Escolas perdem alunos, demitem funcionários e podem fechar portas em Arapiraca
Creches e escolas de Ensino Infantil são as mais afetadas pela suspensão das aulas ocasionadas pelo coronavírus
Quando saiu o primeiro decreto definindo a suspensão das aulas como medida de contenção ao avanço do coronavírus, pais, estudantes e escolas não estavam preparados para o que viria a seguir. Era senso comum que a paralisação duraria algumas semanas ou um mês, período que poderia ser facilmente compensado com a suspensão das férias de julho, mas já fazem dois meses que as salas de aula estão vazias e atualmente ninguém se arrisca fazer qualquer previsão sobre quando as lousas voltarão a trazer as lições necessárias para conduzir os jovens a um bom futuro profissional e para prepará-los para a vida.
De maneira geral, pais de alunos passaram a pressionar as escolas por descontos na mensalidade dos filhos, já que eles não estão frequentando as aulas, enquanto os estabelecimentos de ensino particular penam para manter o pagamento dos salários dos professores e demais funcionários, impostos, contas de consumo e agora, a implantação de plataformas de ensino à distância e a gravação de aulas. Procon, Ministério Público e Justiça entraram na discussão e algumas escolas foram obrigadas a dar descontos. Outras, após revisão de planilha de custos e também devido o temor de aumento da inadimplência, suspensão de matrículas ou pedido de transferências também passaram a adotar descontos, algumas vezes com percentual que acabam deixando as contas no vermelho. O resultado disso é que, apesar de grande parte das escolas terem concedido descontos, a inadimplência aumentou e inviabilizou o funcionamento de parte delas.
Em Arapiraca, de acordo com o Sindicato das Escolas Particulares, creches e escolas de Ensino Infantil são as mais afetadas. Uma parte delas já fechou as portas e outros estabelecimentos também poderão encerrar as atividades e deixar os alunos à deriva. Na noite de segunda-feira, diretores de escolas em Arapiraca fizeram uma reunião extraordinária onde foi elaborada uma carta, que está sendo encaminhadas para os pais.
“Atendendo uma demanda provocada pelo Procon, a redução possível e viável para as mensalidades das escolas, sem colocar em risco seu quadro funcional, investimentos e qualidade oscila entre 10% e 30%. Qualquer valor acima disso nos parece uma tentativa desesperada de instituições amedrontadas pelo movimento de inadimplência, pela impossibilidade de novas alternativas de sobrevida ou até mesmo pela neurose emocional provocada pelo momento tão carregado de tensão. Decisões contrárias ao acordado pela maioria das escolas com descontos justos e aplicáveis poderá, a curto prazo, levar algumas dessas instituições para o risco iminente de fechamento, deixado profissionais sem trabalho e alunos sem suas escolas”, descreve um trecho da carta.
Segundo diretora de uma escolar particular de Arapiraca, que integra a direção do Sindicato, as instituições de ensino da cidade já não tem mais alternativas para o enfrentamento da crise. A escola que ela dirige, que tem um total de 75 funcionários, suspendeu o contrato de metade deles e afirma que, possivelmente depois terá que demitir parte dos professores e pessoal do apoio administrativo e serviços gerais.
“Vou ser bem sincera, porque a vontade é de chorar. Posso continuar sem ganhar nada, mas não posso pagar para manter a escola. É muito difícil dizer isso, porque sei que quem for demitido em um período como esse não vai conseguir outro trabalho, mas não tenho outra saída. Ao menos eles têm a carteira assinada e terão seguro-desemprego e FGTS para receber, e assim tentar se manter até o fim do ano. Esperamos que em janeiro tudo já tenha passado”, afirmou a diretora, que pediu para não ter o nome divulgado.
Ela conta que do total de 148 alunos do Ensino Infantil da escola, 25 pais pediram a suspensão da matrícula por tempo indeterminado. Com isso, uma turma do maternal-creche, que antes tinha 14 alunos, restaram apenas cinco. “Os pais tiraram para não pagar já que criança não está vindo para a escola, dizendo que vão contratar uma babá. Acham que como as crianças são muito pequenas, estão na escola apenas para brincar, mas não levam em consideração a educação que estão recebendo, o carinho e o cuidado que professora e auxiliar tem pelos filhos dela e que, neste momento elas também estão lutando por seu trabalho. Nesse cenário, vai ser difícil manter essa equipe até as aulas voltarem”, lamentou.
Em relação aos estudantes do Ensino Médio que estão se preparando para o Enem, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pelas escolas, há um esforço para que os alunos não sejam prejudicados. “Tive uma reunião por videoconferência com os alunos do terceiro ano e expliquei para eles que esse período exige uma maior conscientização e responsabilidade deles. Avisamos a eles e aos pais que providenciem um local para estudar porque a partir das próximas semanas, eles voltarão a ter aulas, por meio de uma plataforma de ensino à distância, de 7h30 ao meio-dia e de 13h às 17h. O Enem pode ser adiado para o final de dezembro e nós vamos fazer de tudo para preparar bem nossos alunos”, ressaltou.
Para os alunos do Ensino Infantil e Fundamental, a escola também definiu estratégias para não deixar os estudantes sem atividades no período. Segundo ela, estão sendo definidas a elaboração de atividades, que os pais poderão ir buscar nas escolas, enquanto os professores gravam vídeos ensinando os conteúdos e explicando os exercícios. E, enquanto não há qualquer prazo para o retorno das aulas presenciais, ela conta que o Sindicato das Escolas Particulares traçou três cenários de cronograma escolar, com aulas aos sábados e até mesmo em feriados, para cumprir a quantidade de horas-aulas exigidas pelo Ministério da Educação. “Se ficarmos sem aulas até o final de julho. O calendário vai se estender até o fim de janeiro de 2021, isso levando em consideração que as aulas online são computadas como 25% da carga horária”, ressaltou.