Brasil

Pai de líder do PMDB ganha obras dos Jogos Olímpicos sem licitação

Contratos, que somam mais de R$ 100 milhões, foram feitos após rescisão de acordo com empreiteiras

Por UOL 08/07/2016 06h06
Pai de líder do PMDB ganha obras dos Jogos Olímpicos sem licitação
- Foto: Ricardo Borges

A Prefeitura do Rio contratou sem licitação duas empreiteiras da família do deputado André Lazaroni, líder do PMDB na Assembleia Legislativa do Rio, para concluir obras olímpicas em atraso.

Os contratos somam mais de R$ 100 milhões.

As construtoras Zadar e a Engetécnica, responsáveis respectivamente pela finalização do Centro Olímpico de Hipismo e do Velódromo, pertencem a Paulo Roberto Moraes, pai do deputado.

Os dois contratos sem licitação foram feitos após o município rescindir o acordo com as empreiteiras responsáveis pelas arenas.

Elas haviam vencido concorrências para a obra, mas não conseguiram cumprir os prazos. O Velódromo e o Centro Olímpico ainda estão em obras e são as instalações que mais preocupam a organização dos Jogos.

O vínculo entre Lazaroni e a Engetécnica foi revelado nesta quinta (7) pelo telejornal "SBT Rio". A Folha apurou que a Zadar também faz parte do patrimônio da família do deputado. As duas integram o grupo Riwa.

A Empresa Olímpica Municipal disse, em nota, que as empresas apresentaram as melhores propostas. As empresas e Lazaroni não comentaram o caso.

VALORES

A Zadar foi contratada por R$ 66 milhões após a prefeitura romper o contrato com a Ibeg Engenharia para a reforma do Centro de Hipismo.

O administração do município alegou em janeiro que a empresa não conseguia cumprir os prazos contratuais. A Ibeg afirmou, contudo, que constantes alterações e atrasos na entrega dos projetos da obra resultaram no atraso da reforma.

A Engetécnica substituiu em maio a Tecnosolo na construção do Velódromo. Foi firmado contrato de R$ 55,5 milhões para conclusão da obra.

Ela já havia sido subcontratada pela titular do contrato. A Tecnosolo está em recuperação judicial e enfrentou dificuldades para realizar pagamentos antes dos repasses da prefeitura.

As duas empresas de Moraes também foram as responsáveis pela construção do Estádio Olímpico de Esportes Aquáticos. Elas formaram o consórcio Onda Azul e venceram licitação da obra da arena, orçada atualmente em R$ 235 milhões.

ALIADOS

Lazaroni não faz parte do grupo próximo de Paes, mas é aliado do ex-governador Sérgio Cabral, de quem foi secretário de Esporte e Lazer.

Esse não é o primeiro caso de relação entre político e obras olímpicas.

Uma empresa da família do ministro dos Esportes, Leonardo Picciani (PMDB), foi fornecedora de britas para a construção do Parque Olímpico da Barra.

Empresa da família do secretário de Turismo e tesoureiro de campanha de Paes, Antônio Pedro Figueira de Mello, foi a responsável pelo gerenciamento de obras para os Jogos.

OUTRO LADO

A Empresa Olímpica Municipal disse, em nota, que as empreiteiras Zadar e Engetécnica apresentaram as melhores ofertas na tomada de preços para "herdar" a reforma do Centro de Hipismo e a construção do Velódromo.

As empresas têm como sócio Paulo Roberto Moraes, pai do líder do PMDB na Assembleia, André Lazaroni.

De acordo com o município, não era possível realizar licitação em razão do prazo para conclusão da obra.

Devido a "proximidade dos Jogos e da impossibilidade de paralisar obras para cumprimento do tempo de procedimento licitatório, a RioUrbe optou pela contratação emergencial, com cotação no mercado", diz a nota. "Foram consultadas diversas empresas de engenharia, todas com notória qualificação técnica, para tomada de preços."

A prefeitura diz que a Zadar teve "ótimo desempenho na execução do Estádio Olímpico de Esportes Aquáticos", para a qual foi contratada após licitação.

As empreiteiras não quiseram se pronunciar. Lazaroni não respondeu às ligações e às mensagens da reportagem até a conclusão desta edição.