Economia

Àgua, luz, combustível: Como o aumento nestas contas afeta a vida do maceioense

O portal 7Segundos conversou sobre o assunto com o economista e professor da Ufal, Cícero Pericles

Por João Arthur Sampaio 10/07/2021 08h08
Àgua, luz, combustível: Como o aumento nestas contas afeta a vida do maceioense
Em Maceió, contas aumentam e a desgiuladade social também - Foto: Ilustração

Água aumentou. O preço dos alimentos também. A conta de luz aumentou; 52% na bandeira vermelha. O gás de cozinha já beira os R$ 100, em alguns estados já passou, mas não é o caso de Alagoas; ainda. E a gasolina dispensa comentários, vindo do 12º reajuste consecutivo.

No mês de junho, o levantamento do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese) calculou que o valor da Cesta Básica nas capitais nordestinas era cerca de R$ 500; e que o salário mínimo necessário para uma família de quatro pessoas era de R$ 5.400.

Porém, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, em maio, o valor médio dos rendimentos das pessoas em Alagoas era de R$ 1.630. Número 3,3 vezes menor que o valor ideal. Quando comparado ao salário-mínimo vigente no Brasil em 2021, que é de R$ 1.100, a diferença é ainda maior, uma vez que a quantia é cerca de um quinto do calculado pelo Dieese.

Em Maceió, os números são ainda menores e a desigualdade social foi intensificada no comparativo entre os primeiros trimestres de 2020 e 2021. Dados da quarta edição do Boletim de Desigualdade nas Metrópoles, realizada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), apontam que na capital alagoana a renda domiciliar per capita do trabalho caiu 1,5%, indo de R$ 701 em 2020 para R$ 690 neste ano.

Além disso, o levantamento também evidencia que os 10% do topo da distribuição de renda tiveram um aumento na vantagem dos ganhos em relação aos 40% da base de distribuição de renda. Agora, os ricos ganham 54,6 vezes mais que a população da base.

Impactos no dia a dia

O portal 7Segundos conversou com o economista e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Cícero Péricles, para avaliar como esses aumentos impactam na vida da população do estado.

"É muito pouco para uma família enfrentar um mês de consumo. Evidentemente que esse rendimento é todo dedicado ao pagamento de suas compras básicas. O primeiro impacto será sobre as famílias de baixa renda, as que recebem entre 1 e 2,5 salários-mínimos", explicou.

A inflação geral mede a elevação de preços por um determinado período, que pode ser um mês, um ano, etc. "Essa elevação geral de preços é medida por um conjunto de produtos e serviços e dentro dela existe a inflação de alimentos, que é a mais sentida. No ano passado a inflação geral foi de 4,5% e a de alimentos foi de 14%, ou seja, mais de três vezes o valor. Este ano, a inflação geral projetada até dezembro é de 6%", detalhou.

Para Cícero, isso significa um maior crescimento no preço de produtos básicos além dos alimentos, como remédios, combustíveis e gás de cozinha, que em Maceió pode chegar até R$ 90.

"Em Alagoas, as famílias que têm uma renda de até dois salários mínimos formam um conjunto majoritário de 80%. No primeiro movimento, a maioria dessas famílias tenta substituir alguns produtos por outros mais baratos, como no caso da alimentação, trocando carne bovina por frango ou ovos; manteiga por margarina; e, num segundo movimento, reduzem as compras, afetando suas necessidades básicas".

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Consumidor deve escolher o que coloca no carrinho de compras - Getty Images/iStockphoto


Mas o Governo Federal teria como evitar esses aumentos?

Na opinião do economista faltam políticas públicas setoriais dirigidas para a maioria da população, como por exemplo uma política agrícola que privilegie o abastecimento da população nacional, principalmente, a mais pobre. "A prioridade hoje é a exportação dos alimentos e matérias primas, como o milho, carne, soja e arroz em detrimento do mercado interno, uma as responsáveis pela inflação".

Em 2017, a Petrobras vinculou os preços dos combustíveis ao mercado internacional. Cícero avalia que isso penaliza o consumidor brasileiro, que acaba sendo mais afetado pelo valor do gás.

"Falta uma política habitacional que priorize a construção de moradias populares, enfrente o problema do déficit habitacional e atenue a penalidade que é o aluguel de uma residência. Faltam essas e muitas outras políticas econômicas que atendem essas demandas", ressaltou.