Mãe morre sete dias após filho falecer com suspeita de Covid-19, em São Miguel dos Milagres
Cícera Benedita não se conformou por não ter dado o último adeus ao filho
Ninguém consegue mensurar a dor de uma mãe ao perder um filho. Nestes tempos de pandemia, as pessoas que morrem são colocadas em um saco e lacradas no caixão antes mesmo de saírem da unidade hospitalar onde estavam internadas. Este é o protocolo determinado pelos dos órgãos de saúde que tem como principal objetivo evitar a contaminação com o coronavírus.
Para a família, e principalmente, para uma mãe, essa cruel e inesperada forma de enterrar um filho está sendo avassaladora. Não é permitido velório, e o sepultamento tem que ser rápido e com o número mínimo de pessoas no cemitério. Para quem perdeu um filho devido às complicações da covid-19, esse momento causa mais dor e inconformidade, por não poder velar e dá o último adeus ao ente querido.
Na manhã desta sexta-feira (22), a dona Cícera Benedita de Lima, 68 anos, morreu em consequência de um infarto fulminante. Na última segunda-feira (18), Cícera Benedita perdeu um filho para a suspeita da covid-19 e não pode vê-lo porque o caixão estava lacrado seguindo o protocolo de saúde em função da pandemia. Mãe e filho moravam em São Miguel dos Milagres, no litoral Norte de Alagoas.
A morte precoce do filho e a nova forma dos sepultamentos trouxeram consequenciais e sequelas emocionais para Cícera Benedita. Segundo parentes, desde a morte do filho, ela ficou muito deprimida e não se conformava por não ter visto o filho pela última vez.
Laís Noete, neta de Cícera Benedita, disse que a vó não suportou toda essa situação e acredita que ela sofreu o ataque cardíaco em decorrência de toda agonia que vinha sentindo desde a morte do filho.
“Não teve enterro, não teve velório, o mais doloroso foi isso, ninguém chegou a ver ele nem nada (...)”. “Só que ficamos todos na porta quando o carro passou lacrado” , afirmou Laís Noete.
O filho de Cícera Benedita, José de Lima, mais conhecido como “Zé”, tinha diabetes, e na semana passada apresentou os sintomas semelhantes ao coronavírus.
O quadro de saúde dele piorou e José de Lima foi levado socorrido pela equipe do Serviço de Atendimento Móvel (Samu) até Maceió, mas no trajeto não resistiu e morreu.
A causa da morte foi dada como “suspeita de covid-19”.
A família não acredita na versão dada pelos médicos, mas ainda espera os resultados do exame para atestar ou não se a causa foi covid-19.