Justiça

“Não enterrei um homem, enterrei a metade de um”, diz irmã de cabo Gonçalves

Em depoimento, Ana Valença disse que o irmão foi morto com mais de 70 tiros

Por 7Segundos 22/08/2019 10h10
“Não enterrei um homem, enterrei a metade de um”, diz irmã de cabo Gonçalves
Ana Maria Valença depõe sobre morte de cabo Gonçalves - Foto: Ascom MPAL

Durante o julgamento do ex-tenente-coronel Manoel Francisco Cavalcante, o coronel Cavalcante, e seu irmão Marcos Antônio Cavalcante, na manhã desta quinta-feira (22), a irmã do cabo Gonçalves, afirmou que o militar foi assassinado com mais de 70 tiros e que já havia sofrido diversos atentados, mesmo residindo em vários estados. Em sua fala, Ana Maria Valença disse, ainda, que chegou a retirar o irmão de Alagoas para ele não morrer. Em uma das emboscadas, a testemunha afirma que o irmão perdeu parte da orelha.

Segundo ela, os atentados foram motivados pelo fato de o cabo Gonçalves ter se recusado a matar o então prefeito de Coruripe, Enéas Gama. Por se negar, cabo Gonçalves foi vítima de uma 'cocó', no trajeto de Coruripe a Maceió. Ele estava em um processo de reforma, devido um acidente, e nesse ínterim foi trabalhar de segurança para João Beltrão. Este, por sua vez, determinado a manter o prefeito de Coruripe. Além de se recusar, Gonçalves teria arrumado uma forma de avisar à vítima, o que teria provocado a indignação do mandante que seria João Beltrão.

"Meu irmão foi morto com mais de 70 tiros, eu não enterrei um homem, enterrei a metade de um. Quando cheguei ao IML não permiti que ninguém da minha família entrasse e olhasse meu irmão. Um homem sem olho, sem orelha, despedaçado, só não tinha perfuração dos joelhos pra baixo", disse Ana Valença. Ela  afirmou ainda que os irmãos Cavalcante sempre a ameaçaram e que, nas vezes que havia julgamentos, carros pretos rondavam a casa dela, além de mandarem recados diretos pra ela.

Em depoimento ao juiz Sóstenes Alex Costa de Andrade, titular da 7ª Vara Criminal da Capital, a testemunha ainda disse que abdicou de tudo pra buscar justiça. "Deixei de casar e constituir família, porque se morresse não teria filhos ora sofrer. Eu fui muito ameaçada, mas não tenho medo de morrer porque perdi meu bem maior que era meu irmão".

Ela lembrou ainda que Cavalcante foi ao velório do irmão e ainda chacoalhou e tentou agrediur o cabo Gonçalves no caixão. E também teria Cavalcante puxado a pistola para atirar na irmã dela quando a mesma tentou afastá-lo e 'encostou' o sobrinho de 13 anos que morreu de infarto fulminante logo depois.

"Este senhor [refere-se a Cavalcante] estava no velório embriagado de tanto comemorar a morte do meu irmão. Na hora deu empurrões em uma jornalista parecida comigo e saiu dizendo: 'chacoelhei o porra no caixão e ainda empurrei a cachorra da irmã', mas não era eu porque tinha ido ao IML, falou Ana Valença.

O promotor de Justiça, Ary Lages, evidenciou para o Conselho de Sentença que além da morte do cabo Gonçalves, o ex-coronel Cavalcante também teria cometido outra tentativa de homicídio contra a outra irmã da vítima.