Saúde

'Não há indícios de surto atual em Maceió', diz infectologista sobre recentes casos de meningite

Sociedade Alagoana de Infectologia reforça que é necessário manter atualizado o calendário de vacinas das crianças disponíveis pelo SUS

Por Jamerson Soares/7Segundos 12/10/2024 08h08 - Atualizado em 12/10/2024 08h08
'Não há indícios de surto atual em Maceió', diz infectologista sobre recentes casos de meningite
Vacinação em crianças é essencial para construir uma barreira contra a meningite - Foto: Reprodução

Nos dias 16 e 29 de setembro deste ano, um ex-funcionário e um funcionário de um supermercado em Maceió morreram de meningite. A Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) confirmou que o primeiro estava com meningite viral e o outro com meningite pneumocócica, doenças com formas de evolução e transmissão distintas e sem vínculo epidemiológico entre os dois casos.

Essa notícia assustou muitos maceioenses e pessoas de outros municípios alagoanos, chegando até no imaginário social de que estaríamos vivendo um surto da doença em Alagoas. Porém, segundo a médica Mardjane Alves, que é especialista em infectologia há 14 anos e presidente da Sociedade Alagoana de Infectologia, não há indícios de surto de meningite na capital.

"Não há indícios de surto de meningite em Maceió. Não está tendo aumento de casos. A quantidade de casos está dentro da média da série histórica, ou seja, dos últimos dez anos. Nós tivemos uma fuga, uma elevação da curva no ano de 2023, e isso se deveu ao surto que nós tivemos de doença tóxica, que é o tipo de meningite com maior risco de transmissão. Então, os casos registrados em 2024 não indicam nenhuma situação de preocupação, de fuga da curva endêmica, ou seja, daquilo que já é o esperado de casos para esse período do ano", explicou a médica.

De acordo com um levantamento da SMS, até a terça-feira (8), o Município registrou um total de 30 casos confirmados da doença, 11 óbitos e 178 casos suspeitos. Desses, 105 foram descartados, 30 confirmados e 42 estão em investigação.

O 7Segundos também entrou em contato com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) para saber a quantidade da casos em Alagoas. A Sesau informou que do dia 1º de janeiro a 8 de outubro deste ano, o Boletim Epidemiológico da doença Meningocócica em Alagoas apontou para a notificação de 15 casos confirmados de meningite, sendo 12 casos do tipo B e três sem identificação.

Os 12 casos foram diagnosticados em Maceió, um em Jequiá da Praia, um em Flexeiras e um em Satuba.

"Então, o cenário das meningites no momento não é preocupante, porque o que tem predominado esse ano são as meningites virais. Houve casos de doença pneumo clássica de meningite, pneumo clássica e de meningite clássica, mas uma quantidade esperada para a curva habitual", enfatizou a Dra. Mardjane.

Questões pessoais e individuais

A doutora também explicou que existem vários tipos de meningites, como a pneumocócica, tuberculosa, fúngica e viral, mas as mais comuns são as meningites virais, pois tendem a ter quadros mais leves. Em segundo lugar, estão as bacterianas (pneumo e a meningocócica). Vale lembrar que meningite é uma doença que se caracteriza por uma inflamação das meninges, as membranas que protegem o cérebro e a medula espinhal.

"O paciente com AVC, por exemplo, ele pode ter sinais de meningite, uma inflamação do sistema nervoso central. Mas as meningites infecciosas são várias e as principais são as virais. A meningocócica, que é contagiosa, requer medidas de prevenção após um contato com caso positivo. Para que a gente caracterize um surto, é necessário ter um número X de casos provocados pela mesma bactéria em pessoas que compartilham o mesmo ambiente, que seja uma bactéria com potencial de transmissão como mínimo que ocorra."

Para a especialista, o caso dos funcionários do supermercado que morreram por causa da doença não é alvo de preocupação, porque são dois casos diferentes, são etiologias, ou seja, causados por micro-organismos diferentes, referentes a questões pessoais e individuais.

Por exemplo: infecções não tratadas adequadamente, complicações, sinusites que não foram tratadas adequadamente, otites que não foram tratadas adequadamente, pneumonia que não foi tratada, acabam complicando com a meningite.

"Então, não é uma bactéria que invade direto o sistema nervoso central. Ela tem uma cadeia de acontecimentos que é muito relacionada com as questões individuais. Não significa que compartilhar o mesmo ambiente tem aumentado o risco dos funcionários adoecerem. Não há, nesse momento, nenhum tipo de preocupação em relação ao cenário específico do supermercado", pontuou.

A doutora informou que a doença tende a ocorrer com mais frequência entre crianças com menos de cinco anos de idade, especialmente as mais novinhas com menos de um ano, e em idosos.

Como se prevenir?

A transmissão da meningite pode ocorrer por meio de gotículas de saliva, secreções do nariz e da garganta, ou por objetos contaminados, como também por meio da fala, tosse e beijos. Mas, como se prevenir?

Segundo a médica Mardjane Alves, a primeira barreira contra essa doença é a vacinação e manter o calendário básico vacinal atualizado, de acordo com a faixa etária e os fatores de risco. Não é necessário que um adulto jovem saudável tome uma vacina, por exemplo, para meningite pneumo porque o sistema imunológico de uma pessoa saudável, que não tem nenhuma doença crônica, consegue dar conta dessa infecção.

"É muito importante que as pessoas não negligenciem os cuidados gerais com a saúde, os cuidados em geral com a saúde. É importante que elas mantenham o calendário vacinal para as doenças respiratórias, como o influenza, porque esses vírus podem acabar abrindo porta de entrada para outras infecções bacterianas que podem complicar com a meningite", concluiu.

Qualquer pessoa que apresente uma dor de cabeça intensa, acompanhada de febre e vômitos, ela pode procurar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Lá ela vai passar por uma triagem e, se realmente for um caso suspeito de meningite, ela vai ser encaminhada para os hospitais de referência, como o Hospital Dr. Helvio Auto, no bairro do Trapiche.

No momento não há a recomendação de uso de máscara pela população, a menos que seja alguém imunodeprimido (que não apresenta imunidade normal) que está frequentando um ambiente de aglomeração.

NOTA DE ESCLARECIMENTO

A Sociedade Alagoana de Infectologia, baseada nos dados divulgados regularmente pelo Ministério da Saúde, esclarece que não há indícios de surto atual de nenhum tipo de meningite na Cidade de Maceió.

Observamos que os casos de meningite meningocócica do tipo B continuam ocorrendo na cidade desde o surto de 2023, mas agora com frequência mais espaçada e menos concentrados, com casos distribuídos em vários bairros de Maceió e em cidades do interior.

Reforçamos a importância da inclusão da vacina contra o meningococo B no calendário básico vacinal brasileiro, para que todas as crianças tenham acesso a esta proteção, ainda mais no cenário estabelecido de circulação constante desta bactéria, não só em Maceió, mas em todo o território nacional.

Relembramos a população que o meningococo B não é a única causa de meningite, e que manter o calendário básico de vacinas disponíveis no SUS atualizado, garante proteção contra vários outros tipos de meningites, virais e bacterianas.

Maceió, 11 de outubro de 2024