Polícia

Mais de mil pessoas caem em ‘conto do vigário’ por habilitação mais barata

Pessoas em outras cidades podem ter sido vítimas do golpe

Por 7Segundos 24/04/2018 13h01
Mais de mil pessoas caem em ‘conto do vigário’ por habilitação mais barata
Centenas de pessoas foram até a delegacia prestar queixa - Foto: 7Segundos

Parecia um ‘Negócio da China’, assim descreve o delegado Thiago Prado, o caso de estelionato formalizado por mais de cem pessoas na delegacia da cidade. O dono de uma empresa é acusado de oferecer desconto para efetivação da Carteira Nacional de Habilitação. O valor cobrado pela empresa, incluindo as taxas do Detran, variava, mas ficava em torno de R$ 880.

Prado explica que o valor é perto de 50% do valor médio cobrado pelas autoescolas para a conclusão de todo o processo, até a emissão da CNH. “Ele ludibriava as pessoas, prometendo a CNH pelo custo de R$ 880, já incluindo taxas do Detran. Em uma autoescola esse valor chega a R$ 1.600. Parecia um Negócio da China, uma das modalidades do estelionato".

O delegado conta que atrás do superdesconto, as vítimas realizavam o pagamento, mas percebiam ao longo do tempo que o processo não evoluía, sem exames médicos, aulas ou outras etapas necessárias para a obtenção da CNH. “Quando perceberam que caíram em um golpe, o sujeito – que já foi identificado – fugiu de Arapiraca.

Thiago Prado explica que os funcionários procuraram a delegacia e se disseram também lesados, mas que isso ainda será averiguado e recai em outro processo. “Temos um grupo vítima de estelionato e outro grupo que envolve a possibilidade de funcionários e terceiros que podem ter sido lesados também. Muitas pessoas foram ouvidas. Vamos fazer um apurado e em segundo plano vamos tomar as medidas cabíveis para que o acusado seja responsabilizado criminalmente", esclarece o delegado.

Um homem que se identificou como Diogo Pereira diz ser uma das vítimas da empresa JC Realizando Sonhos. “Meu sonho era ter uma habilitação. O grupo JC apareceu com uma promoção boa, tinha CNPJ, farda, transmitiu ser uma empresa séria. Trouxe até o Tenente Emanuel Costa, da Lei Seca. A gente acreditou. Teve gente que pagou R$ 1.180, R$ 920, eu paguei R$ 700 e perdi esse dinheiro.

O 7Segundos conversou com o tenente Emanuel que nos esclareceu que o acusado chegou até ele durante uma blitz na cidade e solicitou as palestras dizendo se tratar de um Centro de Formação de Condutores (CFC). O tenente diz ter dado duas ou três palestras gratuitas, mas que ao perceber que não era um CFC não voltou mais ao local. O acusado teria usado a imagem do tenente para fazer novas vítimas. “Eu lamento pelo que aconteceu, vi naquele lugar pessoas humildes e felizes com o sonho ter uma CNH e aconteceu tudo isso no final”. Emanuel explica não ter nenhuma relação de amizade ou proximidade com o acusado e se diz também vítima da lábia do Grupo JC.

Para o golpe dar certo, algumas pessoas - que a polícia acredita terem sido escolhidas aleatoriamente - conseguiam tirar a habilitação. Isso ajudava na desfaçatez do golpe. Outros chegavam a fazer algumas aulas, mas a maior parte do grupo não chegou a iniciar as etapas necessárias.

O homem se identificou como José Cícero. Ele teria criado um grupo do WhatsApp e o conteúdo das conversas começou a levantar suspeitas. Desconfiadas, algumas pessoas pediram o dinheiro de volta e José Cícero começou a remover os integrantes do grupo, sumindo em seguida.

O delegado acredita que mais de mil pessoas podem ter sido vítimas do mesmo golpe que pode ter sido cometido em outras cidades.

Outro detalhe que chama atenção nas investigações é que o CNPJ usado pelo acusado, em nome de JC Batista dos Santos Informática, pertence a uma empresa de comércio varejista especializada em equipamentos e suprimentos de informática, sem qualquer relação com o serviço prometido pelo Grupo JC Realizando Sonhos.

O 7Segundos teve acesso com exclusividade a algumas conversas por aplicativo entre o acusado e suas vítimas, onde ele alega ser uma pessoa de bem e mostra um vídeo em que, supostamente, ele e esposa distribuem sopa para moradores de um lixão.