Zé Ricardo e Thiago superam crise com DVD "fiado" e ajuda de amigos
Formada em Goiânia em 2010, dupla esteve entre as mais tocadas do Brasil em 2012, mas passou dificuldades no cenário ao escolher a independência
O sertanejo vive um dos melhores momentos na história do gênero. Mas é exatamente esse destaque como a música mais tocada do País que faz com que o segmento também seja um dos mais concorridos. Manter o sucesso é uma fórmula que depende de uma mistura de sorte, investimentos altos, parcerias e a oportunidade de emplacar a música certa no momento certo. O que obviamente não é um caminho fácil.
Juntos desde 2010, Zé Ricardo e Thiago experimentaram um pouco de cada elemento necessário para isso nos últimos 8 anos. Apadrinhados por Cristiano Araújo, a dupla teve a chance tanto de integrar o escritório Talismã, de Leonardo, logo no início da carreira, como conhecer a dificuldade de ser um artista independente depois de ter atingido o sucesso nas rádios e circuitos de shows.
Hoje, já não existe mais nenhuma etapa do circuito de altos e baixos do mercado que eles não tenham conhecido de perto. Se em 2012 eles comemoravam o fato da música Sinal Disfarçado ficar entre as mais tocadas do país e ser a 4ª mais vendida no iTunes, seis anos depois a realidade é bem diferente.
Após romper amigavelmente a parceria com Leonardo há dois anos, a dupla admite que enfrentou dificuldades para reencontrar a mesma agenda de shows do passado e viu o alcance do lançamento de novas faixas diminuir. O que é normal quando o artista deixa para trás uma estrutura enorme que trabalha como nomes como do próprio dono e Eduardo Costa e migra para uma realidade de independência e que ainda exige administração da própria carreira. Thiago garante que ele e Zé Ricardo entenderam isso da melhor forma: tentando.
— Nós pensamos que seria simples ser artista e ainda administrar um escritório, só que não é bem assim. É uma ilusão que se tem sobre isso. Quando o artista é gigante, é mais fácil, só que não temos esse status e tivemos que aprender na prática as limitações do modelo.
Novo DVD
Cachês mais baixos e uma dificuldade para gravar um novo DVD foram alguns dos percalços que eles enfrentaram. Mas a experiência também serviu para mostrar a força dos contatos e amizade no sertanejo. Empréstimos de equipamentos e até parcelamento para aluguel de telões e parte cenográfica viabilizaram o projeto filmado no início deste ano no Atlanta Music Hall, em Goiânia.
— Fizemos tudo na base da amizade e do "fiado". Alguns contratantes compraram shows nossos à vista, em vez de dividir em duas parcelas (uma no ato da compra e outra, no dia da apresentação). Isso adiantou uma grana em caixa para gravar o DVD. E, além disso, contamos com a compreensão de muitos fornecedores, que nos deixaram parcelar os alugueis da estrutura. Faltando dez dias pro evento, ainda não tínhamos todo dinheiro, mas o nosso novo empresário apareceu para fechar o orçamento.
O resultado foi o DVD Ter Amigos É Melhor Que Ter Dinheiro, cujo título é autoexplicativo. Inclusive, foram os amigos Zé Neto e Cristiano, em participação no single Quem é Seu Favorito?, e Maiara e Maraisa, em Muito Papo e Pouco Beijo, que emprestaram a força que os nomes deles têm na atualidade para ajudar a divulgar o projeto.
— Todo mundo que era nosso amigo se mobilizou para ajudar. Cesar Menotti e Fabiano estavam de férias, mas abriram mão para participar. Isso foi um exemplo de como o sertanejo é unido. Mas se o DVD desse errado, era aquilo: dívida pro resto da vida. Isso é algo que poucos comentam, mas, às vezes, o artista até consegue gravar, porém falta verba para divulgar e distribuir depois.
Sem temer o eventual fracasso de um novo projeto ao vivo após enfrentar esse veradeiro desafio, a dupla anunciou que em 17 de setembro já gravará um novo DVD, com partcipações especiais também. Aliás, um dos nomes cotados é o de Leonardo, antigo "patrão" dos dois. A ideia é provar que o desligamento da Talismã foi amigável e que não ficou mágoa de nenhuma das partes.
— Saímos de forma tranquila e isso demonstrou que deixamos as portas abertas no mercado. O sertanejo só é grande hoje por conta dessas parcerias. O funk só cresceu tanto nos últimos anos pelo mesmo motivo. Estilos que não estão em alta hoje não entenderam que se unir é mais proveitoso do que se separar.