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Dona de quatro ouros na Rio 2016, Simone Biles diz que foi molestada por ex-médico

Ginasta escreve nas redes sociais sobre assédio do ex-médico: "Eu não tenho mais medo de contar a minha história. Eu sou mais uma das muitas que foram abusadas sexualmente por Larry Nassar"

Por Globo Esporte 16/01/2018 13h01
Dona de quatro ouros na Rio 2016, Simone Biles diz que foi molestada por ex-médico
Simone Biles ginasta americana - Foto: Reuters/Mike Blake

Principal nome da ginástica mundial, Simone Biles, que conquistou quatro ouros e um bronze na Olimpíada do Rio de Janeiro escreveu, nesta segunda-feira, em suas redes sociais, que também foi abusada pelo ex-médico da delegação americana Larry Nassar. Nassar será condenado por sete acusações de agressão sexual na corte federal nesta semana como parte de um acordo de súplica e espera receber prisão perpétua. A sentença começa na terça-feira e deve ir até sexta-feira. Em dezembro, Nassar foi condenado a 60 anos de prisão por pornografia infantil.

Na carta escrita nas redes sociais, Simone desabafou:

A maioria de vocês me conhece como uma garota feliz, risonha e cheia de energia. Porém, ultimamente…eu tenho me sentido um pouco quebrada e, quanto mais eu tento calar a voz na minha cabeça, mais alto ela grita. Eu não tenho mais medo de contar a minha história. Eu sou mais uma das muitas que foram abusadas sexualmente por Larry Nassar. Por favor, acreditem quando eu disse que era muito mais difícil falar primeiro essas palavras em voz alta do que agora é colocá-las no papel.

Esse comportamento é completamente inaceitável, nojento e abusivo, especialmente vindo de alguém em quem falaram que eu poderia confiar. Por muito tempo me perguntei:" Eu era tão ingênua? Foi culpa minha? " Agora conheço a resposta a essas perguntas. Não. Não, não foi minha culpa. Não, eu não vou e não devo levar a culpa que pertence a Larry Nassar, USAG e outros.

Aposta dos Estados Unidos para ganhar mais medalhas em Tóquio 2020, Simone diz que terá dificuldades em voltar para o local de treinos:

É muito difícil reviver essas experiências e quebrar meu coração ainda mais para pensar que, enquanto trabalho no meu sonho de competir em Tóquio 2020, terei que retornar continuamente à mesma instalação de treinamento onde fui abusada.

O movimento #MeToo (eu também, na tradução) ganhou força nas redes sociais contra Larry Nassar. Incentivada pela campanha, a medalhista olímpica McKayla Maroney, famosa por uma careta no pódio de Londres 2012, revelou que foi uma das vítimas de Nassar, molestada quando tinha apenas 13 anos. Em seguida, foi a vez da campeã olímpica, Aly Raisman, também denunciar o médico.

Depois de ouvir as valentes histórias de amigas e outras sobreviventes, eu sei que essa experiência horrível não me define. Mas eu sou muito mais do que isso. Eu sou única, inteligente, esperta, motivado, e apaixonada. Eu prometi a mim mesma que minha história será muito maior do que isso e eu prometo a todos vocês que nunca desistirei. Eu adoro muito este esporte. Não permitirei que um homem, e os outros que o capacitaram, roubassem meu amor e alegria. Precisamos saber por que isso aconteceu há tanto tempo e com muitos de nós. Precisamos garantir que algo assim nunca mais aconteça.

O escândalo de abusos de Larry Nassar ganhou as manchetes no final do ano passado. Ele está preso em Grand Rapids, no Estado do Michigan. No dia 27 de novembro, recebeu a sentença por uma acusação de pornografia infantil. Em um acordo com a promotoria, se declarou culpado e se livrou de uma das acusações de pedofilia. O médico ainda encara pelo menos mais 22 acusações de abuso sexual em Michigan e pode pegar prisão perpétua. A US Gymnastics e o Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC) estão sendo processados por pais de ginastas e ex-ginastas que acusam as entidades de acobertar as ações de Larry Nassar.

Relembre o caso
As denúncias, que passam de 300 contra as entidades e membros da Federação, surgiram através do jornal Indianapolis Star, que publicou uma reportagem mostrando que pelo menos quatro dirigentes da Federação de Ginástica ignoraram suspeitas de abuso de treinadores com atletas e não passaram o caso às autoridades responsáveis. Segundo a publicação, ao menos 15 atletas menores de idade sofreram casos de violência sexual.

Após a reportagem, a Federação de Ginástica dos Estados Unidos contratou uma revisão independente especializada em casos de abuso a cargo da antiga procuradora federal, Deborah Daniels. Pelo menos 160 pessoas foram ouvidas e 25 clubes de ginástica foram visitados durante o processo de investigação.

Um relatório de 100 páginas foi publicado com mudanças de comportamento e gestão que serão adotados pela entidade para evitar que os casos se repitam. Os adultos ficam proibidos de permanecerem sozinhos com os atletas menores de idade e de entrarem em contato fora do ambiente de treinamento, seja por email, mensagens ou mídias sociais. A ideia é criar uma mudança de cultura para evitar que os abusos aconteçam.