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Noiva de prefeito preso é investigada; desvio em Camaragibe pode chegar a R$ 60 milhões

A cantora Taty Dantas foi exonerada da Secretaria Municipal de Assistência Social nesta sexta (21)

Por G1 PE 21/06/2019 16h04
Noiva de prefeito preso é investigada; desvio em Camaragibe pode chegar a R$ 60 milhões
Prefeito de Camaragibe, Demóstenes Meira, é preso nesta quinta-feira (20) - Foto: Reprodução

A cantora Taty Dantas, noiva do prefeito de CamaragibeDemóstenes Meira (PTB), afastado e preso com mais quatro pessoas por suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro fraude em licitação e organização criminosa, também é investigada pela Polícia Civil. O rombo nas contas do município devido à atuação do grupo preso pode chegar a R$ 60 milhões, segundo o Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE). (Veja vídeo acima)

Segundo a delegada Jéssica Ramos, a ideia de investigar Taty Dantas, que foi exonerada do cargo de secretária de Assistência Social do município nesta sexta-feira (21), é entender se a movimentação financeira da cantora condiz com a renda dela.

"Ela prestou depoimento e mencionou a compra de um imóvel em São Paulo com uma entrada de R$ 60 mil. Ela também estava fazendo orçamentos de casamento em uma casa de festas grande no Recife, para uma festa no fim deste ano", afirma a delegada. O G1 tenta contato com Taty Dantas.

O salário dos secretários municipais de Camaragibe pode chegar a até R$ 5 mil, mas há também recursos de shows particulares que ela alegou fazer. "Não temos provas robustas de que ela pratica lavagem de dinheiro, mas vamos seguir investigando para saber a origem do dinheiro", declara.

Ainda segundo a delegada, foi encontrado um contrato firmado entre Taty Dantas e Demóstenes Meira, para que ele empresariasse a carreira de cantora da noiva. "No contrato, ficou determinado que ela daria metade da renda dos shows a ele, mas houve diversas apresentações da cantora no próprio município de Camaragibe", conta.

Esquema de 'amigos de longa data'

Na segunda fase da Operação Harpalo, deflagrada na quinta (20), a Polícia Civil constatou um conluio entre empresas que pertenciam a uma mesma pessoa para disputar processos licitatórios da prefeitura de Camaragibe para a manutenção de escolas públicas. Depois de uma dispensa de licitação, a empresa escolhida foi a de Carlos Augusto Bezerra de Lima, também preso nessa etapa da operação.

A empresa vencedora firmou um contrato de R$ 1,2 milhão. Desse total, foi constatado, ainda na primeira fase da operação, um desvio de R$ 117 mil. Na segunda fase, a polícia encontrou provas da amizade entre Meira e Carlos Augusto.

"Comprovamos um vínculo subjetivo entre o prefeito e o empresário que comanda essas empresas. A sede da empresa vencedora fica numa praia em Natal e é um imóvel residencial. O prefeito foi ate lá numa BMW que não está no nome dele junto com a noiva, Taty Dantas, nesse local no ano passado. Há e-mails de Carlos solicitando aprovação da entrada de um 'amigo de longa data' no local", afirma Jéssica.

De acordo com a procuradora do Tribunal de Contas do Estado, Germana Galvão, o desvio de dinheiro público no município tem causado prejuízo aos moradores. "Recentemente a população de Camaragibe reclamou do fechamento de unidades de saúde, então esse dinheiro poderia ter feito a diferença nesse setor, por exemplo", afirma.

Confira os nomes dos cinco presos

Demóstenes Meira - prefeito de Camaragibe

Severino Ramos da Silva - empresário

Luciana Maria da Silva - esposa de Severino

Carlos Augusto Bezerra de Lima da Silva - empresário

Joelma Soares - esposa de Carlos

Os presos foram encaminhados ao Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima. As duas mulheres seguiram para a Colônia Penal Feminina do Recife.

Na quinta (20), os advogados de Demóstenes Meira, Ademar Rigueira e André Caúla, afirmaram que a decisão de afastamento do cargo e a prisão preventiva não cumpriram os requisitos legais, pois nenhum motivo novo foi apresentado pela Polícia Civil ao Tribunal de Justiça de Pernambuco, além dos que já haviam sido indeferidos pelo desembargador relator em março deste ano.

A defesa de Meira também disse que vai tentar habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os advogados dos outros quatro presos foram ao Draco na quinta (20), mas não falaram com a imprensa.