Globo corta cena de gordofobia em Avenida Brasil
Emissora decidiu retirar trecho em que Carminha chama Ágata de "bujãozinho" e "monstrinho" e explicou que ajustes são normais para readequar tramas aos horários de reexibição
Cenas de gordofobia entre Carmina, interpretada por Adriana Esteves, e a filha Ágata, papel da atriz Ana Karolina Lannes, retiradas pela Rede Globo dos capítulos de Avenida Brasil. A emissora explica que se trata de ajuste padrão para readequar a trama ao horário de exibição - em 2012, passava no horário nobre, às 21h.
A reprise no Vale a Pena Ver de Novo, que começa por volta das 16h30, tem mobilizado internautas no Twitter. Diariamente, a hashtag #oioioi, em referência à música tema da abertura, Vem dançar com tudo, está entre as trending topics na rede social. Mas os fãs têm reparado que há trechos sendo retirados na reexibição.
Há até noveleiros de plantão inconformados com os cortes que sugerem mudanças no horário da trama.
Tem também internauta comparando o tempo de duração da novela, que originalmente foi de 7 meses - de março a outubro -, e dizendo que, com tantos ajustes feitos pela TV Globo, Avenida Brasil em Vale a Pena Ver de Novo vai durar penas 5 meses.
E ainda ironiza os trechos censurados, mencionando um dos mais famosos da novela, quando a vilã Carminha enterra a adversária Nina (Débora Fallabela).
Tema delicado
Uma das cenas que foi vetada pela Globo entre Carminha e a filha Ágata tratava-se de uma repreensão da mãe, em que ela chamava a menina de “bujãozinho” e “monstrinho”.
Ao se deparar com Ágata no corredor, Carminha se assusta e, na versão original, diz: “Meu divino Espírito Santo! Mas o que é isso, uma assombração no meio da noite?”, ao que a filha se desculpa, escondendo algo nas costas. Irritada, porque a menina desconversa, a mãe dispara: “Sorvete, Ágata? Cinco mil calorias! Você sabe o que isso representa? Que você vai ficar um bujãozinho que nem a sua tia [Ivana, representada por Letícia Isnard]. Só que ela tem personalidade, carisma, e nem isso você tem.”
Ágata tenta mais uma vez falar: “Eu vou jogar fora”. Mas a megera pega o sorvete e humilha a menina. “Então me dá isso aqui. Você vai é deitar, que eu já disse que eu não quero ver você acordada depois das dez que estraga a pele. Você quer virar um monstrinho, não quer? Vai dormir!”. Ágata anda chorando até o quarto.
Ao UOL, a Globo respondeu: “Todos os conteúdos, quando produzidos originalmente para outros horários, podem passar por ajustes e adequações ao serem reexibidos, sempre com o cuidado de não comprometer a essência da obra e das tramas abordadas”.
Autoaceitação
Sete anos após a exibição da trama, o assunto segue em alta. A atriz Preta Gil já recebeu inúmeras críticas por divulgar fotos de seu corpo e, volta e meia, cresce o tom contra os gordofóbicos de plantão. “Tenho que falar sobre isso muitas vezes, sim. É chato? Pra mim não, mas pra você que é gordofóbico, talvez seja”, exclamou em um post em junho.
No início do mês, em uma campanha publicitária para uma marca de lingerie que também postou em sua rede social, Preta mais uma vez falou de aceitação e estereótipos: “Poder falar abertamente sobre desconstrução dos padrões de beleza, nossa relação com o corpo e a sensualidade pelo ponto de vista da mulher é um grande prazer”, escreveu. Voltou a ter a maioria de comentários elogiosos, mas sempre acontece de aparecer alguma crítica.
“Só não consigo entender pra q essa exposição me desculpe, mas mulher empoderada não precisa mostrar a bunda ....não vai não adianta e não é nada com a Preta é com todas as mulheres”, registrou uma seguidora da cantora.
Em setembro, foi a vez da estrela pop Demi Lovato deixar de ter vergonha do próprio corpo e compartilhar em seu Instagram uma foto em celebração do “Dia Nacional da Celulite” com uma legenda sobre sua busca pela auto-aceitação.
“Estou literalmente muuuito cansada de ter vergonha do meu corpo”, escreveu Lovato, observando que ela já havia compartilhado fotos editadas de si mesma na rede social.
“Foi isso que eu consegui. Eu quero que esse novo capítulo da minha vida seja sobre ser autêntica com quem eu sou, em vez de tentar atender aos padrões de outra pessoa”, continuou ela. “Então, aqui estou eu, sem vergonha, sem medo e orgulhosa de possuir um corpo que lutou tanto e continuará a me surpreender quando der à luz um dia.”
O padrão social imposto faz inúmeras pessoas correrem atrás do corpo perfeito desesperadamente e, muitas vezes, até com apoio de médico que receitam remédio para emagrecer, gera-se um adoecimento emocional. “Medo das pessoas me descartarem por causa do tamanho”, como relata a jornalista Fabrina Martinez.