Frigovale: cortina de fumaça esconde a verdade sobre a crise no abate de animais em Arapiraca
Disputa entre sócios pode levar empresa a fechar as portas
Desde o início das atividades em Arapiraca, em fevereiro de 2016, a Frigovale enfrenta forte resistência dos marchantes da região, que estavam acostumados abater os animais no antigo matadouro e a ter os impostos dispensados pelo município. Mas até essa disputa chegar à crise atual, em que surgem ameaças de a empresa perder a concessão da prefeitura e há o atraso no pagamento dos salários de 200 funcionários, existe muito mais do que essa quebra de braço que na terça-feira da semana passada (2 de abril) foi tema da Tribuna Livre na Câmara de Vereadores de Arapiraca.
A informação é do gestor responsável pelo funcionamento da Frigovale em Arapiraca, Gustavo Machado. Ele é um empresário conhecido na Bahia e foi eleito para o cargo pelo conselho da empresa, que conta com sete sócios, e investiu R$ 10 milhões na instalação da Frigovale como contrapartida de sua empresa, a Suínos Machado, se tornar arrendatária da fábrica de reciclagem animal, que funciona dentro do frigorífico em Arapiraca.
Apesar do diretor executivo do frigorífico, Jaelson Gomes geralmente ser o porta-voz da empresa, foi Gustavo Machado que abriu o jogo sobre a situação da Frigovale para o 7Segundos. "Ao que me parece, essa confusão toda está sendo provocada pelo médico Danyel Alves, um dos sócios da Frigovale. Ele tem a intenção de comprar as quotas dos outros sócios e, por isso, pode estar causando discórdias que levam a divulgação de informações falsas sobre a empresa", declarou.
Segundo o gestor, quando a Frigovale do Guaporé Comércio e Indústria de Carnes venceu a licitação feita pela prefeitura de Arapiraca para instalação do frigorífico que viria a substituir as atividades do matadouro municipal, em 2014, o proprietário do CNPJ da empresa, Alexandre Demarchi se juntou a outros seis empresários e formaram uma sociedade para o frigorífico de Arapiraca. Ele, como sócio proprietários e André Luís Ramires Seabra , Danyel Moraes Alves, Carlos Henrique Barros Amaral, Adherbal de Arecippo Neto, Augusto Alves da Silva Neto e Adovaldo Albuquerque Alves Júnior firmaram um instrumento societário particular, que é um acordo que estabelece as regras para a sociedade com o intuito de gerenciar o frigorífico instalado em Arapiraca.
Após a formação da sociedade, Gustavo Machado foi convidado pelo presidente do conselho, para assumir a gestão de empresa em Arapiraca, que já estava mergulhada numa crise financeira.
Algum tempo depois, de acordo com Machado, um dos sócios - o médico e empresário Danyel Alves, que dentre outras empresas é proprietário da Multihosp Serviços em Saúde – tentou comprar da quota dos demais sócios, mas não conseguiu devido a imbróglios jurídicos provocados por ele próprio.
"O médico Danyel passou a fomentar a discórdia entre os sócios e isso culminou em uma ação judicial com o intuito de destratar o contrato firmado pelo conselho que inclui os demais sócios, nos tirando da administração da Frigovale em Arapiraca. Mas ele não conseguiu", afirmou Gustavo Machado, que apresentou cópia da decisão judicial que reafirma o disposto no instrumento societário particular de que a administração da empresa deve ser exercida por todos os sócios e decide que não há razão para revogar procuração que deu poder de gestão sobre o frigorífico a Gustavo Machado.
No meio desta disputa, o sócio proprietário da Frigovale Alexandre Demarchi, que estaria atuando junto com o médico Danyel Alves, teria saído da sede da empresa no Mato Grosso e vindo a Arapiraca para adotar providências, entre elas o bloqueio da conta usada pelo frigorífico para fazer o pagamento aos 200 funcionários em Arapiraca, provocando o atraso no salário.
"A situação dos trabalhadores é muito preocupante, eles vêm me perguntar quando o salário vai sair e como não tenho resposta para dar, resolvi abrir o jogo. Apesar de não ser daqui, gosto muito de Arapiraca e vejo que a cidade tem um grande potencial nesse setor, por isso gostaria de poder sentar com o médico Danyel Alves e tentar resolver essa situação, para que a Frigovale continue a prestar um relevante serviço para os arapiraquenses", afirmou Machado, que explicou ainda que a resistência dos marchantes estaria relacionada a essa disputa com o sócio.
"Houve até uma tentativa de manipulação cujo objetivo foi tentar nos desmoralizar. Mas, até o momento, nós continuamos a ser os representantes legais da empresa em Arapiraca", afirmou.
O médico Danyel Alves, apontado por Gustavo Machado como pivô da crise na Frigovale foi procurado pelo 7Segundos e declarou que, apesar de seu nome ainda constar, oficialmente, entre os sócios da empresa, vendeu a sua quota para o sócio proprietário, Alexandre Demarchi, e disse nunca ter se envolvido na administração do frigorífico em Arapiraca.
“Não tenho envolvimento em nada na gestão dessa indústria e nem nunca tive. Nunca fui gestor dela. Na verdade fui um grande investidor, mas infelizmente o projeto não tinha uma perspectiva mínima de avançar e eu tratei de vender a minha quota ao sócio administrador. Ele é quem deve, na prática, responder por qualquer dano, consequência ou briga na gestão”, afirmou.
Danyel Alves afirmou que possui empresas que atuam em quatro Estados e empregam três mil pessoas e demonstrou estar preocupado devido seu nome ainda constar no CNPJ da Frigovale. O médico disse que não recebeu o pagamento integral pela venda da quota, mas possui documentos que comprovam a venda.
Ele declarou ter conhecimento de que Gustavo Machado e Alexandre Demarchi estariam negociando uma quota do frigorífico em Arapiraca, mas não sabe se as negociações avançaram.
“O que posso dizer é que, se eu não tivesse vendido esse senhor [Gustavo Machado] não estaria na indústria há muito tempo. É notório que competência técnica é bem diferente de habilidade interpessoal e capacidade de convencimento. Mas não tenho esse poder de tirar ninguém da empresa, quem tem é o próprio Alexandre [Demarchi], ou o Gustavo [Machado] se ele realmente comprou quota”, ressaltou.