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Astrônomos detectam planeta recém-nascido 'esculpindo' poeira no espaço; entenda

Imagem inédita feita com telescópio no Chile mostra planeta moldando espirais em torno de uma estrela jovem

Por G1 21/07/2025 10h10
Astrônomos detectam planeta recém-nascido 'esculpindo' poeira no espaço; entenda
Planeta recém-nascido 'esculpindo' poeira no espaço - Foto: ESO/F. Maio et al./T. Stolker et al./ ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/N. van der Marel et al.

Astrônomos conseguiram captar um momento raro e crucial na formação de sistemas planetários: o nascimento de um planeta que já começa a moldar o disco de poeira e gás em torno de sua estrela.

A descoberta foi feita com o Very Large Telescope (VLT), operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO), no deserto do Atacama, no Chile.

O planeta em formação foi observado no sistema HD 135344B, a cerca de 440 anos-luz da Terra, na constelação de Escorpião.

A estrela já era conhecida por abrigar um disco protoplanetário com braços espirais (estruturas associadas à presença de planetas em formação).


🌌 ENTENDA: Registros como esses são raríssimos, já que o processo de formação de planetas costuma ser rápido (em termos astronômicos) e difícil de se observar com clareza.

Agora, porém, os cientistas detectaram um ponto brilhante exatamente na base de uma dessas espirais, onde teorias já previam que um planeta poderia surgir.

O estudo, publicado nesta segunda-feira (21) na revista científica "Astronomy & Astrophysics", indica que o novo objeto tem massa estimada em duas vezes a de Júpiter e está localizado a uma distância de sua estrela semelhante à de Netuno em relação ao Sol.

Ele também parece estar escavando e rearranjando a poeira ao seu redor, um comportamento típico de planetas recém-nascidos que começam a interferir ativamente no disco onde se formaram.

“Jamais veremos a formação da Terra, mas aqui, em torno de uma estrela jovem, podemos estar testemunhando o nascimento de um planeta em tempo real”, disse Francesco Maio, pesquisador da Universidade de Florença e autor principal da pesquisa.

As imagens foram feitas com o instrumento ERIS, um sistema de altíssima resolução acoplado ao VLT.

O brilho detectado no disco não é reflexo da estrela, mas sim luz emitida pelo próprio planeta ou pelo material quente que o cerca, uma indicação de que o objeto ainda está crescendo, cercado por poeira e gás.

Além do HD 135344B, outro sistema semelhante também foi analisado pela equipe.

Em torno da estrela V960 Mon, os cientistas encontraram um possível companheiro celeste surgindo em meio ao disco, em uma região onde já haviam sido observadas estruturas espirais e instabilidades gravitacionais.

A origem desse objeto ainda está sendo investigada, mas os pesquisadores não descartam que se trate de um planeta ou até mesmo de uma anã marrom, corpo maior que um planeta, mas que não chega a brilhar como uma estrela.

Essa formação, no entanto, pode ter ocorrido de forma diferente. Em vez de crescer lentamente acumulando material ao redor, o objeto pode ter surgido de um colapso direto de uma parte do disco, um fenômeno chamado de instabilidade gravitacional, até hoje com poucas evidências observacionais.

Segundo os autores, futuras análises em diferentes comprimentos de onda devem ajudar a confirmar a natureza dos objetos detectados e revelar ainda mais detalhes sobre os mecanismos que moldam planetas logo após o seu nascimento.

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