Saúde

Drama : adolescente fica 8 anos sem conseguir abrir a boca

Por 7 Segundos 17/11/2014 07h07
Drama : adolescente  fica 8 anos sem conseguir abrir a boca
Jeanine Cristina e a mãe dela, Cícera Maria - Foto: 7 Segundos

Aos 7 anos de idade Jeanine Cristina Oliveira era uma criança como todas as outras, brincava, corria, estudava. Vivia com a mãe, o pai e os irmãos na tranquila cidade de Porto Calvo, região norte de Alagoas.

O drama da família começou quando Jeanine Cristina, após extrair um dente de leite começou a sentir dores e ter febre. Ela foi medicada e os sintomas desapareceram, mas Cícera Maria de Oliveira, mãe de Jeanine, percebeu que a boca da filha estava apresentando um formado diferente .

“Minha filha começou a sentir dificuldades de abrir a boca. Levei ela pra vários médicos lá em Porto Calvo e ninguém conseguia dizer o que estava acontecendo ” informou a mãe.

Da unidade hospitalar de Porto Calvo a paciente foi encaminhada para Maceió. Mesmo assim ninguém apontava um diagnóstico que pudesse resolver o problema da garota que já não conseguia se alimentar corretamente devido a dificuldade de movimentar o maxilar.

Peregrinação, sofrimento e persistência

Dos 7 aos 15 anos Jeanine e a mãe vivenciaram uma verdadeira Via Crucis, de hospital em hospital, tentando encontrar uma solução para o problema que a cada dia se agravava mais. E tudo se tornava mais difícil, porque sem condições de pagar transporte para se deslocar para a capital, elas dependiam do carro da prefeitura de Porto Calvo, que muitas vezes não estava disponível quando era preciso. “ Uma vez eu tive uma crise de choro e de stress lá na secretária municipal de saúde. Porque milha filha precisava comparecer a uma consulta e o carro não estava escalado para viajar naquele dia, foi muito sofrimento ”, relatou a mãe.

Consequência na adolescência

Aos 12 anos com os dentes cerrados sem conseguir articular as mandíbulas Jeanine evitava falar e se tornou uma adolescente muito introspectiva. A maior dificuldade era para se alimentar. Ela tinha que cortar os alimentos em pedaços minúsculos e lentamente ia colocando entre os dentes .

Jeanine afirma que na escola as pessoas ficavam olhando e não entendiam porque ela se alimentava daquela forma. “Alguns alunos riam de mim e eu ficava muito triste. Teve uma época que eu não queria mais estudar, me sentia estranha, diferente das pessoas” afirmou a adolescente.

Anjos

A mãe de Jeanine, Cícera Maria disse que uma dentista em Maceió informou que o problema da paciente só seria resolvido com o procedimento cirúrgico e que o tratamento era muito caro.

“Fui orientada a procurar o Ministério Público, mas podia levar cerca de três anos ou mais anos para conseguir na justiça, a operação para minha filha. Fiquei ainda mais desesperada, chorava dia e noite, mas nunca pensei em desistir, de procurar uma solução”, falou emocionada Cícera Maria.

Somente no ano passado quando Jeanine Cristina estava com 14 anos, finalmente surgiu uma luz no fim do túnel. A mãe da adolescente relata que o coordenador bucal da equipe do PSF de Porto Calvo, Dr. Adelson, percebendo que seria quase impossível conseguir o tratamento pelo setor público e sensibilizado com o sofrimento da mãe e filha que já durava 8 anos, encaminhou a paciente para uma amiga em Maceió que poderia ajudar a solucionar o caso.

Jeanine Crstina foi avaliada em Maceío pela Dra. Sonia Maria Soares que a encaminhou para outro médico amigo, o bucomaxilofacial Milkle Pessoa. Foi a partir da sensibilidade e solidariedade desses três profissionais que finalmente Jeanine Cristina iria poder abrir a boca e ter uma qualidade de vida saudável.

“ Dr. Adelson, Dra. Sonia e Dr. Milkle foram anjos que Deus enviou nas nossas vidas. Se eles não tivessem dado o primeiro passo e agido com o coração , o sofrimento de minha filha ainda não teria acabado” afirmou a mãe de Jeanine.

Patologia

O bucomaxilofacial Milkle Pessoa, explica que Jeanine apresentava uma formação óssea no lugar onde existe a movimentação da mandíbula , que é o único osso móvel da face. Essa formação óssea irregular é chamada de Anquilose da Articulação Têmporo-Mandibular.

De acordo com o profissional as causas para o surgimento dessa formação óssea irregular podem ser traumas na face, processos infecciosos e degenerativos, doenças inflamatórias e iatrogenias que são complicações causadas decorrentes de procedimento médicos.

As consequências para o paciente vão desde a limitação dos movimentos mandibulares levando a dificuldade de mastigação, deglutição e fala, higiene bucal precária surgindo cáries, evoluindo com dor, inflamação e infecções além da face ficar desfigurada (causando stress psicológico).

Rede de Solidariedade

Diante do histórico de sofrimento da paciente e da mãe que vinha travando uma luta incansável durante oito anos na tentativa de resolver o problema da filha, Dr. Mikle decidiu agir imediatamente. Ligou para sete colegas  e empresários do setor odontológico explicando para cada um deles, a situação da paciente e solicitando a ajuda no tratamento.

“Este tipo de procedimento cirúrgico é bastante caro, ultrapassando o valor de R$ 100 mil dependendo do tratamento escolhido. Para minha felicidade só recebi palavras de apoio, incentivo dos meus amigos e todos contribuíram para realizar o sonho de Jeanine Cristina de abrir a boca e ter uma vida normal.

No dia 26 de maio desse ano, a cirurgia para devolver os movimentos da mandíbula da paciente foi realizada no Hospital Chama, em Arapiraca, onde funciona o Serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial.

Além do Dr. Milkle Pessoa outros três cirurgiões bucomaxilofacial, um cirurgião geral e o anestesista participaram da cirurgia que durou cerca de 6 horas. No dia seguinte, após acordar, a paciente já estava abrindo a boca normalmente como não fazia nos últimos 8 anos.

“Pude observar e compartilhar da emoção daquele momento, olhando o brilho dos olhos da paciente e a felicidade estampada em sua face. Uma cena que eu jamais esquecerei” disse emocionado Dr. Milkle.

 

Agradecimento

Dr. Milkle afirmou que sem o trabalho em equipe e as parcerias estabelecidas para conseguir a realização de exames clínicos e o material usado durante a cirurgia, não seria possível finalizar o sofrimento da paciente.

"Fica aqui registrado meu agradecimento a Deus e a todos os profissionais pela enorme contribuição neste ato de solidariedade: Dr. Marcus Antonio Breda Junior, Dr. Luciano Schwartz Lessa Filho, Dr. Pedro Dantas Segundo, Dr.Nildomar Paulo de Aquino, Dr. Felippe Omena Rodrigues Lisboa, Dr. Bruno Cabús, Dr.Vinicius Machado e o empresário do segmento hospitalar Diogo Teothonio". finalizou o cirurgião bucomaxilofacial.