Reserva à beira-mar preserva patrimônio natural da Mata Atlântica em Japaratinga
Recém-inaugurada, a Reserva da Bica se configura como nova opção de turismo sustentável
Com a abertura para visitação da recém-inaugurada Reserva da Bica, o município de Japaratinga ganhou mais um atrativo que incrementa e diversifica a experiência turística na região da Costa dos Corais. Na última quarta-feira (6), o Governo de Alagoas visitou a unidade de conservação situada no povoado Barreiras do Boqueirão.
Encravada na franja verdejante que emoldura a paisagem de uma das mais aclamadas praias do Litoral Norte do Estado, o sítio possui 200 metros de extensão à beira-mar e distende-se por dois quilômetros vale adentro – da cobertura total de 18 hectares (o equivalente a 18 campos de futebol), cinco são exclusivos para a área de proteção ambiental que, em 2019, recebeu o título de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
Do alto de seus dois mirantes, um deles a 70 metros de altitude, a vista é de cartão-postal. A retina paralisa diante do retrato estonteante – autêntico paraíso tropical. Esqueça os clichês: a mais suntuosa enseada das praias de Japaratinga capricha em mostrar que a vida vale a pena. É o lugar certo, na hora certa. Sempre.
De início, ao percorrer uma trilha leve e relativamente curta (entre 10 e 15 minutos de duração), o visitante logo se depara com espécies da chamada Mata Atlântica de Tabuleiro. A cobertura vegetal recebe forragem e floração de plantas e árvores como cajueiro brabo, barbatimão, ouricuri, araçá, mangabeira e murici, além de orquídeas, bromélias e até um raro exemplar de massaranduba, entre muitas outras.
Se der sorte, o turista vai saborear a mangaba fresquinha ou até arriscar algo mais exótico, como a cajarana-de-macaco, cuja semente molhadinha e felpuda equilibra doçura, acidez e leve amargor como você talvez nunca tenha experimentado.
Pouco adiante, a contemplação da paisagem entorpece corpo e a alma no Mirante das Falésias. Mais abaixo, no Mirante das Tartarugas, a maré alta pode trazer exemplares das cascudas em busca de alimento no entorno dos arrecifes.
De volta ao coração da reserva, além de abundante variedade de pássaros, outras espécies de animais silvestres já foram avistadas. Tem cotia, tatu, raposa, gato-do-mato, tejo e papa-mel. Num galho de araçá, os vincos talhados denunciam a passagem recente de um gato-do-mato, que utilizou a árvore para afiar as garras.
Unidades de conservação
Como se percebe, a natureza viva e preservada da Reserva da Bica remete à ancestralidade de um lugar, mas, como o acesso ao público teve início no último dia 23 de dezembro, pode-se dizer, sem trocadilho, que se trata de localidade novinha em folha.
A ideia de separar um pedaço da propriedade familiar em RPPN foi da bióloga Flávia Moura, ativista ambiental, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). O pequeno pedaço do Éden não poderia estar sob melhores cuidados.
“Transformar parte do sítio em área de preservação é uma forma de utilizá-lo sem degradá-lo”, explica Flávia Moura. “Uma vez que os impactos foram e vão sendo retirados, espero que a área se torne cada vez mais conservada. E que a gente consiga sensibilizar mais pessoas que promovam a preservação ao criar unidades de conservação em suas terras”, revela.
O antigo Sítio Bica, onde se encontra a unidade de conservação, foi adquirido por seu avô, no início dos anos 1950. O local é histórico para a cidade. Uma das nascentes que brota de suas terras é o lendário vertedouro Bica dos Homens, que no passado servia de banho para a população.
Ao lado de Flávia, o estudante de biologia Eládio Pereira responde pela administração da reserva. Encantou-se tanto com o lugar a ponto de morar numa casa construída na área do sítio. Ele confirma que há planos para aprimorar a experiência para os visitantes.
Além de melhorias na acessibilidade, os gestores pretendem instalar área de camping, delimitar espaços para a venda de itens produzidos por artistas e artesãos da região, agregar iniciativas de produção agroecológica e firmar convênios com escolas para realizar visitas educativas que combinam informações da natureza com a história e a cultural da região.
Do alto do mirante, ao fitar o farol de Porto de Pedras e a foz do rio Manguaba, que traça o limite com o município vizinho, Flávia Moura vislumbra um futuro próximo em que a reserva entrará em definitivo no roteiro do turismo sustentável de Alagoas.
“Outro tipo de turismo, que não seja de grande impacto, associado a atividades tradicionalmente realizadas pela população da região, como a produção do doce de caju, o extrativismo da mangaba de forma sustentável e a utilização do ouricuri para o artesanato”, exemplifica a bióloga, em mais uma prova de que desfrutar das belezas naturais do estado pode ir além do mar e do sol, e incluir a contemplação de ecossistemas aliada a conhecimentos histórico-culturais e à valorização da sustentabilidade econômica local.
A Reserva da Bica funciona entre quinta e segunda-feira, das 7h30 às 11h e das 14h às 17h (com entrada permitida até as 16h30). O ingresso custa R$ 10 por pessoa (crianças menores de 12 anos não pagam) e o valor é utilizado para fins de manutenção da área verde. Para grupos maiores, recomenda-se o agendamento via whatsapp no número (82) 99415-7246 ou pelo perfil @reservadabica_ no Instagram.