Moradores dos Flexais seguem isolados e prejudicados pela Braskem; defensor convida para audiência pública
Coordenador de Proteção Coletiva das vítimas da Braskem, Ricardo Melro, concedeu entrevista

Na manhã desta quarta-feira (12), em entrevista exclusiva concedida à Rede Antena 7, o defensor público e coordenador de Proteção Coletiva das vítimas da Braskem, Ricardo Melro, explicou sobre o andamento do processo que irá definir o destino dos moradores dos Flexais, após a tragédia ambiental provocada pela mineradora. Além disso, o defensor também falou sobre a audiência pública com essas vítimas, que deverá ocorrer nesta quinta-feira (13).
A audiência tem como principal objetivo ouvir essa população mais uma vez, visto que, até o momento, houve apenas uma audiência pública com essa finalidade. Na ocasião, que ocorreu há cerca de três anos, quase mil pessoas compareceram. De acordo com Melro, todas pediam que fosse feita a realocação das vítimas para outro local, visto que, mesmo com a revitalização daquela região, as vidas dessas pessoas deverá seguir em isolamento social.
“A comunidade está sofrendo muito, abandonada, isolada e quer ser ouvida. Eles estão adoecendo, não têm mais convívio social no entorno, não há comércio, transportes”, pontuou o defensor. Para Melro, a realidade dessas pessoas é extremante desoladora e precisa de uma solução que, de fato, traga conforto e alivie o sofrimento dessas vítimas.
Segundo Ricardo Melro, o processo sobre o que deverá ser feito naquela região, se revitalização da área, apenas, ou a realocação dos moradores, tramita na justiça “a passos de tartaruga”. Ele conta que os demais órgãos e entidades envolvidas no caso, como a prefeitura de Maceió, o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público Estadual (MPAL), além da própria Braskem, têm criado questões irrelevantes em contestações nos autos do processo, com a finalidade de prolongar a tramitação, o que apenas prejudica as vítimas. Isso porque todos eles defendem a revitalização da área, e, apenas a Defensoria Pública de Alagoas pede a realocação dessas pessoas.
Ainda de acordo com o defensor, o processo está, inclusive, suspenso atualmente. Sem dúvidas, algo que impacta a população atingida pelo desastre ambiental provocado pela Braskem, e apenas contribui para o adoecimento dessas pessoas.
Dona Pureza
A triste história da moradora dos Flexais que, no final de outubro de 2024, logo após uma visita do próprio Ricardo Melro à comunidade a sua casa, tirou a própria vida, também foi lembrada pelo defensor durante a entrevista.
Dona Pureza, como era conhecida, escreveu um bilhete desolador, que demonstrava claramente o seu sentimento diante da lentidão da justiça para resolver a situação desesperadora da população dos Flexais: "Cada vez que eu vejo os benefícios da Braskem, a minha desilusão aumenta. Estou cada vez mais depressiva em saber que vou ficar nesse isolamento para sempre", dizia um trecho da carta.
“Eu estive com ela, acredito que em um sábado e, na quarta-feira, ela deixou uma carta de despedida. Ela colocou veneno para a filha, que era dependente dela. Como ela sabia que se morresse não teria com quem deixar a filha...o seu animal de estimação, e se matou. Esse é o nível de adoecimento”, desabafou o defensor público.
Maria Tereza, de 63 anos, morreu no dia 31 de outubro de 2024, após ingerir uma quantidade de veneno. Em um ato de desespero, ela também ofereceu o veneno para o seu gato da família, e para sua filha, Elenilma Silvestre de Souza, 42 anos.
Elenilma chegou a ser socorrida, e levada para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas acabou não resistindo e falecendo no dia 21 de novembro de 2024.
Porque a realocação?
Para Ricardo Melro, a decisão de realocar as vítimas afetadas pela tragédia ambiental provocada pela mineradora Braskem, que teve início no ano de 2018, vai além da simples vontade dos moradores daquela área. Ele explica que diversos estudos antropológicos apontam a realocação como melhor opção para as vítimas.
“Não é apenas sobre a vontade das vítimas. São estudos antropológicos, temos antropólogos do próprio MPF que aponta essa solução. Da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), da CPI, da Defesa Civil do município. Não tem um antropólogo que diga o contrário”, enfatizou Melro.
O defensor argumentou que diante de uma recomendação feita por estudos de especialistas da área, a não ser que outro especialista refute aquele estudo, não há que se argumentar de maneira contrária apenas por vontade ou achismos, o que, segundo ele, é o que tem ocorrido nos autos dos processo.
O defensor reforçou o convite para todos os envolvidos no caso do Braskem, para a audiência pública que deverá ocorrer nesta quinta-feira (13), às 18 horas, em frente ao Parque da Lagoa, no Flexal de Baixo, em Maceió.
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