45% dos 'filhos do Bolsa Família' entraram no mercado de trabalho formal
Com o recurso, começou a sobrar um pouco de dinheiro e a auxiliar de limpeza pôde entrar para um curso de informática que a capacitou para um emprego na área de telemarketing

Ao entrar para o Bolsa Família, em 2003, Vera Nuzia Boaventura, 52, não imaginava que o benefício seria o primeiro passo que mudaria para sempre a sua realidade e a de seus quatro filhos. Com o recurso, começou a sobrar um pouco de dinheiro e a auxiliar de limpeza pôde entrar para um curso de informática que a capacitou para um emprego na área de telemarketing.
Um novo curso mais tarde levaria a mãe solo da periferia de São Paulo a trabalhar na biblioteca de uma faculdade e três de seus filhos conseguiram bolsas de estudos na instituição. Hoje ela é coordenadora de um Creas (Centro de Referência Especializado em Assistência Social) na capital paulista.
"Todos os dias, eu me vejo nessas mães que atendo. Faço questão de contar a minha história para elas, do quanto já chorei por não ter como comprar roupa ou material escolar para os meus filhos, trabalhava para ter o básico e nada sobrava. É uma vida permeada de muitas violências, mas olhar para trás me dá muito orgulho."
A servidora conta que ter um curso superior para ela e os filhos era o passaporte para uma vida mais digna. Seu emprego na faculdade dava direito a três bolsas -antes de se formar, aproveitou para que as filhas estudassem logística e o filho, administração. Já formados, eles puderam ter melhores oportunidades.
"Eu, que não tinha o ensino médio completo, passei a transitar por outras realidades. O Bolsa Família criou essa possibilidade de mudar de vida, e meus filhos puderam ter um futuro, sem precisar do programa", diz.
A emancipação do Bolsa Família não ocorreu apenas na casa de Vera Nuzia. Cerca de 5,2 milhões dessa primeira geração de dependentes de famílias do programa, que tinham de 7 a 16 anos em 2005, foram encontrados ao menos uma vez na Rais (pesquisa oficial de mercado de trabalho formal) de 2015 a 2019.Isso significa que 44,7% dos 11,6 milhões de filhos do Bolsa Família acessaram o mercado de trabalho formal no período ao menos uma vez.
Os dados são de um estudo exclusivo feito por pesquisadores do IMDS (Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social), em parceria com a consultoria Oppen Social e um pesquisador da FGV EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças, da Fundação Getulio Vargas).
Os pesquisadores cruzaram registros da folha de pagamento do Bolsa Família e da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) e puderam não apenas mensurar a emancipação por meio do trabalho com carteira, mas também medir a qualidade do emprego conquistado por eles.
Dessa forma, descobriram também que metade desses filhos do Bolsa Família que conseguiram um emprego formal estava empregada entre 20% das ocupações consideradas de menor remuneração e com baixa quantidade de trabalhadores com ensino superior. Entre os jovens de mesma idade que não foram beneficiados, o percentual de pessoas nessas funções cai de 50% para 32%.
Os dependentes egressos do programa estavam distribuídos em micro (28%), pequenas (26,4%), grandes (22,5%) e médias empresas (11,6%). Uma parcela menor estava, ainda, na agropecuária (5,9%) e na administração pública (4,9%).
EMPREGO FORMAL É TERMÔMETRO DE EMANCIPAÇÃO, DIZEM PESQUISADORES
O Bolsa Família é um programa de transferência de renda, voltado para a população mais vulnerável. A conquista do emprego formal mais tarde pelas crianças e jovens que participaram do programa não é, portanto, seu objetivo central.Mas esse é considerado um efeito colateral positivo, segundo os pesquisadores. Quando a família tem suas necessidades básicas atendidas, o horizonte para melhorar de vida e conquistar um emprego estável aumenta.
É como se as mães e pais que buscaram pelo benefício em um momento de dificuldade para as famílias abrissem possibilidades para a geração seguinte. Claudio Fernandes, que recebeu o benefício na adolescência, mais tarde se tornou assistente administrativo do governo de Tocantins."Cresci com Bolsa Família", disse a cantora Pabllo Vittar, em uma entrevista de 2021.
"É preciso lembrar que os jovens que foram beneficiados pelo Bolsa Família estavam no passado em uma situação de precariedade. A maioria dos postos no Brasil não é boa, o país não está crescendo em ritmo satisfatório há cerca de 40 anos e, para quem antes dependia da transferência de renda, é um enorme avanço estar no mercado de trabalho formal", diz Paulo Tafner, diretor-presidente do IMDS.
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