Criança ensina vendedor de picolé a ler e a escrever em chão de pátio da escola
Bárbara Matos, de 9 anos, alfabetiza Francisco Santana Filho, de 68 anos, após suas aulas na escola

“Eu fico com a pureza das respostas das crianças…” A letra de Gonzaguinha reconhece a sabedoria de quem enxerga a vida sob um olhar mais sensível. Uma sensibilidade reconhecida na pequena Bárbara Matos, de 9 anos, aluna do Colégio Diocesano, no Crato. Após as aulas, ela senta no pátio da escola para ensinar o vendedor de picolé Francisco Santana Filho, de 68 anos, a ler e a escrever. A prática se repete desde 2017, mas só esta semana o registro feito por uma professora ganhou as redes sociais e trouxe luz à história.
“Algumas amigas minhas me ajudam. Aí, foi assim, eu tava aprendendo. Ele disse que não sabia e eu disse então vou te ensinar. Aí fui e ensinei a ele”, disse a aluna do 4º ano.
Conhecido por “Zezinho”, Francisco vende picolé desde os 12 anos de idade e frequenta a escola há muito tempo. Numa realidade oposta a daqueles que frequentam a escola, ele não teve oportunidade de estudar, mas conquistou a afeição de quem por lá passa: funcionários, alunos, parentes.
Há 44 anos Zezinho distribui simpatia enquanto vende o doce no local. A rotina, no entanto, mudou um pouco. Às 9 horas, durante o intervalo, ele vende o produto. Depois, vai para casa, almoça e volta à escola por volta do meio-dia quando acaba a aula da menina e ela se torna professora: é hora, finalmente, de ele virar aluno e estudar.
“Ela é minha professorinha. Ela é uma pessoa muito linda, gentil e especial. Na hora da saída, ela fica me ensinando o alfabeto. Tô aprendendo aos pouquinhos. Aí agora é desenho. Tô fazendo um coração”, conta o aluno.
Sentado no chão do pátio, Zezinho deixa de ser vendedor e se vê aprendiz, aos 68 anos. O cabelo branco revela a experiência de vida. Mas é com firmeza ele encara a dura ‘beleza de ser um eterno aprendiz’. Na falta de oportunidade, eis ali a chance de ver o mundo e compreendê-lo através da leitura e da escrita. Desde os sete anos, quando começou a ensiná-lo, foi Bárbara – depois de tantos anos ali – que abriu essa porta.
“Ela repassa para ele o que os professores dela ensinam. Bárbara é uma criança muito sensível. Aqui, nós passamos para eles muito amor. Então, é trabalhar a gentileza, solidariedade. Nós passamos esses valores. Ela entendeu nossa missão de educar, abraçou a causa e faz essa gentileza com amor”, conta a coordenadora pedagógica Nágela Maia.
A menina de nove anos usa o próprio material escolar para alfabetizar o vendedor de picolé. Sentados no chão do pátio, ele já aprendeu o alfabeto, já escreve algumas palavras ditadas pela professora e também lê. Visto como parte da “família” pelos responsáveis da escola, Zezinho é abraçado por todos.
“Já ensinei o alfabeto, algumas letras e algumas palavras. Às vezes, eu passo prova. Ele já está aprendendo a fazer umas letrinhas e algumas palavras. Quero ensinar matemática também”, concluiu a menina.
É através do olhar e da sensibilidade de cada criança que o mundo mantém esperança de “que a vida devia ser bem melhor, e será!” Com educação, solidariedade e empatia.
Veja também
Últimas notícias

Foragido da justiça por homicídio é preso em Marechal Deodoro

Litoral Norte tem reforço no policiamento durante Carnaval

Por unanimidade, STF homologa liberação das emendas parlamentares

Incêndio atinge quarto de pousada na Pajuçara

Prefeito de Olivença veta recursos aos blocos após aproximação de foliões com a oposição

Ex-vice-prefeito de Major Izidoro é nomeado para cargo na ALE-AL; salário chega a R$12 mil
Vídeos e noticias mais lidas

Alvo da PF por desvio de recursos da merenda, ex-primeira dama concede entrevista como ‘especialista’ em educação

12 mil professores devem receber rateio do Fundeb nesta sexta-feira

Filho de vereador é suspeito de executar jovem durante festa na zona rural de Batalha

Marido e mulher são executados durante caminhada, em Limoeiro de Anadia
