Economia

Caderneta de poupança volta a render acima da inflação, com alta dos juros

O desempenho do ano passado atingiu 7,09%, um ganho real de 2,26% em relação ao IPCA, de 4,83%

Por R7 12/02/2025 10h10
Caderneta de poupança volta a render acima da inflação, com alta dos juros
Poupança é tradicional entre os brasileiros - Foto: Agência Brasil

A caderneta de poupança voltou a registrar rendimento acima da inflação em 2024. O investimento mais popular do país teve rentabilidade de 7,09% no ano passado, enquanto a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), foi de 4,83%. Com isso, o investidor teve um gano real de 2,26%. Os dados são de levantamento da Economatica.

Diferentemente de 2019 a 2021, quando a poupança registrou rendimento negativo, desde 2022, o investimento tem tido resultados que superam a taxa de inflação.

“Isso é importante por várias razões, mas, em especial, por não retirar poder de compra de quem coloca seus recursos nesse tipo de aplicação, popular e simples de se fazer. Além disso, os saldos da caderneta de poupança ajudam na capitação de recursos utilizados no mercado imobiliário, sobretudo para a construção de imóveis residenciais para a classe média”, afirma Haroldo da Silva, vice-presidente do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo).

No entanto, Silva pondera que a poupança não é o melhor retorno do mercado financeiro. “Mas ensina a guardar dinheiro e manter os orçamentos familiares equilibrados. O ato de poupar é essencial para uma vida financeira tranquila, longe de dívidas”, acrescenta.

Um dos fatores que explicam o rendimento da poupança é a questão da taxa básica de juros elevada. Para combater a alta dos preços, o Banco Central elevou a Selic a 13,25% ao ano na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em janeiro, com a perspectiva de chegar a 14,25% no primeiro trimestre de 2025.

Por isso, a tendência da poupança é positiva. “A expectativa para 2025 é que o ganho real seja ainda maior, dado o crescente aperto monetário que estamos vendo, para ancorar a inflação no horizonte relevante. Naturalmente, quanto maior esse ganho real, maior é o incentivo para o poupador manter seu capital aplicado”, afirma Fernando Marx, trader da TC Cosmos.

Atualmente, com a taxa Selic a 13,25% ao ano, a poupança é remunerada pela taxa referencial (TR), mais uma taxa fixa de 0,5% ao mês. Quando a Selic está abaixo de 8,5%, a atualização é feita com TR mais 70% da taxa básica de juros.

Para Mayra Saitta, advogada tributária, apesar de ser um investimento seguro e isento de Imposto de Renda, a poupança continua a perder atratividade em comparação a outros produtos de renda fixa, como CDBs e fundos DI, que oferecem retornos mais expressivos atrelados à taxa Selic.

“Em 2024, a caderneta de poupança continuou a seguir a regra de rentabilidade estabelecida pelo Banco Central: quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, a poupança rende 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR). Quando a Selic está igual ou abaixo desse patamar, a rentabilidade cai para 70% da Selic mais a TR”, explica a advogada.

Segundo ela, ao investidor que busca segurança e liquidez diária, a poupança segue sendo uma opção viável. “No entanto, para quem deseja maior rentabilidade, alternativas como Tesouro Selic e CDBs de bancos médios podem oferecer retornos mais vantajosos”, afirma Mayra.

Histórico

A caderneta de poupança tem registrado recorde de retirada. O movimento ocorre em meio aos juros elevados, que reduzem a competitividade da poupança frente a outros investimentos. Além disso, reflete o grau de endividamento da população.

Com a alta da taxa básica de juros, a Selic, a aplicação tem perdido recursos. Em 2024, a caderneta registrou resgate líquido de R$ 15,4 bilhões, com saques dos brasileiros do que depósitos.

Mas o recorde foi em 2022, quando a poupança registrou saldo devedor de R$ 103,23 bilhões, a pior captação negativa da série histórica da aplicação. Até então, a maior perda anual da poupança, de R$ 53,6 bilhões, havia ocorrido em 2015. Em 2023, a saída líquida foi de R$ 87,8 bilhões.