MPF confirma que negocia acordo de delação premiada com executivos da OAS
O Ministério Público Federal confirmou na audiência desta quinta-feira (4) que está em negociação de acordo de colaboração premiada com ex-executivos da construtora OAS. A declaração foi feita no início do depoimento do ex-diretor da empresa Agenor Franklin Medeiros, após o advogado Cristiano Zanin Martins, que representa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, perguntar ao juiz Sérgio Moro sob qual condição seria tomada a oitiva.
Martins perguntou, com base em uma reportagem que leu antes do início da audiência, se havia algum acordo informal entre os procuradores da força-tarefa da Lava Jato e Medeiros. Um dos procuradores, que não é identificado no vídeo, respondeu sobre a possível delação. "Não há nenhum acordo informal do Ministério Público, seja com esse réu ou com qualquer um dos réus interrogados. O que há são negociações de acordos de colaboração com alguns executivos da empreiteira OAS", afirmou.
Um dos advogados que representa Medeiros também confirmou as tratativas. "Sim, doutor Cristiano. Existem tratativas em andamento. Não existe nenhum acordo formalizado e a orientação de falar a verdade e colaborar parte da defesa, que eu estou assumindo agora, não só nesse caso, como nos outros", afirmou.
Martins insistiu no questionamento sobre a obrigação de falar a verdade ou não. Delatores que já firmaram acordos com a Justiça declinam do direito ao silêncio em audiências em que são réus, sendo obrigados a falar a verdade. Já quem não tem acordo pode até mesmo omitir fatos, pois não é obrigado pela lei a se auto-incriminar. O advogado de Lula alega que essa situação pode prejudicar a defesa.
Moro, no entanto, indeferiu os questionamentos da defesa de Lula. Quando abriu, de fato, o depoimento de Medeiros, lembrou o réu de que ele não poderia mentir, sob o risco de ser processado por falso testemunho.
No momento em que a defesa de Lula pode questionar Agenor Medeiros, o advogado voltou à questão. "“Eu jamais estive com qualquer procurador e os meus advogados é que estão conversando. Então, o que eu estou revelando, não é revelando, o meu depoimento aqui hoje, ele... a princípio, eu não tenho nenhum benefício definido até agora em relação ao que eu estou falando. Zero de benefício até agora. Desconheço. Agora, os meus advogados estão conversando” disse Medeiros
O processo
Nesta ação penal, o MPF acusa o ex-presidente de receber um apartamento triplex, no Guarujá, litoral paulista. O imóvel faz parte de uma série de obras que a OAS assumiu após a falência da antiga cooperativa de crédito do Sindicato dos Bancários de São Paulo, a Bancoop.
Quando ainda era parte do Bancoop, a família Lula possuía uma cota de um apartamento no edifício que seria construído. No entanto, a defesa do ex-presidente diz que a ex-primeira-dama Marisa Letícia decidiu suspender o negócio quando houve a transferência de responsabilidade para a OAS, recebendo os valores já pagos para o Bancoop.
O MPF sustenta, porém, que a OAS queria entregar o apartamento a Lula, como contrapartida por supostos serviços prestados por ele, atuando em favor da empresa junto a contratos com a Petrobras.
A afirmação está baseada, entre outras coisas, em visitas feitas pela família de Lula ao imóvel, em 2014. O apartamento recebeu uma série de melhorias após essa visita, incluindo a instalação de um elevador privativo para dar acesso aos andares do imóvel.
Em depoimento, o ex-presidente da empresa, José Aldemário Pinheiro Filho, conhecido como Léo Pinheiro, afirmou que, quando houve a divulgação de que o triplex pertenceria a Lula, ele procurou João Vaccari Neto e, depois, Paulo Okamotto para saber como proceder, uma vez que o triplex estava em nome da OAS.
“A orientação que foi me passada naquela época foi ‘toque o assunto do mesmo jeito que você vinha conduzindo. O apartamento não pode ser comercializado, o apartamento continua em nome da OAS, e, depois, a gente vai ver como fazer a transferência ou o que for’”. De acordo com Pinheiro, assim foi feito.
Segundo o empresário, a cota pertencente a Lula e a Dona Marisa era de um apartamento típico do edifício Solaris (a unidade 141), e não de um triplex (a unidade 164). A diferença de preço entre o imóvel adquirido pela família do ex-presidente e o triplex ficava em torno de R$ 750 mil e R$ 800 mil. Essa diferença, segundo o réu, foi abativa no encontro de contas com João Vaccari.
"Eu fui orientado que esse apartamento eu poderia negociá-lo, porque o apartamento da família seria o triplex". Essa orientação, ainda de acordo com Léo Pinheiro, partiu de Vaccari e de Okamoto.
Pinheiro disse que o triplex tinha área três vezes maior do que a dos demais apartamentos e que valor era duas vezes e meia maior. Ainda segundo o réu, em momento algum foi falado que o presidente pagaria a diferença de preço.
Versão diferente
Outros ex-executivos da OAS que prestaram depoimento deram versões diferentes sobre o caso do apartamento. Eles disseram que não tinham conhecimento de que as obras executadas no apartamento seriam, de fato, para que o ex-presidente pudesse ficar com o imóvel. Fábio Yonamine e Paulo Gordilho disseram que as melhorias foram requisitadas por Pinheiro e que eles apenas obedeceram às ordens.
Os dois, porém, confirmaram à Justiça as visitas da família Lula ao apartamento, em 2014. Uma delas, inclusive, teve a presença do próprio ex-presidente, e a outra, apenas de dona Marisa e Fábio Luis Lula da Silva, filho do casal.
Fase final
Após o depoimento de Lula, o processo chegará à fase final. O MPF e as defesas poderão pedir as últimas diligências. Caso isso não ocorra, o juiz determinará os prazos para que as partes apresentem as alegações finais. Em seguida, os autos voltam para Moro, que vai definir a sentença, podendo condenar ou absolver os réus. Não há prazo para que a sentença seja publicada.