Política

"CRISTOFOBIA": Religiões de matriz africana são as mais atacadas em Alagoas

Narrativa de Bolsonaro faz um apelo à comunidade internacional e combate a Cristofobia

Por 7Segundos 22/09/2020 14h02 - Atualizado em 22/09/2020 17h05
'CRISTOFOBIA': Religiões de matriz africana são as mais atacadas em Alagoas
Bolsonaro pede combate à “cristofobia” em discurso na Assembleia da ONU - Foto: Reprodução/Internet

Nesta terça-feira (22), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu durante o discurso da 75ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o combate à “cristofobia”, termo usado pelo líder do governo para justificar uma suposta intolerância religiosa ao cristianismo. 

O Brasil que é considerado como um país laico e distante do termo usado pelo presidente, esteve em meio a um discurso embasado apenas em suas próprias teorias religiosas. De acordo com a fala do presidente, a liberdade é o maior bem da humanidade. "Faço um apelo a toda a comunidade internacional pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia”,ressaltou. O presidente,pontuou ainda que repudia o terrorismo em todo o mundo, mas não citou qualquer outra religião além cristianismo.

Em Alagoas,o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que a população parcial registrada em Maceió  foi de 1.012.382, sendo destes, 813.020 autodeclarados cristãos, enquanto outras vertentes religiosas, como as de matriz africana, espíritas, budistas e outros, somam apenas 14.352. 

Ainda que a Declaração Universal dos Direitos Humanos garanta no artigo 18º o direito básico à liberdade de pensamento, consciência e religião; incluindo a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular. O que acontece no estado está longe de ser considerado libertador e nem todos os alagoanos podem exercer livremente o direito de realizar suas práticas religiosas.

Em 2019, a yalorixá Veronildes Rodrigues, a mãe Vera, líder religiosa do terreiro de religião de matriz africana teve sua sede invadida e depredada. Na ocasião, a líder religiosa, precisou ir à Ordem dos Advogados do Brasil seccional Alagoas (OAB/AL), para buscar medidas efetivas para crimes de intolerância religiosa. A sede, ficou completamente destruída e os criminosos que invadiram o terreno quebraram peças de culto e oferendas e as deixaram expostas na área externa da residência. Mãe Vera dormia, com mais 6 crianças, quando tudo aconteceu. 

No ano anterior, participantes de um ritual de matriz africana foram obrigados a suspender uma cerimônia , no terreiro Ilé Nise Omo Niger Ogbá, localizado no bairro do Cruzeiro do Sul, em Rio Largo, devido a um apedrejamento no local,na ocasião alguns participantes alegaram que os atos de intolerância religiosa eram recorrentes e o grupo precisou tomar medidas mais ostensivas para combater os ataques. 

Outro fato que chocou os alagoanos, foi o assassinato de um pai de santo, de apenas 35 anos brutalmente assassinado na porta de um terreiro, no interior de Alagoas. O caso foi classificado como crime de intolerância religiosa. 

Outro caso de grande repercussão em Alagoas, foi o da mãe de santo Cristiane de Ogum, ocorrido no Conjunto Frei Damião, no bairro do Benedito Bentes II, quando durante uma festa religiosa realizada pelo pai de santo Jamerson Alves, um grupo de pessoas proferiu palavras pejorativas e ofensivas contra os convidados da festa. Passados 30 minutos o grupo voltou ao local, onde armados efetuaram um disparo de uma espingarda calibre 12 contra o portão da casa do sacerdote, os estilhaços dos disparos chegaram a atingir os pulmões da babalorixá, que estava sentada dentro da residência e de costas para o portão.