'Ter 10 filhos ajudou a entender os jovens', garante Mauricio de Sousa
Cartunista comemora 60 anos de carreira e o sucesso de 'Laços'
Os números da carreira e da vida de Mauricio de Sousa são superlativos. Aos 83 anos, ele acaba de completar seis décadas de atuação. A marca tem sido comemorada com uma exposição que traz uma pequena parte da produção do cartunista e que ficará em cartaz no Centro Cultural Fiesp, em São Paulo, até o dia 15 de dezembro.
Em paralelo, ele experimenta também o sucesso de bilheteria do filme Laços, primeiro live action inspirado na Turma Da Mônica. Com pouco mais de um mês de exibição, o filme está prestes a atingir a marca de 2 milhões de espectadores e supera os R$ 20 milhões em bilheteria.
O momento, claro, é comemorado por Mauricio. Mas a explicação para o êxito é inesperada: em autoanálise, ele credita a longevidade da atuação como fruto direto da própria vida particular.
Pai de nada menos que dez filhos, Mauricio garante que continuar a entender os jovens de tantas gerações diferentes tem ligação com o fato de ter experimentado a paternidade diversas vezes e em vários momentos da história (a filha mais velha tem 59 e o mais novo, apenas 16). "Apesar de tudo, eu fui um pai presente. Tenho essa ligação íntima com a família, de fazer festa, reservar as quintas-feiras para comer pastel e reunir uns cem parentes na minha chácara. Com isso, aprendi a entender e reconhecer as diferenças existentes entre cada geração. Agora, ainda tenho a oportunidade de experimentar essa sensação com netos e bisnetos", garante o cartunista.
Parte dos filhos acabou seguindo os passos do pai e foi trabalhar ao lado dele na Mauricio de Sousa Produções, a empresa por trás da franquia Turma da Mônica. Mas não foi nenhuma imposição do pai famoso manter o império empresarial em família. Segundo Mauricio, esse foi o segundo estágio de ter uma boa relação com os filhos. "Se por um lado ouvi-los resultou numa modernização contínua das histórias em quadrinhos, por outro despertou o interesse de se envolver na área profissional do pai. Jamais cobrei isso. Foi natural", comenta.
Hoje, um dos filhos que mais tem responsabilidade nessa modernização da Turma da Mônica é Mauro Takeda e Sousa, de 32 anos. Ele mantém o pai atualizado sobre questões identitárias, de gênero, discussões polêmicas e inclusão social.
A influência fez com que, nos últimos anos, a Turma da Mônica passasse a inserir personagens representativos, como o autista André, capa da revista da Mônica do último mês de julho. "Faltava representatividade nas histórias. Tento mirar em tudo que é pertencente ao mundo atual. Sempre fui assim. Sem preconceito nenhum. Tenho me aprofundado nesses temas. Recentemente, conversei com atletas paralímpicos e aprendi bastante. É assim que evito parar no tempo", garante.
Questionado sobre se isso gera críticas de puristas, Mauricio avisa que não há motivos para se preocupar. "Não mexeremos nos personagens clássicos, mas outros serão criados para ocupar essa lacuna, sim", adianta.
Sucesso no cinema
Se nas bancas de jornal a Turma da Mônica sempre foi unanimidade entre as crianças brasileiras, no cinema a franquia teve uma trajetória irregular. Apesar de contar com títulos em animação que atingiram relativo sucesso desde a década de 80, foi com Laços que finalmente a Turma Da Mônica ganhou uma produção aclamada por público e crítica.
Lançado em live action (com atores de verdade dando vida aos personagens), o longa metragem dirigido por Daniel Rezende teve desempenho tão satisfatório que Mauricio admite pensar numa continuação para breve.
Segundo ele, o roteiro já tem sido desenvolvido, mas não há previsão de lançamento. "Quando o Daniel (Rezende) propôs dirigir o filme, eu já imaginava que viria coisa boa. É um entretenimento pronto para os pais que cresceram lendo Turma da Mônica e para os filhos, que ainda consomem muito as nossas histórias. E acredito que atingimos esse objetivo", analisa.
Na continuação, Mauricio espera poder incluir mais personagens da vasta lista de criações dos últimos 60 anos. "Com certeza a nossa proposta é criar um universo mais amplo na continuação. Mas também estamos com convites para levar algumas histórias separadas para séries na TV a cabo ou streaming. Tudo ainda tem sido estudado pela minha equipe, mas é parte dos lançamentos futuros da Turma da Mônica", adianta.
Mauricio diz que viu a oportunidade de continuar trabalhando com live action ao analisar não só os números atingidos por Laços, mas também ao ouvir o feedback do público e até mesmo observar a reação da plateia nas salas de cinema. "As pessoas voltaram ao passado, se conectaram com fases positivas e interessantes da infância. E eles querem de novo essa sensação. É por isso que temos pensado em séries também, para que a Turma da Mônica integre mais a vida das pessoas na TV", explica.
A parte emotiva desse sucesso fez Mauricio ouvir diversos relatos de pessoas que admitiram ter sido alfabetizadas com a ajuda dos quadrinhos da Mônica. "Hoje, posso dizer que esse é meu maior legado: ter ajudado a alfabetizar pessoas. Maior que qualquer outra coisa, é sabe que várias gerações tiveram contato com leitura por meio das histórias de Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha", garante Mauricio.