Cerca de 80% da carne consumida em Arapiraca é clandestina
Associação dos Frigoríficos denuncia que nem mesmo carnes de supermercado são seguras para o consumo

A carne consumida na maioria dos lares de Arapiraca, mesmo aquelas compradas resfriadas e embaladas em supermercados, podem estar contaminadas com microrganismos e medicamentos que podem prejudicar a saúde humana. Denúncia feita pelo presidente da Associação dos Frigoríficos do Nordeste, Josenildo Paes, dá conta que o abate clandestino cresceu 80% em Arapiraca e que nem mesmo aquela carne resfriada e comprada em uma embalagem higiênica pode ser segura para o consumo.
De acordo com a Vigilância Sanitária de Arapiraca (Visa), 600 quilos de carne foram apreendidas em decorrência de irregularidades na documentação da procedência do produto, a qualidade da carne e do local onde estão sendo comercializadas, conforme nota encaminhada pela prefeitura.
Segundo informações da Associação dos Frigoríficos do Nordeste, a quantidade de animais abatidos por dia caiu de 280 para 75 na Frigovale, empresa licenciada para prestar esse tipo de serviço em Arapiraca. Essa redução aconteceu, de acordo com a empresa, porque tanto proprietário de açougues como donos de supermercados estão abatendo animais nos fundos de fazendas.
"Eles abatem apenas uma pequena parte no frigorífico, para mostrar a nota fiscal à fiscalização. Mas, a maior parte é abatida no mato para baratear os custos, colocando em risco a saúde da população", informa Josenildo Paes.
Na mesma denúncia, o presidente da entidade afirma que até mesmo cavalos estão sendo abatidos para a produção de charque e que a irregularidade contaria com a conivência da Cooperativa dos Marchantes de Arapiraca, que usa o mesmo caminhão, que seria cedido pela prefeitura, para transportar "carne limpa" - abatida no frigorífico, dentro das normas de segurança - e "carne suja", abatida clandestinamente.
O marchante Marlos dos Santos, que fala em nome da Cooperativa dos Marchantes de Arapiraca, afirmou que a entidade não tem conhecimento sobre a existência de abates clandestinos em Arapiraca e alega existir pressão por parte do frigorífico para a utilização do serviço.
"Não é do meu conhecimento [o abate clandestino]. Mas, se eles fazem esse tipo de denúncia, sabem onde podem fazer e de quem podem cobrar a fiscalização. Eles também tem irregularidades na parte sanitária e eu tenho como provar isso", afirmou Marlos dos Santos.
Desde que a Frigovale começou a funcionar em Arapiraca, há um embate entre a empresa e os marchantes, relacionada aos valores cobrados pelo serviço de abate e até mesmo em relação a parte dos animais que são retidas pelo frigorífico. Denúncias foram feitas por ambos os lados, ações judiciais estão em andamento e Ministério Público e Defensoria Pública interviram para tentar fazer com que as partes cheguem a um denominador comum, mas isso não aconteceu até agora.
No meio desse conflito, o consumidor é prejudicado porque não tem certeza da qualidade da carne que está comprando para alimentar a família.
A Vigilância Sanitária de Arapiraca (Visa) faz fiscalização de rotina em feiras livres, mercado público, açougues e supermercados. Esse trabalho acontece até mesmo nos finais de semana, conforme nota da assessoria de comunicação da prefeitura:
Nota da Prefeitura de Arapiraca
A Prefeitura, através da Vigilância Sanitária de Arapiraca (Visa), informa que compete ao órgão a fiscalização da carne vendida no varejo, em feiras livres, mercado público, açougues e supermercados. Já a fiscalização do abate da carne, incluindo a do trabalho realizado na Frigovale, é de competência da Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas (Adeal).
A ação de fiscalização da Visa é realizada rotineiramente, durante a semana, incluindo finais de semana e feriados, a fim de garantir que o consumidor esteja seguro na compra de carnes e não coloque em risco a própria saúde.
De janeiro até o momento foram apreendidos 600 quilos do produto. Durante as ações realizadas pelos fiscais da Visa, são observados, entre alguns fatores: o selo de inspeção no produto; a documentação que identifica a procedência; o registro; o corte e a coloração da carne; além das condições do local onde estão sendo comercializadas as peças e se estão acondicionadas e manipuladas corretamente, entre outros.
Edilson Melo, coordenador da Visa, ainda destaca que, nos estabelecimentos visitados também é solicitado o alvará sanitário. “O documento comprova que o produto está em condições de venda e monitorado através de fiscalização", completou.
O coordenador ainda ressalta que há uma movimento de ação conjunta entre a Secretaria de Saúde e outras secretarias municipais, a fim de potencializar medidas de combate à venda de carne clandestina em Arapiraca.
“O abate clandestino de animais é responsabilidade da Adeal. Por isso o município tem buscado a parceria do órgão, a fim de que seja realizada uma fiscalização mais intensiva”, explica o coordenador da Visa.
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