Pesquisa investiga processo de acidificação costeira na Costa dos Corais
O estudo avalia alterações na química da água do mar, eutrofização nos recifes e branqueamento dos corais, com resultados que podem auxiliar gestores em tomadas de decisão
Atrair e fixar estudiosos de alto nível, este tem sido o norte da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) em um de seus recentes editais. O Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (PDCTR) apoia jovens doutores que desejam desenvolver análises significativas na região, e um desses estudos foi o trabalho que investiga a contribuição dos estuários no processo de acidificação costeira e seus impactos nos recifes na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais.
Desenvolvido por Bárbara Pinheiro, o projeto verifica alguns dos efeitos provocados pelas mudanças climáticas no ambiente costeiro-marinho, o principal estudado por ela seria: a elevação da temperatura superficial do mar. Este elemento provoca um fenômeno chamado de branqueamento, onde os corais e outros invertebrados marinhos ficam com uma “febre” por conta das águas quentes. Assim eles perdem as algas que vivem em seus tecidos que são responsáveis por dar alimento e a cor desses animais.
Outra característica das mudanças climáticas é uma alteração na química da água do mar. A pesquisadora explica que as atividades humanas liberam grandes parcelas de gás carbônico (CO2) para a atmosfera, e ao interagir com a água do mar ele acaba causando um processo chamado acidificação do oceano. O resultado predominante está na diminuição da disponibilidade de substâncias, como o carbonato de cálcio, para que animais como corais, moluscos e crustáceos formem seus esqueletos e carapaças.
No entanto, na região costeira, que recebe diretamente as águas dos rios, esse processo pode ser ainda mais intenso. Isto ocorre porque hoje a maioria deles está muito poluído, cheio de nutrientes e de matéria orgânica, o que modifica ainda mais a química da água do mar.
“A nossa pesquisa é realizada na maior unidade de conservação costeiro-marinha do Brasil, a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC), que fica entre o sul de Pernambuco e o Norte de Alagoas, e têm entre outros objetivos, a conservação dos ambientes recifais (piscinas naturais), os manguezais, o peixe-boi e garantir que as principais atividades econômicas da região (a pesca artesanal e o turismo) sejam feitas de forma sustentável”, ressaltou Pinheiro.
O estudo está sendo conduzido na Barra de Santo Antônio e investiga os impactos específicos nos recifes do entorno da desembocadura do rio nessa região. Isso inclui a análise da extensão da acidificação, as principais fontes – como descargas dos rios –, as interações entre os estuários e os recifes e a avaliação dos efeitos dessa mudança da química da água sobre a biodiversidade marinha desse local.
Atividades desenvolvidas
Bárbara Pinheiro contextualiza que tem trabalhado junto ao Programa Ecológico de Longa Duração da Costa dos Corais Alagoana (PELD CCAL) na coleta de amostras de água do rio Santo Antônio Grande, do mar, e do local onde eles se misturam para obtenção de parâmetros físicos e químicos. “Começamos as coletas que são divididas entre os períodos chuvosos e secos, e elas vão até o final de 2024. Então as levamos para o laboratório a fim de fazer as análises químicas e analisarmos os dados obtidos”.
Esses resultados também são incluídos numa planilha base que fica disponibilizada para os pesquisadores do PELD CCAL e para os gestores e analistas ambientais. Além disso, o grupo também realiza algumas atividades de divulgação científica, como o evento PELD CCAL é Comunidade, onde junto com outros cientistas da equipe os dados são apresentados para a população. Eles são expostos de forma simples e prática para evidenciar como o trabalho desenvolvido ajuda os tomadores de decisão e a própria população a saberem se o ambiente está conservado ou passando por algum processo impactante.
Até o momento já foram realizados eventos deste segmento nos municípios de Maragogi, Porto de Pedras e Paripueira.
Contribuição da Fapeal
Ao abordar o apoio concedido pelo PDCTR a estudiosa cita que o edital foi de extrema importância para a sua fixação em Alagoas. Atualmente, ela está colaborando ativamente com dois programas de pós-graduação da Ufal, o Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento (PPGRHS) e o Programa de Pós- Graduação em Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos (PPGDIBICT), além de promover a interação com pesquisadores do departamento de Oceanografia da UFPE.
“O financiamento oportunizado pela Fapeal cobre os gastos com a ida a campo para coleta de dados, mas também possui uma contribuição social através do pagamento do apoio logístico da embarcação para a coleta, que é feita por um pescador da comunidade tradicional da Barra de Santo Antônio”, explicou Bárbara Pinheiro.
Já as análises das amostras retiradas são possíveis de serem produzidas através de outra colaboração existente com o PELD CCAL – que também é financiado pela Fapeal – e o PPG de Oceanografia da UFPE. Essas parcerias entre os PPGs são extremamente positivas, pois permitem a interação e o treinamento de pesquisadores de diferentes áreas, auxiliando igualmente na produção de publicações que contribuirão para as avaliações dos respectivos programas.
“A economia da região do estudo é fortemente dependente do turismo e da pesca artesanal nos ambientes costeiros (piscinas naturais, manguezal, praias, bancos de areia). Nossa pesquisa permite a avaliação dos impactos da mudança na química da água do mar, como o processo de acidificação costeira e eutrofização (excesso de nutrientes) nos recifes da região, incluindo a saúde dos corais, a biodiversidade associada e a produtividade dos ecossistemas, ou seja, a quantidade e qualidade de peixes, mariscos, lagostas, siris, aratus, caranguejos, ostras etc”, completou a pesquisadora.
A partir dos dados estruturados, a acadêmica espera que eles possam futuramente auxiliar os gestores da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC), os comitês de bacia hidrográfica e órgãos ambientais do município, do estado e da Federação. Essas informações robustas têm o poder de ajudá-los a definirem prioridades e atividades que causem menos impactos e contribuam com a conservação do ambiente e a qualidade dos bens e serviços oferecidos na região.