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Dólar fecha em estabilidade e Bolsa sobe, com contas públicas em foco

As declarações de Haddad reverteram a alta do dólar, que chegou a bater R$ 5,699 na máxima da sessão

Por 7Segundos, com Assessoria 16/10/2024 19h07
Dólar fecha em estabilidade e Bolsa sobe, com contas públicas em foco
Dólar fecha em alta, a R$ 5,69 - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O dólar fechou próximo à estabilidade nesta quarta-feira (16), com ligeira alta de 0,05%, a R$ 5,663, em reação às notícias sobre cortes de gastos pelo governo federal.

A moeda norte-americana, que passou a manhã em alta firme, reverteu ganhos após o ministro Fernando Haddad (Fazenda) prometer “vida longa ao arcabouço fiscal” com medidas de contenção da ponta das despesas, ainda não anunciadas formalmente.

Já a Bolsa subiu 0,47%, aos 131.668 pontos, segundo dados preliminares, com apoio da Vale.

O debate sobre as contas públicas voltou à cena. Após a ministra Simone Tebet (Planejamento) confirmar planos de corte de gastos após as eleições municipais, Haddad afirmou nesta manhã que a área econômica do governo mira uma “dinâmica suficiente para garantir vida longa ao arcabouço fiscal”.

O ajuste nas despesas tem sido defendido pelo mercado desde a elaboração do arcabouço fiscal, o conjunto de regras sobre as contas públicas em vigor desde o início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Chegou a hora para levar a sério a revisão de gastos públicos no Brasil”, disse a ministra Simone Tebet na terça, depois de uma reunião com Haddad. A proposta do governo é endereçar a questão com uma série de medidas em três pacotes.

“Nós estamos muito otimistas que esse pacote terá condições de avançar na mesa do presidente”, disse Tebet. As propostas que serão enviadas a Lula, esclareceu, já passaram pelo crivo da equipe econômica, e o primeiro conjunto de medidas deve ser apresentado ao presidente logo após o segundo turno das eleições municipais, em 27 de outubro.

A pretensão é que ele seja enviado ao Congresso Nacional em seguida, permitindo que algumas das propostas sejam aprovadas ainda neste ano e outras no início de 2025, segundo a ministra.

Ela não forneceu detalhes sobre quais medidas irão compor a revisão de gastos, mas afirmou que uma das propostas analisadas teria potencial de aumentar o espaço fiscal em até R$ 20 bilhões.


Segundo Haddad, a revisão de gastos que será proposta pelo governo pode exigir mudanças constitucionais e, endereçando temores do mercado, afirmou que as estatais não serão retiradas das regras do Orçamento.

O ajuste será uma agenda prioritária do governo até o fim do ano e o desenho está bastante avançado, disse ele. Os anúncios de medidas que irão compor a revisão, no entanto, só serão feitos quando “o governo estiver todo alinhado em relação aos propósitos”, afirmou.

Ele já adiantou que o programa de vale-gás está sendo reformulado pela área econômica e será apresentado a Lula depois que ele retornar de viagem à cúpula do Brics na Rússia, que acontece na próxima semana.

As declarações de Haddad reverteram a alta do dólar, que chegou a bater R$ 5,699 na máxima da sessão.

“As falas do ministro reforçando o compromisso com o cumprimento de metas e cortes de gastos foram os principais vetores de valorização do real, que se descolou das outras moedas de mercados emergentes e até moedas fortes”, diz Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.

“Mas a ausência de medidas concretas para que se possa precificar uma queda na trajetória da dívida ainda traz incerteza, o que impediu que o movimento de queda se intensificasse.”

A moeda brasileira, assim como as de outros mercados emergentes, tem enfrentado pressão por causa do desempenho de commodities no exterior, como o petróleo e o minério de ferro, sensíveis ao desenrolar dos planos econômicos da China e dos conflitos do Oriente Médio.

Da ponta asiática, os investidores aguardam detalhes sobre o tamanho e o cronograma do pacote de estímulos anunciado pelo governo chinês há cerca de três semanas.

Até agora, as informações divulgadas em entrevistas coletivas têm decepcionado por não trazerem números oficiais, ainda que o ministro das Finanças da China, Lan Fo’an, tenha dito que Pequim “aumentará significativamente” a dívida pública para injetar estímulos na economia, sobretudo para o mercado imobiliário, setor bancário e governos locais.

As atenções se voltam a uma nova entrevista coletiva do governo chinês, prevista para quinta-feira, com investidores na expectativa por novidades para o setor imobiliário, o cerne da crise de confiança dos consumidores e das pressões desinflacionárias do país.

O sentimento de decepção se espalhou para o mercado de commodities, afetando a atratividade de países exportadores, como o Brasil, para investidores estrangeiros. Só nesta sessão, o minério de ferro caiu quase 2% com perspectivas de oferta global firme e demanda chinesa fraca.

Apesar de penalizarem o câmbio brasileiro, os efeitos não eram só negativos. Isso porque o minério de ferro reagiu a notícias da Vale, uma das maiores produtoras da commodity do mundo.

Ontem à noite, a mineradora reportou aumento de 5,5% na produção do minério no terceiro trimestre deste ano em comparação a 2023. Trata-se do volume mais alto em quase seis anos. Com isso, Vale subiu 1,66% neste pregão.

Já em relação ao Oriente Médio, uma reportagem do The Washington Post informou que o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, teria dito aos Estados Unidos que está disposto a atacar alvos militares iranianos, e não alvos nucleares ou petrolíferos.

A notícia acalmou preocupações em relação a um possível distúrbio no fornecimento de petróleo da região. Com temores de oferta arrefecidos, os preços do barril do Brent, referência do exterior, entraram em movimento de correção e despencaram mais de 4% na terça-feira, afetando países exportadores da commodity, como o Brasil.

“Estamos vendo um desmantelamento do prêmio de guerra que construímos na semana passada”, disse Phil Flynn, analista sênior do Price Futures Group. “O que estamos vendo não é realmente sobre oferta, é sobre o risco para oferta e demanda.”

A pressão ainda veio dos Estados Unidos. “As moedas emergentes vêm sofrendo um bocado, ainda com dúvidas perante a solidez da economia chinesa… E em breve teremos as eleições norte-americanas, que por sinal, no momento, mostram uma grande chance de Donald Trump vencer, o que pode acabar dificultando ainda mais o cenário para essas moedas”, disse Marcio Riauba, gerente da mesa de operações de câmbio da StoneX.