Religião

[Vídeo] A morte da Paixão de Cristo no Agreste de Alagoas

Por Laís Pita 12/04/2017 18h06
[Vídeo] A morte da Paixão de Cristo no Agreste de Alagoas
Espetáculo Paixão de Cristo - Foto: Cortesia

A Semana Santa teve início nesse domingo (09), quando é celebrada a entrada de Jesus em Jerusalém. A partir daí cada dia possui um significado bíblico e a grande expectativa é a Sexta-feira da Paixão, que relembra o dia em que Jesus Cristo é crucificado. Neste dia, é praticado o jejum e a abstinência da carne, em sinal da penitência e respeito pela morte do filho de Deus.

Este período religioso sempre foi muito esperado pela população do Agreste de Alagoas. Diversos municípios, a exemplo da cidade de Arapiraca e Craíbas, realizavam grandes espetáculos da Paixão de Cristo.

Lembranças

A empresária Maria Lúcia Pinheiro, 68 anos, conta que anualmente ia para o Morro Santo da Massaranduba, na Capital do Agreste, com sobrinhos e demais familiares, inclusive alguns que vinham da cidade de Recife, em Pernambuco.

“Todos os anos eu levava a família, as peças eram excelentes e os atores trabalhavam muito bem, mas isso é pequeno perto da preocupação que eu tenho”, contou a empresária. “A encenação da Paixão de Cristo era uma forma de despertar nas crianças e nos adolescentes o interesse em Deus e hoje, infelizmente, nem isso temos mais. As coisas boas vêm acabando e só ficam o que é ruim”, lamentou.

A empresária explica que diante do cenário turbulento que o mundo vive hoje, com a criminalidade e o uso de drogas crescendo a cada dia, ações religiosas se fazem necessárias. “Não é que a turma jovem não acredita em Deus, é pior que isso, ela é desacredita em religiões no geral”, lamentou. “Não existe mais a fé que eu tive ou ainda a que você teve [se referiu à jornalista], ficam pulando de galho em galho”.

Morro Santo

Uma equipe de Reportagem do 7 Segundos foi até o local onde era realizado o espetáculo Paixão de Cristo em Arapiraca, um lugar conhecido por religiosos de várias nações. Mas o espaço que antes era frequentado por milhões de pessoas, hoje está abandonado e guarda apenas recordações.

No vídeo produzido pela equipe do site, os moradores lamentam, de forma saudosa, o tempo em que o Morro era bastante visitado. “Era muito bom, muita gente visitava aqui, mas hoje em dia, morreu”, lamentou a agricultora Ana Maria. “Mesmo que não tivesse a peça, vinha muita gente. Hoje não sobe mais ninguém, este ano eu não sei nem se vai ter procissão”, disse Maria.

Ao caminhar pelo Morro, é possível ver o cenário que servia de palco para a encenação, a exemplo da sepultura de Jesus Cristo, que, apesar da estrutura permanecer intacta, para alcança-la é necessário fazer um caminho de difícil acesso por conta do mato grande e da vegetação espinhosa.

Confira no vídeo:

 

Justificativa

O 7 Segundos entrou em contato com a Associação dos Artistas da Massaranduba e a presidente Vanessa explicou que, após quase 20 anos de realização, por falta de apoio público a produção do evento ficou inviável.

Wagno Godez, que faz parte da Associação, esclareceu que o espetáculo nunca foi uma realização da Prefeitura de Arapiraca, a iniciativa era da Associação e o município, assim como outras empresas, apoiava. “O motivo é falta de recursos, não conseguimos mais os patrocínios que tínhamos, como o da Eletrobrás”, explicou.

Godez também disse que como a encenação em Arapiraca foi ficando menor e a da Cidade de Maria, localizada em Craíbas - a 20km de Arapiraca - cresceu, o projeto da Associação enfraqueceu definitivamente. “Sem falar nas pessoas que trabalhavam com a gente, que passaram a ir para a cidade vizinha, então percebemos que não adiantava insistir nesse projeto”.

Mas a grande surpresa deste ano é que o espetáculo teatral da Cidade de Maria, que nesses cinco anos sempre aconteceu nos três dias do feriado santo, só vai ser realizado em um dia, que é no próximo dia 14 de abril, às 19hrs. O deputado estadual Carimbão Junior (PHS), o grande incentivador desse projeto, afirmou, por telefone, que essa redução não é por questão financeira, mas por motivos logísticos.

Diante do que foi relatado, fica a pergunta, seria realmente a morte da Paixão de Cristo no Agreste de Alagoas?