'Não somos o governo cubano', dizem médicos que querem ficar no Brasil
“Queremos esclarecer e lembrar ao Brasil que não somos o governo cubano”. É com esta frase que dezenas de médicos cubanos que atuam no Brasil – e aqui desejam permanecer – abrem uma carta endereçada ao “povo e à sociedade civil brasileira”.
O texto, o qual a reportagem do UOL teve acesso, ainda versa sobre questões como o preconceito da elite brasileira para com os médicos cubanos e reforça a competência dos profissionais, que são formados em “universidades reconhecidas internacionalmente até pelo próprio Brasil em tratados bilaterais”.
Segundo apurou a reportagem, o texto, que data do último sábado (1º), foi compartilhado em diversos grupos nas redes sociais, órgãos do governo e políticos, como o deputado federal Alan Rick (PRB). Rick, que faz parte da bancada evangélica, era crítico da presença de Cuba no Mais Médicos e já afirmou que o programa “financiava a ditadura cubana”.
Na carta, os médicos esclarecem que a decisão de permanecer no país não tem nenhum viés político e exprime somente o desejo de ficar e zelar pela saúde das pessoas. “Somos esses profissionais que ajudaram a cuidar da saúde do Brasil com sucesso, somos pessoas, amigos, vizinhos, gente comum. Criamos nossas famílias no Brasil e decidimos fazer dos brasileiros o nosso povo”, diz o texto.
O documento ainda explicita algumas contradições as quais os médicos cubanos enfrentaram durante estes anos no país. Segundo os médicos, hoje “o Brasil tem uma controvérsia: nos acolhe e nos discrimina ao mesmo tempo; nos brindam com asilo ou refúgio, mas não nos dão a possibilidade de trabalhar”.
A carta foi assinada por mais de 70 profissionais, todos residentes no Brasil e em situações diferentes. Alguns já têm a cidadania brasileira, outros apenas um visto de trabalho e muitos estão em processos de obtenção dos documentos para poder viver no Brasil de forma regular.
“A única coisa que queremos é os mesmos direitos dos médicos brasileiros. Nessa carta temos de tudo, refugiados, residentes permanentes, os que já estão nacionalizados”, disse ao UOL o médico cubano Nilvado Montero Rodríguez, um dos signatários da carta.
Entre as demandas dos cubanos que permaneceram no país, estão uma maior facilidade na “regularização de status migratório, além da possibilidade de continuar trabalhando no programa Mais Médicos enquanto regularizam as exigências do CRM (Conselho Federal de Medicina” e um acesso ao programa igual ao dos brasileiros sem CRM.
Rodríguez, assim como outros que assinaram o texto, têm apenas um objetivo em meio ao litígio em que se encontram: “Estou estudando para o Revalida, agora minha vida é essa. Vou estudar, conseguir minha cidadania, fazer o exame como um brasileiro e voltar a trabalhar no Mais Médicos”, diz o médico.