Janot chama Joesley de bandido e diz não ter criminalizado a política
Essa foi a primeira entrevista de Janor após deixar o cargo de chefia da PGR.
O empresário Joesley Batista foi "mais esperto que ele mesmo", avalia o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. Em sua primeira entrevista após deixar o cargo, publicada nesta quarta-feira (20) pelo jornal "Correio Braziliense", o antecessor de Raquel Dodge --que assumiu o cargo na última segunda-feira (18)-- disse que, quando se faz acordo de colaboração, se "está negociando com bandido, bandi-dê-ó-dó".
Janot avalia sentir um "gosto amargo" por Joesley ter escondido fatos durante as tratativas de acordo. No começo do mês, ainda à frente da PGR (Procuradoria Geral da República), Janot informou que estava revisando o acerto e pediu a prisão do empresário ao STF (Supremo Tribunal Federal) em função de omissão de informações. Joesley, que se gravou falando sobre esquemas envolvendo o acordo, se entregou à Justiça em 10 de setembro.
"Eles esconderam fatos. Trouxeram 'A' mas não nos trouxeram 'B'. Porque não trouxeram "B", está contaminado todo o acordo. Só que o fato de ele não trazer o 'B' não influencia nem tangencia o 'A'. Não contamina. A rescisão me permite continuar usando a prova. Mas dá um gosto amargo, o sujeito [Joesley] não pulou o lado, continuou ao lado da bandidagem", avaliou Janot.
O acordo de colaboração com o grupo J&F, de Joesley Batista, é tido por Janot como uma "escolha de Sofia". "Eram crimes gravíssimos e em curso. Tomo conhecimento disso, vejo que tem indicativo de prova. Se eu não pego o material que eles tinham, eu não poderia investigar, eu teria que ficar quieto vendo esses crimes acontecerem ou então eu tinha que negociar a imunidade [pedida por Joesley]".
"O cara, porque é colaborador da Justiça, não deixa de ser bandido. As coisas têm que ser muito claras. A mesa de negociação é um lugar muito duro, um ringue mesmo", afirmou ao responder sobre se a prisão de Joesley trazia alívio ao MPF. Janot pediu a rescisão do o acordo de delação da JBS na semana passada, mas o STF ainda precisa avaliar.
Para Janot, as críticas que vêm sofrendo do presidente Michel Temer (PMDB), alvo de uma segunda denúncia por parte do ex-procurador, e seus defensores é uma "estratégia". "Quando o fato é chapado, quando o fato é mala voando, são R$ 51 milhões dentro de apartamento, gente carregando mala de dinheiro na rua de São Paulo, gravação dizendo 'tem que manter isso, viu?', há uma dificuldade natural para elaborar defesa técnica nesses questionamentos jurídicos. E uma das estratégias de defesa é tentar desconstruir a figura do acusador".
Ele, porém, diz acreditar que será difícil que a segunda denúncia seja liberada pela Câmara para ir ao Supremo, assim como aconteceu com a primeira denúncia. "Mas a solução política não me interessa. Tenho que fazer o meu trabalho". Janot nega que seja "perseguidor de político". "Não estou criminalizando a política, estou criminalizando bandido".
O ex-PGR também foi criticado por ter encontrado, em um bar de Brasília, um dos advogados de Joesley, Pierpaolo Bottini, um dia após ter pedido a prisão do cliente do defensor. "Vou àquele lugar todo sábado. Chego ali, tomo uma cerveja e vou embora para casa. A conversa não durou dez minutos, não falamos de trabalho, de nada disso. Falamos de cerveja. Aconselho passearem por lá, tem tudo quanto é cerveja artesanal".
Janot negou que a situação se compare à do encontro entre Temer e Joesley, à noite, fora da agenda oficial, no Palácio do Jaburu. "Meio-dia, em um lugar público, frequentado por um zilhão de pessoas?", questionou.
O ex-procurador diz que temeu pelo fim das investigações da Operação Lava Jatocom a morte do ministro do STF Teori Zavascki, em janeiro. Teori era relator das ações ligadas à operação no Supremo. Após a notícia, ele suspeitou de assassinato. "Mas a investigação foi feita por nós, pelo MPF, em Angra dos Reis, e estamos seguros de que foi acidente mesmo".
Janot, que agora vai tirar 20 dias de férias, acha normal que Dodge tenha trocado membros de sua equipe da Lava Jato na PGR. O que o ex-procurador não compreende é o motivo das trocas. "É claro que as pessoas têm que trabalhar com quem têm afinidade. Isso é normal. Eu me espantei porque havia ofício formal, com convite para que toda a equipe da Lava Jato continuasse. Existia um ato formal dela. Houve uma conversa com o pessoal da equipe, em que ela disse novamente que todos estavam convidados. Depois, ela começou a desconvidar".
O ex-PGR não esteve presente na posse de Dodge. A explicação, segundo ele, é simples: "na minha terra, se diz o seguinte: a gente não vai a festa sem convite. Quem vai em festa sem convite é penetra". Desde que assumiu a PGR, Dodge ainda não deu entrevista.
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