Os jogos de criação sempre tiveram um apelo especial entre os gamers, permitindo que jogadores se tornem também criadores. A Nintendo, conhecida por sua inovação e criatividade, tem um histórico fascinante nesse segmento, que culmina com o lançamento de Super Mario Maker 2, um dos títulos mais celebrados da atualidade. Desde os primeiros experimentos com editores de fases até a consagração da série Maker, a jornada revela muito sobre a evolução dos jogos e do comportamento dos jogadores.

A semente da criação: editores rudimentares e fases customizadas

Antes mesmo de existirem jogos com ferramentas próprias de edição, os jogadores mais entusiastas encontravam maneiras de modificar experiências. Nos anos 90, alguns jogos vinham com editores de fases simples, como "Excitebike" (NES), que permitia aos jogadores criarem suas próprias pistas de motocross. Embora limitadas, essas ferramentas abriram caminho para o conceito de personalização e autoria dentro do universo dos games.

Outros exemplos clássicos incluem "Lode Runner" (Apple II, NES) e "Wrecking Crew" (NES), que também permitiam criar cenários personalizados. Esses recursos, ainda que rudimentares, aguçaram o senso de design e estratégia dos jogadores, que começaram a pensar em como montar desafios para outros.

Com o avanço da tecnologia, a Nintendo passou a introduzir elementos criativos em diversos jogos, como as pistas personalizadas de "F-Zero X" (N64DD, no Japão) e os modos de edição de estágios em "Super Smash Bros. Brawl" (Wii). Esses recursos, ainda que não tivessem foco exclusivo na criação, demonstravam o interesse da empresa em valorizar a criatividade dos jogadores.

Além disso, a cultura dos mods e ROM hacks também contribuiu para essa mentalidade criativa. Mesmo que não oficialmente apoiados pela Nintendo, esses projetos mostraram o quanto os fãs estavam dispostos a mergulhar na lógica dos jogos e criar experiências novas a partir de estruturas existentes. Isso serviu como inspiração indireta para o desenvolvimento de ferramentas oficiais que permitissem maior liberdade criativa dentro de um ambiente seguro e acessível.

Super Mario Maker: uma revolução acessível

Em 2015, a Nintendo lançou o primeiro "Super Mario Maker" para o Wii U, marcando um divisor de águas. Pela primeira vez, jogadores tinham em mãos uma plataforma oficial e amigável para criar, compartilhar e jogar fases do universo Mario. A interface intuitiva com suporte ao controle touchscreen e a possibilidade de alternar entre estilos gráficos dos jogos clássicos conquistaram uma legião de fãs.

O jogo oferecia ferramentas para criar blocos, inimigos, plataformas e armadilhas, além de definir condições de vitória e regras específicas. A biblioteca de elementos aumentava com o tempo, incentivando a experimentação e o aprendizado. A comunidade em torno do jogo também cresceu rapidamente, com milhares de fases sendo enviadas e avaliadas diariamente.

O sucesso do jogo também pode ser atribuído à sua acessibilidade. Diferente de jogos que exigem conhecimento técnico ou linguagem de programação, o Super Mario Maker permite que qualquer pessoa, de qualquer idade, se aventure na criação de níveis com poucos toques na tela. Isso ampliou enormemente o público interessado por design de jogos.

Super Mario Maker 2: evolução, profundidade e diversidade

Com o sucesso da primeira versão, o lançamento de Super Mario Maker 2 para o Nintendo Switch em 2019 trouxe ainda mais recursos e liberdade criativa. A nova versão incluiu itens, personagens e estilos de jogos adicionais, como o visual de "Super Mario 3D World". Agora, jogadores podiam criar fases com maior complexidade e explorar possibilidades antes impossíveis.

Entre as novidades mais marcantes estão:

. Criação de fases verticais

. Uso de rampas inclinadas

. Condições de vitória específicas

. Multiplayer cooperativo e competitivo

. Modo história com fases feitas pela própria Nintendo


Além disso, o jogo passou a incluir funcionalidades como a criação de mundos inteiros, organizando fases como em um jogo clássico de Mario. Esse recurso permite aos jogadores montar sua própria versão de um jogo completo, com mapa-múndi, fases temáticas e progressão de dificuldade.

Esses elementos ampliaram o apelo do jogo tanto para iniciantes quanto para criadores experientes. Além disso, a plataforma online do Switch facilitou a descoberta e o compartilhamento de conteúdo, consolidando uma comunidade ativa e colaborativa.

Impacto cultural e educacional

Super Mario Maker 2 não é apenas um jogo: é uma ferramenta educacional poderosa. Diversas escolas e professores passaram a utilizá-lo como recurso didático para ensinar conceitos de lógica, design, narrativa e resolução de problemas. A natureza interativa e lúdica do jogo estimula o pensamento crítico e a criatividade, além de desenvolver habilidades digitais importantes para o século XXI.

Criar uma fase envolvente exige planejamento, empatia com o jogador e conhecimento sobre o funcionamento do jogo. Além disso, a experimentação constante leva à melhoria contínua: fases que não funcionam bem são descartadas ou ajustadas, promovendo um ciclo de aprendizado ativo.

Iniciativas como oficinas de game design para crianças e adolescentes têm incluído o Super Mario Maker como ferramenta central. Nessas atividades, os jovens aprendem sobre estrutura de desafios, ritmo de jogo e até mesmo narrativa visual, tudo de forma divertida e intuitiva.

A força da comunidade

Outro aspecto que impulsionou a popularidade de Super Mario Maker 2 foi a participação ativa da comunidade de criadores. Plataformas como YouTube e Twitch foram inundadas por vídeos de fases desafiadoras, dicas de edição e campeonatos online. Criadores famosos como CarlSagan42, PangaeaPanga e GrandPOObear ajudaram a popularizar o jogo com conteúdo inédito e criativo.

Muitos streamers fazem séries inteiras tentando vencer fases extremamente difíceis, conhecidas como "kaizo levels", que se tornaram um subgênero próprio dentro do jogo. Isso incentivou uma cultura de superação e criatividade, com jogadores competindo amigavelmente por inovação e dificuldade.

A Nintendo também promoveu desafios e eventos especiais, incentivando a interação entre os jogadores. Isso criou um ciclo virtuoso: quanto mais fases interessantes surgiam, mais pessoas se sentiam motivadas a criar e compartilhar suas ideias.

Futuro dos jogos de criação

O sucesso de Super Mario Maker 2 pavimenta o caminho para novas experiências criativas dentro do universo dos jogos. O conceito de transformar jogadores em desenvolvedores tende a se expandir, com novas ferramentas mais acessíveis e integradas. A Nintendo, com seu histórico de inovação, certamente continuará explorando esse segmento.

É possível que futuras versões incluam modos de criação colaborativa em tempo real, suporte para mais estilos gráficos e ainda maior interatividade. Outra possibilidade interessante é a integração com inteligência artificial para sugerir melhorias nas fases ou detectar padrões de design ineficientes.

Além disso, os jogos de criação têm servido como porta de entrada para carreiras em desenvolvimento de jogos. Muitos jovens descobrem seu talento para o design através de ferramentas como o Super Mario Maker e seguem caminhos profissionais na indústria de games, seja como level designers, programadores ou artistas.

Ao permitir que qualquer pessoa, com ou sem experiência técnica, possa criar fases desafiadoras e divertidas, a Nintendo deu um passo revolucionário. Super Mario Maker 2 não apenas celebra o legado de Mario, mas também empodera uma nova geração de criadores digitais, que transforma diversão em aprendizado, e imaginação em realidade jogável.