Brasil

Samarco retoma extração de minério em Mariana no ano em que tragédia com 19 mortos completou 5 anos

Como o G1 antecipou em 11 de dezembro, as atividades foram reativadas no Complexo de Germano – onde ficava a Barragem de Fundão. Desde 2015, ninguém foi julgado, nenhuma casa foi entregue e recuperação ambiental não foi concluída

Por G1 MG 24/12/2020 09h09
Samarco retoma extração de minério em Mariana no ano em que tragédia com 19 mortos completou 5 anos
Samarco retoma atividades em Mariana: Complexo de Germano, onde ficava a barragem do Fundão, que se rompeu, tem grande movimentação no dia 11/12 - Foto: TV Globo

A mineradora Samarco confirmou, nesta quarta-feira (23), a retomada de suas atividades em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, cinco anos depois do rompimento da Barragem de Fundão.

O G1 já havia antecipado no dia 11 de dezembro a retomada das atividades da mineradora, que foi confirmada pelo prefeito da cidade, Duarte Júnior (Cidadania). Porém, naquele dia, a Samarco havia dito que estava fazendo testes e negou que tivesse retomado também a produção de minério.

Agora, a mineradora disse que a extração de minério foi reativada no dia 18 de dezembro, no Complexo de Germano – onde ficava a Barragem de Fundão, que se rompeu.

“Tomamos a decisão de retornar de uma forma gradual, com muita segurança e usando novas tecnologias. Este momento reflete o compromisso da empresa com o reinício sustentável, a segurança operacional, o meio ambiente e o relacionamento com as comunidades. Estamos comprometidos com uma mineração moderna, segura e sustentável”, destacou o diretor-presidente da Samarco, Rodrigo Vilela.

A licença para retorno das operações foi concedida em outubro do ano passado (leia mais abaixo).

Em 5 de novembro de 2015, a tragédia matou 19 pessoas, poluiu o Rio Doce e destruiu os vilarejos Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira. Desde então, ninguém foi julgado, nenhuma casa foi entregue aos atingidos e a recuperação ambiental ainda não foi concluída.

Em entrevista ao G1 no início do mês, Letícia Oliveira, do Movimento dos Atingidos por Barragens, disse que a Samarco "não resolveu os problemas que eles criaram".

"A Samarco voltou a funcionar, mas não resolveu os problemas que elas criaram. Milhares de famílias que não foram nem reconhecidas e nem cadastradas como atingidas. Em Mariana, temos o problema do reassentamento que não tem nem previsão", disse Letícia Oliveira, do Movimento dos Atingidos por Barragens.

Tragédia de Mariana, 5 anos: sem julgamento ou recuperação ambiental, 5 vidas contam os impactos no período


Samarco retoma atividades em Mariana: Complexo de Germano, onde ficava a barragem do Fundão, que se rompeu, tem grande movimentação no dia 11/12. — Foto: TV Globo

Samarco retoma atividades em Mariana: Complexo de Germano, onde ficava a barragem do Fundão, que se rompeu, tem grande movimentação no dia 11/12. — Foto: TV Globo


Em um comunicado no dia 11 de dezembro, o prefeito da cidade disse que a volta das atividades da Samarco será "positiva" para a cidade:

"Nossa economia vem melhorando, dentro do possível, mas reconheço a importância da mineradora na geração de emprego neste momento e tenho a certeza que o reflexo deste retorno será positivo para milhares de famílias e, consequentemente, para toda cidade".

Samarco retoma atividades em Mariana: Complexo de Germano, onde ficava a barragem do Fundão, que se rompeu, tem grande movimentação no dia 11/12. — Foto: Reprodução/TV Globo

26% da capacidade

Segundo a Samarco, para o reinício gradual da produção, "a empresa reativou um dos seus três concentradores, no Complexo de Germano, e a usina de pelotização 4, no Complexo de Ubu. Em outubro e novembro de 2020, foram realizados os comissionamentos a frio e a quente das estruturas, que são testes que verificam o funcionamento elétrico-mecânico dos equipamentos necessários para garantir a segurança das operações".

A mineradora informou ainda que vai voltar a operar com 26% de sua capacidade, uma produção prevista de oito milhões de toneladas de minério de ferro por ano. A previsão é que a empresa atinja a capacidade total em nove anos.

Em nota, a Fundação Renova, criada pela Vale, BHP Billiton e Samarco para executar projetos de reparação de danos da tragédia, disse que permanece dedicada ao trabalho de reparação dos danos provocados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. Segundo ela, até 30 de setembro de 2020 foram destinados R$ 10 bilhões para ações de recuperação.

"Os reassentamentos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo ganham forma nas primeiras casas sendo concluídas, nas ruas pavimentadas, bens coletivos em etapa final, vias iluminadas e obras de infraestrutura avançadas. As obras foram adaptadas ao cenário da COVID-19. Cerca de 470 famílias participam ativamente do processo. A questão do prazo está sendo tratada no âmbito de uma Ação Civil Pública, tendo sido o juízo devidamente informado sobre os impactos da Covid-19 no andamento das obras desses reassentamentos", disse a fundação.

Ainda segundo a fundação, a água do Rio Doce já pode ser consumida e serão reflorestados 40 mil hectares de Mata Atlântica na bacia.

Licença concedida em 2019
A mineradora afirmou que "o reinício gradual acontece após a empresa obter licenças ambientais aprovadas por órgãos competentes e incorporar novas tecnologias para disposição final de rejeitos – cava confinada e sistema de filtragem de rejeitos para empilhamento a seco”.

Em outubro de 2019, o Conselho Estadual de Política Ambiental de Minas Gerais (Copam) aprovou a concessão de uma licença que permite a Samarco voltar a operar em Mariana.

Após o rompimento, a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do estado (Semad) havia suspendido, em agosto de 2016, todas as licenças relacionadas à operação da mineradora na cidade. A empresa ficou, apenas, com as autorizações para obras emergenciais para garantir a estabilidade das estruturas remanescentes na mina e também para controle do dano ambiental no local.

A licença corretiva, aprovada em 2019 pelo Copam, substituiu 36 licenças anteriores e reuniu 14 processos de licenciamento que estavam em aberto.