em rotas seguras e pré-definidas.

"Experiências como essas são de baixo impacto, podem promover uma maior conexão com a natureza, promovendo uma experiência imersiva e educativa, ao mesmo tempo que geram renda", frisou o professor dr. Robson Santos.

Ele finalizou dizendo que festas diurnas ou noturnas promovidas em cima dos ambientes recifais estão em total desacordo com práticas sustentáveis, pois comprometem a própria manutenção das atividades de turismo.

"Sem um recife saudável, grande parte do turismo costeiro de Alagoas será perdido. A degradação dos ecossistemas recifais, além de significarem uma imensurável perda à biodiversidade, também levam a perda de emprego, renda e modo de vida dos pescadores artesanais", concluiu.