Baixo São Francisco

Agonizando, lixo e poluição destroem o Rio São Francisco em Pão de Açúcar

Por Kamylla Lima 15/01/2014 12h12
Agonizando, lixo e poluição destroem o Rio São Francisco em Pão de Açúcar
Lixo acumula às margens do Velho Chico - Foto: 7Segundos

“O rio São Francisco vai bater no ‘mei’ do mar”. Assim cantava o rei do baião, Luiz Gonzaga. Encantado com o caudaloso rio, ele fez essa canção. A pergunta que fica é: hoje, será que Gonzação falaria da beleza do Velho Chico ou dos maus-tratos que ele vem sofrendo ao longo dos anos? A revitalização está parada, os limites do rio podem ser vistos por conta da estiagem e a população não o trata com o devido cuidado.

Ele não é imenso apenas por ser um dos maiores reservatórios de água doce do país, por ter cinco estados que recebem seus afluentes e 504 municípios que podem ter orgulho de ser banhados pelo São Francisco, mas pela esperança que proporcionou a milhares de famílias ribeirinhas há 512 anos, quando foi descoberto.

Mesmo com as águas carregadas de histórias – de lutas e dor –, a população parece não ter o devido cuidado com o rio. Nos festejos de Bom Jesus dos Navegantes, realizada no último fim de semana, enquanto que em Penedo um grupo pedia a revitalização do Velho Chico, a outra parte, em Pão de Açúcar, o tratava com desdém, deixando lixo às suas margens.

Em Pão de Açúcar, parece que muitos esqueceram a gratidão que precisam ter com o São Francisco. Apesar do apelido, “Velho”, ele não pode ser tratado como um decrépito, que está morrendo às vistas daqueles que ainda podem ajudá-lo, mas não o fazem. As pessoas festejam na proa, com as água batendo nos pés, no entanto vão embora e deixam restos de carvão, de latinhas de cerveja, sacolas plásticas e até pacotes de café.

Ao caminhar do Cristo Redentor, um dos cartões-postais da cidade, até as margens do rio, por pouco mais de 1km, os turistas e moradores não encontram uma lixeira. O secretário de Meio Ambiente do município, Cícero Alves, afirmou que a prefeitura instalou lixeiras por toda a praia antes da festa, porém “as pessoas roubaram”. “Depois da festa, o lugar parecia um lixão”, destacou Alves.

O problema do lixo – e do roubo das lixeiras – é antigo, assim como as línguas negras que invadem o São Francisco. Os dejetos dos 20 bares e restaurantes que ficam próximos à proa do rio vão parar no Velho Chico.

Dificuldade crônica na cidade, a questão nunca foi resolvida, “ninguém nunca foi notificado”, como informou o secretário de Meio Ambiente. Para o problema, ele falou da justificativa comum às cidades de Alagoas: “Não há dinheiro”. A solução, segundo ele, será a instalação de banheiros químicos, que serão comprados em uma parceria com os bares e a prefeitura.

Enquanto o dinheiro para pagar os banheiros não chega, o esgoto continua a poluir o rio, as festas, chamariz de gente, continuarão a serem realizadas, a cidade ficará cheia de turistas, que vão continuar a dar importância à preservação do Velho Chico, como aconteceu no último fim de semana.

Mesmo com a ausência de fiscalização da Prefeitura de Pão de Açúcar, a revitalização do São Francisco, projeto que surgiu a partir do Decreto Presidencial, de 5 de junho de 2001, mas só foi incluído nos Planejamentos Plurianuais do Governo Federal em 2004, está parado. “Faz tanto tempo que pararam com o projeto que bem sei quando foi; deve ter uns nove anos já”, afirmou Cícero Alves, secretário de Pão de Açúcar.


 

 

As ações destacadas no site do Ministério do Meio Ambiente sobre o Programa de Revitalização da Bacia do rio São Francisco trazem apenas ações burocráticas, no entanto nada que leve esperança real aos ribeirinhos.