Na contramão ao crescente uso da inteligência artificial para a criação de imagens, projetos de ilustração apoiados pelo Governo de Alagoas, através da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), têm se destacado na valorização dos artistas locais. Entre eles, está o "Maceió Ilustrada", do ilustrador alagoano Nycollas Constantino, que trouxe um novo olhar sobre a capital alagoana, transformando locais da cidade em arte.

Com traços cheios de personalidade e uma paleta que transmite aconchego, o artista recriou, em uma série de 32 cartões postais, cenários icônicos da cidade de um jeito único. Entre os locais escolhidos estão o Museu Palácio Floriano Peixoto, a Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos, o Museu da Imagem e do Som de Alagoas, a Praia da Sereia, a Orla, o Centro de Maceió e o bairro de Jaraguá.

Para a secretária de Estado da Cultura e Economia Criativa, Mellina Freitas, iniciativas como essas são fundamentais para a preservação da identidade cultural e valorização dos artistas locais. “Em tempos de inteligência artificial, ver um artista local trazendo sua visão com tanto carinho e identidade é inspirador. Ele mostra que viver da arte é possível e que nossos ilustradores merecem todo reconhecimento”, afirmou a secretária.

O projeto foi realizado com recurso da Lei Paulo Gustavo, do Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura, operacionalizado pelo Governo de Alagoas, através da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa.

A inspiração por trás do projeto

Nycollas Constantino explica que a ideia do "Maceió Ilustrada" surgiu há alguns anos, a partir do desejo de retratar a cidade através de suas ilustrações. “Queria retratar a cidade, principalmente os lugares corriqueiros, mas faltava tempo. Trabalhar com arte nem sempre é fazer o que quer. Quando surgiu a oportunidade através do edital, vi que a ideia se encaixava nele e decidi me inscrever para finalmente trazer esse projeto ao mundo”, conta o artista.

Com um olhar lúdico sobre o cotidiano, o ilustrador buscou capturar detalhes que, muitas vezes, passam despercebidos. “Na correria, passamos por tantos locais sem prestar atenção nos detalhes. Eu gosto de detalhes, eles moldam a paisagem: a fiação nos postes, o trânsito, as pessoas circulando, a poeira, a luz, as sombras. Eles ajudam a contar uma história, sabe?”, reflete.

A seleção dos locais ilustrados seguiu um critério baseado na memória popular. “O critério foi por relevância na memória popular, locais frequentados pelo povo e não apenas pelos turistas, mas ao mesmo tempo sem excluir esses locais”, explica.

Sobre a identidade visual do projeto, Nycollas define como "lúdico, corriqueiro, locais reais e nostálgicos". Ele destaca ainda que buscou manter essa sensação até no selo da logo do projeto, trazendo rabiscos e traços feitos à mão para reforçar o aspecto nostálgico.

O impacto da inteligência artificial na ilustração

A discussão sobre inteligência artificial na arte é um tema presente na visão de Nycollas, que observa o impacto negativo da tecnologia para a categoria. “Definir “arte” já era controverso, e ilustração é um termo guarda-chuva para várias profissões, e uma delas como a de “Concept Artist” ou “Artista conceitual”, por exemplo, foi a que mais sofreu o impacto, pois para acelerar o processo algumas empresas de entretenimento eliminaram esse cargo por uma I.A., diminuindo o número de vagas formais”, analisa.

Embora reconheça o potencial da IA como ferramenta auxiliar, o artista critica seu uso como substituição de mão de obra humana. “Ela cria um Frankenstein, apropriando (sem autorização) de pedaços de vários artistas e montando algo genérico. Usar minha arte nela seria a alimentar. Já pesquisei e testei para ter uma crítica mais fundamentada da tecnologia, mas não pretendo utilizar no meu trabalho e espero não ser condicionado a isso no futuro”, pontua.

O artista também alerta para o impacto da IA no mercado de trabalho. “Arte manual ficou mais cara, 'valorizada', virou luxo. Mas quem pode bancar esse luxo? Qual artista não famoso tem contatos para chegar até as pessoas que podem bancar financeiramente por isso? Empresas de entretenimento podem bancar, mas preferem reduzir custos eliminando cargos humanos por IA”.

Valorizando a arte e os artistas locais

O projeto "Maceió Ilustrada" também se destaca pelo fortalecimento da cena artística local. Para Nycollas, iniciativas como essa ajudam a manter viva a produção cultural. “O meio artístico é em sua maioria de retirantes, migrando a cidades maiores para tentar sobreviver da arte. Apesar de não ser suficiente para resolver o problema, esses incentivos são uma forma de manter viva a produção cultural local”, disse.

Aos novos ilustradores, ele deixa um conselho. “Socialize! Explore! O artista tende a ser recluso, mas em reclusão a gente não explora o mundo para melhor traduzi-lo em arte. Aprenda observando o geral e os detalhes, tente ver além da lente inicial, as diferentes formas de ver o mundo deixam o universo da arte mais viva”.

Sobre o futuro do projeto, ele revela planos de continuar explorando a cidade de forma ilustrada, mas sem previsão de lançar novos cartões postais. “Pretendo continuar explorando nosso cotidiano de forma ilustrada, não sei se exatamente em cartões postais. Mas sim outras maneiras”, finaliza.

Para acompanhar o trabalho do ilustrador, os interessados podem visitar o perfil do Instagram clicando AQUI.