Política

União Brasil vai sair do governo e expulsar ministro que ficar

A coluna revelou que Antonio Rueda fez fortes críticas a Lula em evento da XP; Lula não gostou e crise escalou

Por Metrópoles 02/08/2025 13h01
União Brasil vai sair do governo e expulsar ministro que ficar
A cúpula do União Brasil bateu o martelo e vai entregar dois dos ministérios que ocupa no governo Lula - Foto: Fábio Matos/Metrópoles

A cúpula do União Brasil bateu o martelo e vai entregar dois dos ministérios que ocupa no governo Lula. O desembarque deve ocorrer já em setembro.

Dos três ministros indicados pelo União, apenas Celso Sabino (Turismo) é filiado à sigla. Nesse caso, a coluna apurou que ele será expulso da legenda se permanecer no governo como cota pessoal de Lula.

Outro que terá que entregar o cargo é Frederico Siqueira (Comunicações). Ele não tem filiação partidária, mas só está no ministério por imposição do União.

A determinação partidária, contudo, não deve alcançar Waldez Góes (Integração Nacional). Embora filiado ao PDT, o ministro só está no posto porque o presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União-AP), quer. E ninguém no União Brasil mexe com os cargos de Alcolumbre — nem mesmo o poderoso presidente da sigla, Antonio Rueda.

Sem base de apoio no Congresso, a saída do União Brasil do governo significa ainda mais dificuldades para o governo Lula aprovar medidas que possam ajudar Lula na reeleição. A sigla elegeu 59 deputados, terceira maior bancada da Câmara, atrás do PL (99) e do PT (67).

Reportagem da coluna foi o estopim da crise

A coluna apurou que o partido não quer mais estender sua permanência no governo, diante da decisão de que não irá apoiar a reeleição de Lula em 2026. Isso, contudo, já era um fato desde abril, quando o União formou uma federação com o PP — um dos maiores opositores do governo Lula. A federação obriga os dois partidos a apoiarem o mesmo candidato ao Planalto em 2026.

O que precipitou a saída do União foi uma reportagem da coluna que mostrou críticas do presidente da sigla, Antonio Rueda, ao governo Lula, durante evento da XP, em São Paulo, que reuniu os maiores empreendedores do país, investidores e CEOs de grandes empresas.

Ao lado do presidente do PT, Edinho Silva, Rueda disse que falta “coragem” e “seriedade” ao governo Lula e defendeu a substituição do petista em 2026.

“Acredito que o governo Lula, o terceiro governo, não está conseguindo entregar à sociedade o que ela realmente precisa. Precisamos de um enfrentamento com coragem. Eu não consigo enxergar essa mudança. Não vejo uma sociedade equilibrada onde não se consegue fazer cortes de gastos e investir com seriedade em saúde e educação.”

“Estamos às portas de um impacto forte provocado pela inteligência artificial. Imagine a quantidade de empregos que vão desaparecer nos próximos três, quatro, cinco anos. E não estamos nem debatendo isso ainda. O Brasil precisa se modernizar, e para isso precisamos de uma candidatura que leve o país a um rumo certo, de prosperidade“.

“Eu não consigo enxergar metas no governo atual. Está tudo muito solto."

No evento da XP, Rueda também responsabilizou Lula pelo tarifaço de Trump, enquanto o petista coloca a culpa em Jair Bolsonaro:

A primeira pessoa que tem que dialogar é o presidente da República. Ele tem que pegar o telefone, ligar para o Trump e dizer: “Eu quero dialogar.” Ao invés de hoje estar correndo atrás e vivendo em função da eleição. Eu acho que essa postura é muito danosa para o país. A gente conhece o Trump porque ele já foi presidente. E a gente tem que ter racionalidade e entender o que aconteceu. O presidente [Lula] sim, ele provocou, instigou essa situação. Não tem como dizer que isso não aconteceu.

Enquanto o mundo ocidental defendia a Ucrânia, o presidente foi lá e defendeu a Rússia. Foi lá bater palma, fazer aceno e outras coisas. Isso vai ter um custo. A gente não pode achar que isso vai passar batido. Agora, no BRICS, ele defendeu o diálogo para extinguir o dólar da comercialização. Não tem como o Trump ficar calado.

Imagina que, em todo o mundo — não só no Brasil — ele aplicou essa tarifação. Parceiros antigos, como o Canadá e a China, também foram punidos. Mas o Brasil sofreu uma sanção mais pesada. E a gente precisa abrir esse diálogo de imediato, com muita serenidade e temperança. E não ficar pensando em dividendo político. Esse papel é do presidente da República. Ele tem que ir e conduzir o processo.

O presidente do União Brasil e da federação União-PP escancarou ainda que não irá apoiar a reeleição de Lula.

O que a gente imagina é que esse campo, da centro-direita, vai se unificar em torno de uma candidatura. Hoje você já ouve falar muito do Tarcísio, do Ratinho, do Zema e do próprio Caiado, que é o nosso pré-candidato. E eu enxergo que esse movimento vai ser mais eficaz.

O presidente Lula não gostou do que leu e, cinco dias depois, convocou os três ministros para cobrar explicações sobre as críticas de Rueda, como mostrou o colunista Igor Gadelha. Em reunião fora da agenda, o presidente condicionou a permanência no governo ao apoio do partido no Congresso.

Rueda reagiu ao ultimato do petista.

Na sexta-feira (02/08), divulgou um post no Instagram no qual afirma que “o compromisso do União não é com cargos ou conveniências, é com princípios. Seguiremos apoiando o que for certo e denunciando os erros, sem medo de desagradar. Independência não se negocia.”

Para arrematar:

“O União nunca vai se furtar à crítica, à autonomia ou à responsabilidade com o que realmente importa: o país. Quando decisões se afastam do interesse público, como tem frequentemente ocorrido no governo, o silêncio não é uma opção.”