Homem faz floresta em "ex-cidade" de SP e atrai atenção de Leo DiCaprio
O ator Leonardo DiCaprio publicou uma fotografia da fazenda e da iniciativa de Patrick
Um agricultor no interior de São Paulo criou uma floresta no mesmo lugar onde existiu uma "mini-cidade" no passado. Lá havia, nos anos 40, um cinema, um açougue, casas, escolas e até uma moeda própria.
Centenária, a Fazenda Coruputuba é uma das mais populares na região de Pindamonhangaba e abrigava uma fábrica de papel e uma plantação de eucalipto, além da pequena cidade. Resultado? A vegetação nativa desapareceu e o solo "dava" cada vez menos. Até que Patrick Assumpção partiu para uma reviravolta sustentável após herdá-la.
Hoje, Patrick produz apenas alimentos orgânicos, tem árvores nativas, em sua propriedade, e vende ingredientes para restaurantes famosos e estrelados, como o DOM, de Alex Atala, o Mani, de Helena Rizzo, e o Mocotó, de Rodrigo Oliveira, localizados na capital paulista.
Após aderir ao modelo sustentável, estudos concluíram que o solo da fazenda de Patrick tem mais vitaminas e uma floresta se formou no terreno com 209 hectares, dos quais 79 hectares ficam intocados. Em 2019, até mesmo o ator estadunidense Leonardo DiCaprio publicou uma fotografia da fazenda e da iniciativa de Patrick.
Apesar disso, Patrick quer ir da "porteira para fora" para ampliar o experimento. Segundo ele, é possível gerar 10 mil hectares para produção de alimentos orgânicos e reflorestar 40 mil hectares no Vale do Paraíba em uma década. A região é formada por 39 municípios e ocupa cerca de 6% do estado de São Paulo e tem milhares de agricultores.
"Se a gente reflorestar a Mata Atlântica na região Sudeste, inclusive com [produção de] madeira de forma sustentável, a gente reduz de maneira direta o interesse e o prejuízo ambiental causado pela extração de madeira da Amazônia", diz. "Além disso, podemos gerar alimentos de valor nutricional alto". Há, ainda, muita história no local escolhido por Patrick para o plantio.
A cidade do papel que agora é do vegetal
O bisavô de Patrick se chamava Cícero Prado e comprou o terreno da Fazenda Coruputuba no início dos anos 1900. A história popular é a de que encontrou um lugar pouco ocupado após o trem quebrar a caminho do Rio de Janeiro.
Havia uma oportunidade de empregar lavradores europeus que chegavam ao Brasil por meio de programas de incentivo e ainda oferecer serviços a eles. Cícero construiu casas, escolas, açougue, cinema, centro médico e instalação de energia elétrica. O principal negócio de Cícero era a produção de papel a partir da casca de arroz — uma das maiores da América Latina.
Nos anos 40, Cícero desenvolveu uma moeda própria para mediar os escambos causados pela falta de dinheiro em papel durante a Segunda Guerra Mundial. Bem relacionado, atraiu atenção à sua "pequena cidade" ocupada por quatro a cinco mil pessoas. Em 1959, Mazzaropi produziu o blockbuster Jeca Tatu na fazenda de Cícero. "Era um visionário que tinha grana para caralho", resume o bisneto.
Segundo Patrick, a morte de Cícero Prado deixou o empreendimento a herdeiros com pouca aptidão para a agricultura e administração. Dívidas trabalhistas e a pouca habilidade para os negócios tiveram como saída a venda de parte dos hectares comprados por Cícero.
Parte das estruturas da "minicidade" ainda está de pé. O herdeiro espera que seja tombada pela prefeitura para se tornar um espaço cultural em Pindamonhangaba. Nos anos 90, Patrick se formou em desenho industrial e voltou para administrar fazenda que adorava visitar durante toda a infância.