13 pacientes denunciam médico por importunação sexual no Maranhão
As ocorrências foram registradas em delegacias especializadas em São Luís, Açailândia e em Curitiba, no Paraná, onde uma das mulheres, que é maranhense, mora atualmente.
Subiu para 13 o número de mulheres que registraram boletins de ocorrência contra o médico radiologista Kemuel Pinto Bandeira, por importunação sexual durante a realização de exames de ultrassonografia.
As ocorrências foram registradas em delegacias especializadas em São Luís, Açailândia e em Curitiba, no Paraná, onde uma das mulheres, que é maranhense, mora atualmente. Os casos também já estão sendo acompanhados pelo Ministério Público.
As denúncias contra o médico se tornaram públicas após a divulgação de uma reportagem da TV Mirante, no último dia 29 de agosto, quando já havia o registro de 8 boletins de ocorrência feito por mulheres de São Luís e Açailândia, contra o médico, na Polícia Civil do Maranhão. Depois que a reportagem foi ao ar, outras mulheres que dizem terem sido vítimas do radiologista, foram registrar boletim de ocorrência.
Kemuel Bandeira, é médico radiologista com especialização em ultrassonografia. Ele é uma das referências no Maranhão, em diagnóstico por imagens, além de ser diretor médico da clínica Humani, em Sao Luís, e atuar em outra clínica em Açailândia, onde faz atendimento particular e pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A defesa do médico afirmou que ele não foi intimado para prestar nenhum esclarecimento e nem para participar de qualquer procedimento da investigação relacionada aos casos que foram mostrados na reportagem. A defesa disse, ainda, que o médico está à disposição para colaborar com as investigações em busca da verdade (veja, ao final da matéria, a nota na íntegra).
Segundo as mulheres, durante exames de imagem, nos quais não é necessário tocar nas partes íntimas das pacientes, Kemuel teria se aproveitado para tocar nas genitais delas, fazendo movimentos estranhos.
Uma das 13 mulheres é uma nutricionista que preferiu não mostrar o rosto. Ela contou para a TV Mirante que estava no quarto mês de uma gestação difícil, onde corria o risco de perder o bebê. Ela procurou a clínica Humani para fazer uma ultrassonografia morfológica do primeiro trimestre. A indicação era de uma transvaginal e ela foi encaminhada para o médico Kemuel Bandeira. Na hora do exame, ela estava acompanhada do marido.
“O meu marido ficou à minha esquerda na maca e ele (o médico) ficou a minha direita mas, o meu marido não estava de frente pra mim, mas de frente pro monitor na parede, pra olhar a criança. E aí a primeira coisa que ele (o médico) fez foi colocar a mão no meu quadril. Uma mão no meu quadril e a outra com a sonda de introduzir. Aí ele começou a fazer movimentos tipo vaivém, era uma pressão que doía e eu comecei a sentir os dedos dele. Da mão, que segurava a sonda, o polegar ele passava pelo meu clitóris e os outros dedos. Como a perna da gente fica bem aberta, os outros dedos ficavam passando pelo períneo acariciando“, relata a nutricionista.
A mulher relata, ainda, que ficou em choque, ao ponto de não celebrar o momento mais esperado da vida dela e do marido.
“E quando apareceu esse sexo da criança ele escreveu lá ‘Piu Piu’. Nessa hora eu não tive nenhuma reação, porque eu estava notando que estava algo estranho e nesse momento ele começou a fazer mais pressão e mais movimento de entra e sai. E ele perguntava: ‘era isso que você queria? Era isso que você queria?’. Parecia que ele estava fazendo uma alusão a sexo. Aí meu marido era, era isso que a gente queria. E eu não estava prestando atenção em mais de nada, eu não olhei a televisão, ele roubou esse momento”, lamenta.
Sem se preocupar com o marido da paciente, que estava ao lado, o médico teria continuado a tocar as partes íntimas dela.
“Aí depois, a mão dele que estava no meu quadril começou a subir em direção aqui à minha região pélvica e aí começou a descer. E eu senti que ele parecia que ele ia me masturbar. Foi descendo e quando chegou próximo lá do clitóris, eu peguei na mão dele. Perguntei: ‘doutor, essa mão precisa ficar aí?’. Só que o meu tom não é tom de raiva, era um tom assim de desespero, mas meu marido não ouviu. Ele não ouviu e aí ele (o médico) só respondeu que fazia parte do exame. Só que ele não botou mais a mão, ele tirou a mão e mudou de atitude e logo o exame terminou”.
O caso aconteceu em junho de 2020, mas só depois de a reportagem ser divulgada, a nutricionista foi encorajada a denunciar.
Advogada trouxe os casos suspeitos à tona
Mulheres denunciam médico por importunação sexual durante exames ginecológicos no MA — Foto: Reprodução/TV Mirante
Mulheres denunciam médico por importunação sexual durante exames ginecológicos no MA — Foto: Reprodução/TV Mirante
Os relatos contra o médico vieram à tona após a advogada Marina Wanda denunciar Kemuel Bandeira, também, por suposta importunação sexual, contra ela. O caso teria ocorrido durante um exame para mapeamento de endometriose, na clínica em que o médico atua em São Luís, no início do mês de agosto.
“Já começou ali do preparo, que ele disse que tinha que colocar um gelzinho dentro da vagina. Depois que ele colocou o gel, ele começou a passar a mão na minha vagina várias vezes. E aí depois eu notei que ele estava sem luva, ele passava o álcool na mão. Mas não tive reação pra questionar ele, porque que ele tava sem luva”, conta a advogada.
Marina Wanda disse, ainda, que o comportamento do médico foi piorando durante o exame, sendo que o médico chegou a passar as mãos no seu clitóris, ânus, além de fazer vários movimentos estranhos.
Segundo a advogada, depois que chegou em casa foi que ela entendeu que estava sendo vítima de importunação sexual e relatou o caso ao marido. Marina conta, ainda, que voltou à clínica com o marido, para falar com a esposa de Kemuel, que é ginecologista, para saber como funcionava o exame.
Sete dias após o caso, ele decidiu prestar queixa contra o médico na Delegacia Especial da Mulher, em São Luís, mas Kemuel Bandeira ainda não foi chamado para depor.
Marina também denunciou o médico ao Conselho Regional de Medicina (CRM), que afirmou em nota que já abriu sindicância para apurar a conduta do médico. Segundo o CRM, o processo tramita em sigilo.
A advogada também relatou o caso nas redes sociais e recebeu mensagens de 24 mulheres, que teriam passado por situação semelhante a dela em São Luís e Açailândia, há casos que teriam acontecido há 10 e 7 anos.
O que diz o CRM
Em nota o CRM informou que recebeu uma denúncia relacionada ao médico e que o caso já foi encaminhado para análise da Câmara Técnica de Sindicâncias e será conduzido com o máximo rigor e celeridade, respeitando o devido processo legal. E reitera o compromisso com a defesa da boa prática médica e com a segurança dos pacientes.
O que diz a defesa do médico
Por meio de nota, a defesa de Kemuel afirma que o médico declara ser inocente das acusações e que é prematuro qualquer manifestação dele à imprensa, antes que sejam prestadas declarações às autoridades policiais encarregadas do caso.