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Homem de 60 anos se torna 1° paciente não terminal a realizar eutanásia na Colômbia

Ele possuía doença pulmonar obstrutiva crônica, hipertensão e sequelas

09/01/2022 14h02 - Atualizado em 10/01/2022 08h08
Homem de 60 anos se torna 1° paciente não terminal a realizar eutanásia na Colômbia
Victor Escobar Prado se despede de familiares antes de sua eutanásia em Cali, na Colômbia, na sexta-feira (7) - Foto: Reprodução/Twitter/Luis Giraldo

GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) - O colombiano Víctor Escobar, 60, tornou-se nesta sexta (7) a primeira pessoa sem uma doença terminal a realizar a eutanásia na Colômbia. Ele possuía doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e hipertensão, além de consequências de dois acidentes vasculares cerebrais e de um acidente de carro que sofreu.

A Colômbia é o único país latino-americano onde o direito à interrupção da vida é legalizado. A norma, regulamentada há sete anos, permitia que apenas pacientes terminais pudessem realizar o procedimento, mas decisão de julho ampliou o direito para abranger os que sofrem enfermidades não curáveis.

Mais de 150 colombianos já pediram acesso à eutanásia e a realizaram, mas o assunto voltou a gerar discussão quando, em outubro, a medida que interromperia a vida de uma mulher com esclerose lateral amiotrófica (ELA), que leva gradativamente à paralisia de todos os músculos e, consequentemente, à morte, foi interrompido. A paciente recorreu, mas a eutanásia ainda não foi remarcada.

Escobar, que acessou o procedimento nesta sexta, trabalhou como motorista de transporte de carga durante toda a adolescência e vida adulta, segundo informações do jornal colombiano El Tiempo.Aos 24 anos, sofreu um acidente e foi submetido a três cirurgias na coluna. Em outubro de 2007, sofreu o primeiro AVC e, três meses depois, o segundo, após o qual teve paralisia do lado direito do corpo. Em 2015, recebeu o diagnóstico de uma doença pulmonar.

Pai de quatro filhos, Escobar agradeceu a todos que o apoiaram em um vídeo enviado por seu advogado, Luis Giraldo Montenegro, aos veículos de mídia do país. Ele havia marcado uma entrevista coletiva horas antes do procedimento, mas cancelou o evento para ter mais tempo com a família antes da eutanásia.

"A nossa luta quer garantir que pacientes como eu, que não são terminais, mas tem condições degenerativas, possam ter direito a uma morte digna", disse ele. "Obrigado a todos os colombianos que, de uma forma ou de outra, nos deram apoio e confiança para seguir adiante."

Escobar também fez um apelo para que empresários do país deem trabalho para sua esposa, Diana Nieto, com quem é casado há 15 anos, em especial em confecções, para que ela possa se sustentar.O colombiano pleiteou duas vezes o direito à interrupção da vida. Na primeira, em 2020, o comitê responsável pela permissão negou a solicitação, devido ao fato de o procedimento ser assegurado somente para pacientes com doenças terminais. Quando a Corte Constitucional expandiu os beneficiados pelo direito, ele pediu novamente e recebeu resposta positiva.

"Este é um momento muito importante para a Colômbia; é o primeiro paciente na América Latina que recebe a eutanásia sem ser um paciente terminal", disse o advogado Luis Giraldo em um vídeo publicado no Twitter. Ele afirmou que Escobar, que morreu às 21h20 (23h20 em Brasília), decidiu doar os órgãos.

O primeiro paciente terminal a ter direito legal ao procedimento na Colômbia foi Ovidio Gonzalez, então com 79 anos, que tinha um câncer de boca, em 2015. Sua defesa também teve de entrar com um recurso a uma decisão que suspendeu a eutanásia e, no final, acabou cumprindo-se a vontade do paciente.

A Fundação pelo Direito de Morrer Dignamente da Colômbia acompanha, no momento, cinco casos de pessoas que buscam o direito à interrupção da vida, dois dos quais de pacientes não terminais.

Nos demais países da América Latina, a prática é ilegal, mas há sinais de mudança. No México, há um projeto em análise no Congresso. No Chile, onde 72% da população aprova o recurso, a história de Cecilia Heyder, 52, que tem câncer, lúpus e sepse, chegou à Corte Suprema, e o caso comoveu deputados. Agora, a eutanásia no país depende do Senado –na Argentina também há uma proposta em andamento.