Brasil

‘Manhãs de Setembro’ traz drama plural com um Brasil triste

Nova série original brasileira Prime Video estreia nesta sexta-feira, 25

Por Istoé 27/06/2021 18h06
‘Manhãs de Setembro’ traz drama plural com um Brasil triste
Liniker como Cassandra, em Manhãs de Setembro, nova série nacional Amazon - Foto: Reprodução/Web

Após sucesso com Dom, a Amazon Prime Video lança nesta sexta-feira, 25, mais uma produção nacional a série Manhãs de Setembro, que é estrelada pela cantora e compositora Liniker, marcando a sua estreia oficial na dramaturgia, e acerta mais uma vez.

Manhãs de Setembro acompanha a trajetória de Cassandra, papel de Liniker. Mulher trans, ela deixa sua cidade natal para tentar a sorte em São Paulo. A série começa quando ela tem a sua primeira conquista: seu primeiro apartamento, uma kitnet, aos 30 anos de idade. É então que ela é surpreendida por Leide, interpretada por Karine Teles, com quem teve um envolvimento há muito tempo. Após pouco mais de 10 anos, Leide aparece na porta do apartamento de Cassandra com Gersinho, papel muito bem executado por Gustavo Coelho, que é apresentado como seu filho.

De forma muito humana, a série se desenvolve mostrando os embates dessa maternidade até então desconhecida para Cassandra, como uma mulher trans, que tem sonhos, desejos, e é sobrevivente de um Brasil preconceituoso cujo desgoverno cerceia as oportunidades de trabalho.

Ao mesmo tempo, traz também a maternidade compulsória de Leide. Uma mulher desabrigada, que recorre ao subemprego, sem aporte do governo, contando esporadicamente com a generosidade de amigos, mas sem deixar de mostrar força, e, além de tudo, sem deixar de ser uma mulher com desejos e vontades. E é muito interessante o como esses confrontos são mostrados. Pois de maneira nenhuma trazem olhares moralizantes e, sendo assim, constroem uma narrativa de muito afeto e respeito individual, contrariando ideais paternalistas e machistas do como uma família deve ser, ou como uma mãe deve se portar.

A série também explora muito bem uma face do Brasil que merece nossa atenção. A da precarização do trabalho, com o desmonte dos direitos trabalhistas, e as consequências humanas disso. E não é ficção. Em abril deste ano, a Fundação Getúlio Vargas divulgou em um levantamento que o número de brasileiros que vivem na pobreza quase triplicou em seis meses, saltando de 9,5 milhões em agosto de 2020 para mais de 27 milhões em fevereiro de 2021.

Manhãs de Setembro traz um universo plural dentro de um Brasil triste. Com roteiro de Josefina Trotta, Alice Marcone e Marcelo Montenegro, e direção de Luis Pinheiro e Dainara Toffoli, a série traz personagens LGBTQIA+ sob uma ótica ímpar à dramaturgia. Longe de histórias de violência e repressão que a ficção tanto explora, mas também não deixa de levantar as bandeiras quando necessário.