Quando o céu fica nublado, moradores de várias ruas do bairro Guaribas, como os do Loteamento Jacarandá, já começam a ficar preocupados. Quem precisa trabalhar fora teme as dificuldades que terá para chegar em casa, atravessando o barro escorregadio das ruas sem pavimentação. 

“Quem anda de moto, como eu, é quase certo que não vai conseguir chegar em casa sem se sujar na lama, além do risco de acidente e até mesmo de assalto. Mês passado, aconteceram dois assaltos na minha rua, perto da minha casa. Quem está de moto ou de carro precisa reduzir para passar pelos buracos e pelo barro e nessa hora os assaltantes se aproveitam”, afirma José Carlos da Silva Barbosa, que mora na rua Alfredo Soares de Macena.

Ele integra a direção da associação dos moradores do Loteamento Jacarandá e afirma que os moradores da localidade enfrentam vários problemas em decorrência da falta da pavimentação das ruas, que ficam ainda piores em período chuvoso.

“Quem depende de transporte público também passa por muitas dificuldades no dia a dia. Já pedimos a empresa de ônibus para que ela fizesse linha passando por dentro do bairro, mas os veículos quebravam muito por conta dos buracos. Eles preferem fazer um percurso maior, perder passageiros, do que passar por dentro do bairro. Então os moradores precisam ir até o ponto que fica no posto perto da Coca-Cola, ou então pegar um mototáxi. Os estudantes também precisam ir até a pista porque o ônibus escolar não entra no bairro”, declarou.

Para chegar aos pontos de ônibus, os moradores precisam vencer a lama e desviar dos buracos do trajeto a pé. Com a pandemia, se tornou ainda mais difícil sair do bairro em direção a área central da cidade. Além da redução da quantidade de coletivos urbanos, os veículos de passageiros de Feira Grande, que eram outra opção dos moradores, pararam de circular. 

Os transtornos vividos pela comunidade são antigos, mas já poderiam ter sido solucionados. O projeto para a pavimentação e drenagem das ruas do bairro têm recurso desde 2018. No início do ano passado, o prefeito Rogério Teófilo assinou quatro contratos com a Caixa para a liberação de R$ 58 milhões, oriundos do governo federal por meio do Ministério das Cidades, por meio de repasses do deputado federal Arthur Lira, que contemplariam os bairros Verdes Campos, Guaribas, Canafístula e povoado Cangandu. A cerimônia, ocorrida no dia 3 de janeiro de 2019, foi registrada e divulgada pela assessoria de comunicação do município.

A partir de então, de acordo com o presidente da associação do Loteamento Jacarandá, Júlio César, sempre que moradores da região cobravam a execução da obra, o município informava que está em fase de licitação. Mas o processo foi concluído e atualmente faltaria apenas a assinatura do prefeito na ordem de serviço para as obras.

“Coincidentemente duas semanas atrás eu estava passando na frente do cemitério [Santo Antônio] e o prefeito estava lá junto com o vereador sargento Moisés, que é morador do nosso bairro. Falei com o vereador e tive a oportunidade de conversar com o prefeito, que afirmou que o banco já liberou R$ 15 milhões para obras em quatro bairros, incluindo Guaribas. Só que nada do início da obra até agora”, afirma Júlio César.

Os moradores do bairro, então decidiram fazer um abaixo-assinado virtual - tanto em razão da pandemia, como da dificuldade de deslocamento na comunidade - que em pouco mais de 24 horas conta com 160 assinaturas de moradores do bairro. O documento solicita que a obra de pavimentação inicie com uma frente de trabalho no bairro Guaribas, em decorrência tanto dos problemas enfrentados pelos moradores, como pela proximidade do Distrito Industrial, cemitérios, condomínios e a rodovia AL-115. “A pavimentação desse bairro pode se tornar alternativa viável para aliviar o trânsito na avenida João Saturnino de Almeida, que possui trânsito intenso de automóveis leves e pesados”. Quando o documento alcançou cem assinaturas, um e-mail com o pleito dos moradores foi encaminhado ao prefeito Rogério Teófilo.

“Se a obra não começar logo, o mandato dele acaba e o recurso, como não foi utilizado, vai acabar tendo que ser devolvido. Aí voltaremos à estaca zero”, explica Júlio César.

Segurança

Conforme José Carlos relatou no início da matéria, a falta de pavimentação acaba contribuindo também para a ocorrência de assaltos na região. Os criminosos se aproveitam dos trechos da avenida Antônio Barbosa onde os condutores de veículos precisam reduzir a velocidade em decorrência dos buracos e passavam despercebidos devido o mato alto. Ao menos esse problema foi resolvido pelos próprios moradores, como relata o presidente da associação Júlio César. Eles fizeram uma "vaquinha" e arrecadaram dinheiro e compraram agrotóxico e pagaram um trabalhador para aplicar, com o objetivo impedir que o mato fique alto. Com a ajuda de um vereador, eles também passaram uma máquina roçadeira derrubando a vegetação. 

"Depois disso, já percebemos que a quantidade de assaltos que acontecia na região diminuiu muito. Mesmo a noite, quando a gente passa pelo local, consegue ver se tem alguém se aproximando", declarou.

A situação da avenida Antônio Barbosa, inclusive já foi matéria no 7Segundos. Em abril, um morador da localidade mandou um vídeo mostrando a situação da via após a chuva e reclamava também da falta de segurança na região. 

A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura que ficou de enviar informações sobre a obra de pavimentação no bairro Guaribas, mas até o fechamento da matéria não encaminhou nota.