Clau Soares

“Se não tem mar, vamos pro bar”. A frase que ficava exposta em uma placa afixada na Rodovia AL 220, na entrada da cidade, costumava receber quem chegava à Arapiraca já adiantando o clima da cidade. Por aqui, o bar não é somente um estabelecimento comercial, é também o point para encontrar os amigos, assistir ao jogo de futebol, ter um momento de descontração e, para alguns, ter um encontro com a arte.

Entre tantos bares espalhados pelos bairros, o Bar do Paulo tornou-se um ícone e manteve-se em funcionamento, na Rua Dom Jonas Batingas, no Centro, durante mais de três décadas. Inaugurado em 1973, o bar foi uma inovação e trouxe para o interior de Alagoas uma opção para quem queria sair mais tarde de casa. “Arapiraca não tinha vida noturna. Os bares que existiam só funcionavam durante o dia e comecinho da noite. Fui o precursor. Só abríamos depois das 22h”, explica Paulo Lourenço, conhecido como Paulo do Bar.

A trilha sonora do bar marcou toda uma geração que fez questão de passar para a frente a tradição do Bar do Paulo . “O economista e artista plástico Cícero Brito, por exemplo, ia ao meu bar quando era jovem e solteiro para ouvir rock. Hoje, o filho dele, um jovem jornalista, também frequenta lá em casa (o bar)”, afirma.

Paulo orgulha-se da trajetória do empreendimento que, em virtude da frágil saúde do proprietário, foi fechado em 2008. “Tínhamos um diferencial musical”, afirma ao frisar que sempre buscava tocar “algo especial”, como jazz, blues, MPB e rock and roll. “Ele sempre acertava na seleção”, lembra Januário Leite, produtor cultural e um dos idealizadores do projeto DJ do Agreste.

Apesar de o bar estar fechado há cerca de quatro anos, muita gente ainda vai visitar Paulo Lourenço e pede para ele colocar algo para tocar. Por causa desta saudade e do marco que representa na cultura de Arapiraca, Paulo Lourenço foi convidado para comandar a  play list do projeto DJ Agreste, da Secretaria Municipal de Cultura. Iniciado em março deste ano, o projeto visa relembrar os tempos áureos do bar, com apresentações do Paulo do Bar e de convidados especiais, todas as quintas-feiras, até o dia 31 de maio deste ano.

Toda semana, Paulo prepara uma seleção de músicas e coloca para tocar, na concha acústica do Mercado do Artesanato Margarida Gonçalves, no centro de Arapiraca. Em sua coleção, há quatro mil discos, entre CDs e vinis. Um patrimônio invejável que não poderia deixar de ser compartilhado. Hoje com 80 anos, Paulo mantém a disposição e o amor pela música. “Quando a secretária Tânia Maria veio me convidar, achei que era inviável. Então, ela recomendou que eu fizesse apenas como fazia no bar”, explicou. Deu certo.



Os frequentadores do Bar do Paulo aprovaram a iniciativa. “A praça já estava lá, e foi só colocar o Paulo para tocar suas músicas preferidas que acabou tocando todo mundo e nos levando a reviver os tempos áureos do bar”, escreveu o professor Ronaldo Leão, na rede social Facebook, após conferir a primeira apresentação Do DJ do Agreste.

Paulo Lourenço afirma que o bar deixou muitas histórias, saudades e amigos, e que já pensa em realizar alguns eventos para reunir os antigos frequentadores. Bem... mas isso já é outra história.

Fotos: Miguel Magalhães Jr.