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Farra do INSS: presidente de ONG já foi preso por organização criminosa

Abraão Lincoln Ferreira da Cruz também chegou a ser preso pela CPMI do INSS, em novembro, por falso testemunho. Ele preside a CBPA

Por Metrópoles 16/12/2025 09h09
Farra do INSS: presidente de ONG já foi preso por organização criminosa
Ele é citado como líder da organização criminosa que atuava junto ao extinto Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) - Foto: Metrópoles

Sediada em uma sala de 35 m² no Setor Bancário Sul, em Brasília, a Confederação Brasileira dos Trabalhadores de Pesca e Aquicultura (CBPA) – uma das associações investigadas por faturar R$ 221,8 milhões na Farra do INSS – tem como presidente um aposentado que já foi preso sob acusação de liderar organização criminosa na capital da República.

Em 2015, Abraão Lincoln Ferreira da Cruz foi um dos 18 alvos da Operação Enredados, deflagrada pela Polícia Federal (PF). À época, a investigação revelou esquema de crimes ambientais e contra a administração pública com ramificações em diversos estados, cuja sede era em Brasília.

A prisão preventiva de Abraão foi decretada em 14 de outubro de 2015. No documento, ele é citado como líder da organização criminosa que atuava junto ao extinto Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). As acusações formais imputadas a Abraão incluíam corrupção ativa, crimes contra o meio ambiente, emissão de autorização em desacordo com as normas ambientais e crimes praticados por particular contra a administração.

Segundo a operação, Abraão agia na liderança do grupo, juntamente com outros indivíduos, para obter atos administrativos ilícitos junto ao MPA. As ações incluíam emissão de licença para a venda de arraias com finalidade ornamental e ampliação da capacidade de estocagem desses animais por empresas laranjas.

Após solicitação da defesa, o presidente da CBPA foi solto em janeiro de 2016. O processo ainda tramita na Justiça.

Quatro anos depois, em 2020, Abraão se tornou réu novamente em ação penal. Desta vez, foi denunciado na Justiça eleitoral por falsidade ideológica.

Segundo o processo, ao qual o Metrópoles teve acesso, o presidente da CBPA teria recebido valores que não foram declarados em sua prestação de contas quando concorreu ao cargo de deputado federal, no ano de 2014.

Abraão Lincoln Ferreira da Cruz, de acordo com a ação, teria utilizado contas bancárias de terceiros, “com o objetivo de ocultar valores supostamente empregados na campanha eleitoral”, conduta comumente conhecida como “caixa dois”.

A investigação eleitoral teve início após desdobramento da Operação Enredados. Inicialmente voltada para apurar crimes ambientais e de lavagem de capitais no setor pesqueiro, a força-tarefa da PF também acabou revelando elementos que apontavam para a prática de ilícitos eleitorais.

O presidente da CBPA foi condenado em agosto de 2025. Ele ainda pode recorrer da decisão.

Prisão do presidente

Em 4 de novembro deste ano, Abraão chegou a ser preso pela CPMI do INSS sob a acusação de falso testemunho.

Na data, o sindicalista teria mentido sobre conhecer o tesoureiro da CBPA, Gabriel Negreiros – que é padrinho de um neto dele. Ao longo da sessão, o deputado federal Duarte Jr. (PSB-MA) apresentou uma foto do batizado da criança e também afirmou que Abraão Lincoln depositou R$ 5 milhões em uma conta de Negreiros.

“Ele (Abraão Lincoln) chama de relação institucional depositar R$ 5 milhões na conta do Gabriel Negreiros, que nada mais é do que padrinho do neto dele. Ele ser padrinho do seu neto é relação institucional?”, questionou Duarte Jr.

Após ser pressionado pelo deputado, Abraão Lincoln disse que se confundiu ao responder o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar, a respeito da relação com Negreiros. Segundo a comissão, Abraão também teria mentido em outros quatro momentos.

Na mesma data, o presidente da CBPA pagou fiança e foi liberado.