Quase 70% dos inadimplentes sofrem de ansiedade por não conseguir pagar dívidas
Alto nível de preocupação com dívidas cresce de 42% para 56% em um ano.
Não é apenas a vida financeira que sai prejudicada quando alguém contrai uma dívida e não consegue pagá-la. A saúde do corpo e da mente também fica comprometida, potencializando uma série de problemas que se acumulam e afetam todas as esferas da vida de uma pessoa.
Um levantamento nacional realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revela que o número de consumidores inadimplentes que passaram a se sentir mais ansiosos após contraírem a dívida cresceu nove pontos percentuais em relação ao ano passado, passando de 60% para 69%, e assumiu a liderança no ranking de sentimentos que a má situação financeira mais desperta.
Na sequência aparecem os sentimentos de insegurança (65%), estresse (64%, alta de 6 p.p em relação a 2016), angústia (61%), desânimo (58%), sentimento de culpa (57%) e baixa autoestima (56%). A pesquisa ainda revela que mais da metade dos inadimplentes (51%) sente-se envergonhada perante a família e amigos por se encontrarem nessa situação.
O educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, orienta que o consumidor com dívidas em atraso deve tirar o foco da dívida em si e se concentrar no atingimento das metas traçadas para vencer o desafio de sair da inadimplência.
“A postura emocional do devedor revela muito sobre como ele vai lidar com a reorganização das finanças. Quem se desespera no momento de dificuldade, multiplica os seus problemas. Um consumidor desorientado, ansioso e sem motivação dificilmente vai ter energia para traçar uma saída. Os primeiros passos nessas horas são manter a calma, buscar racionalidade e contar com a compreensão da família. Ou até mesmo recorrer a um profissional especializado”, orienta Vignoli.
Dívidas deixam 52% dos inadimplentes mais facilmente irritados e 46% passaram a ter menos vontade de se sociabilizar depois das contas atrasadas
A pesquisa constata que em muitos casos a inadimplência altera negativamente o estado emocional dos consumidores, atingindo até mesmo a vida profissional e social dos entrevistados. Um quarto dos inadimplentes consultados (25%) admite que ficou mais desatento e menos produtivo no ambiente de trabalho após a situação de inadimplência, percentual que cresceu 9 p.p em relação a 2016. Outro dado nesse sentido é que 21% não conseguem controlar a paciência e acabam se irritando com facilidade ao lidarem com colegas no serviço.
O vício também é uma das consequências desencadeadas por causa das dívidas em atraso. Dois em cada dez (21%) entrevistados disseram que passaram a descontar a ansiedade em vícios, como cigarro, comida ou álcool. Também foi identificado um aumento nas atitudes agressivas dos inadimplentes: 18% confessaram que andam mais irritados, chegando ao ponto de agredir verbalmente pessoas próximas da família e amigos e 14% já partiram até mesmo para as agressões físicas. No ano passado, os percentuais dessas opções eram de 13% e 8%, respectivamente.
O humor de boa parte dos entrevistados é impactado pelo endividamento, causando abalos na vida social. Os principais efeitos incluem ficar facilmente irritado (52%) ou mal-humorado (49%), além de ter menos vontade de sair e socializar com outras pessoas (45%). A pesquisa também detectou que alguns devedores acabam apresentando comportamentos opostos.
Enquanto alguns inadimplentes sofrem de insônia (44%) e descontam a ansiedade comendo mais (34%), outros acabam desenvolvendo atitudes contrárias, como perda de apetite (35%) e vontade fora do normal de dormir (36%), comprovando que as dívidas em atraso muitas vezes trazem prejuízos para o corpo e para a mente de quem está devendo.
56% demonstram alto grau de preocupação por estarem devendo. Mais de um terço temem não conseguir pagar dívidas
Embora 47% dos inadimplentes tenham procurado alguma atividade que os façam esquecer os problemas gerados por suas dívidas, aumentou o percentual de entrevistados que estão mais preocupados por se encontrarem com as finanças em dificuldade. No ano passado, os inadimplentes com alto nível de preocupação eram 42% e, neste ano eles somam 56% da amostra. Os que possuem nível médio de preocupação representam 25% dos entrevistados, ao passo que os que possuem preocupação baixa ou muito baixa é de 12%. Os que não demonstram qualquer preocupação são 6% da amostra.
De acordo com o levantamento, o maior temor dos inadimplentes com relação às pendências atrasadas é não conseguir pagar as dívidas (36%), ser considerado desonesto pelas demais pessoas (11%), não conseguir parcelas suas compras (9%), não arrumar um emprego (9%) e não poder mais fazer empréstimos (7%). Há ainda 5% de entrevistados que temem ter de vender algum bem para cobrir a dívida contraída.
76% frearam consumo parcelado após dívida, mas 45% ainda compram alimentos supérfluos
Tentando reverter a situação das contas no vermelho, sete em cada dez (76%) inadimplentes pesquisados disseram ter colocado o pé no freio e deixaram de fazer compras parceladas no cheques, cartões e carnês. Além disso, 74% fizeram cortes ou algum tipo de ajuste no orçamento e 47% até mesmo deixaram de comprar itens de primeira necessidade para si ou para a família.
O ajuste no orçamento, contudo, não é feito por todos: 45% não deixaram de comprar alimentos supérfluos, como iogurtes, congelados e bebidas e 36% não deixaram de sair com amigos para se divertir, mesmo estando com contas em atraso. Os que não abrem mão de adquirir, de forma parcelada, roupas e calçados são 29% daqueles que estão endividados.
“Não se sai da inadimplência sem esforço. É importante que o consumidor faça um detalhamento minucioso de todos os seus gastos e priorize o pagamento das contas e compras de primeira necessidade, visando uma sobra no orçamento, que será utilizada justamente para negociar e quitar a dívida em atraso”, orienta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
A especialista também não descarta outras alternativas como a procura por fontes de renda extras. “O importante é que o consumidor não caia na tentação de aumentar as despesas porque há uma fonte extra de renda. Por isso, o controle rígido dos gastos neste momento é fundamental”, afirma.