Polícia

Paciente escreve bilhete e pede ajuda para sair de clínica: 'Sou agredido'

Por G1 20/11/2018 07h07
Paciente escreve bilhete e pede ajuda para sair de clínica: 'Sou agredido'
Parte do bilhete de denúncia do paciente - Foto: Reprodução

Um paciente de uma clínica de reabilitação para dependentes químicos em Itariri, no interior de São Paulo, denunciou a unidade por maus-tratos enquanto era atendido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Peruíbe, no litoral do estado. O paciente entregou, escondido, um bilhete pedindo socorro aos funcionários da unidade de saúde e, em conversa com o G1, ele afirmou que era agredido pelos monitores do local. Um boletim de ocorrência sobre o caso foi registrado. A clínica foi procurada pelo G1, negou os maus-tratos e disse que o paciente está tentando se livrar do tratamento. O caso será levado ao Ministério Público Estadual.

O paciente, que é empresário, ex-usuário de cocaína e prefere não ser identificado, contou, na manhã desta terça-feira (20), que chegou à clínica de reabilitação particular há cerca de 15 dias, transferido de uma outra instituição no interior de São Paulo. Na transferência, ele disse que machucou o joelho e, na nova unidade, não recebeu os devidos cuidados, o que agravou a lesão e, por isso, foi encaminhado para a UPA, acompanhado de funcionários da clínica. Quando soube que iria para a unidade de saúde, ele resolveu escrever o bilhete.

"Consegui ter acesso a uma caneta, o que é difícil lá pois eles não querem que nada seja escrito ou divulgado sobre a clínica. Por essa razão, decidi escrever o bilhete pedindo socorro. Quando chegamos na UPA, os monitores da clínica queriam até entrar comigo na sala da radiografia, mas foram impedidos e, no atendimento do exame, entreguei para os funcionários o bilhete com o meu apelo", conta.

No bilhete, o paciente conta que é de Salvador, na Bahia, e que seria vítima de maus-tratos na clínica de reabilitação onde está internado. Ele incluiu no bilhete os contatos da família e pediu que alguém fizesse a denúncia para ajudá-lo. Ele afirma que, além dele, outros pacientes passam pela mesma situação e os parentes são enganados pela unidade.

Os funcionários da UPA, ao receberem o bilhete, comunicaram uma funcionária da Secretaria de Assistência Social de Peruíbe e, junto ao diretor da pasta, levaram o ex-dependente para a delegacia, onde foi registrado o boletim de ocorrência por maus-tratos e lesão corporal.

"Eu me internei voluntariamente, mas eu e minha família fomos enganados. Eu estava sofrendo maus-tratos ali. Eu era agredido fisicamente e psicologicamente. Não deixavam eu falar com a minha família e, para eles, diziam que eu estava bem. Tiravam fotos minhas e mandavam. Era tudo uma máscara que eles passavam, mostrando algo que não é real", contou o paciente durante depoimento na delegacia.

A clínica em questão funciona em Itariri há cerca de seis meses. O advogado da instituição, Saulo Motta, refutou qualquer tipo de má conduta por parte dos monitores. "Infelizmente acompanhamos vários casos de pessoas que são escravas da droga e começam a criar coisas para sair do local de internação. Nós refutamos qualquer tipo de agressão e convidamos quem quiser conhecer o nosso espaço", falou.

O advogado comentou ainda que dias antes falou com o pai do rapaz, que disse ter decidido tirá-lo da outra clínica porque ele não estava sendo bem tratado. O pai do paciente também pediu que uma equipe o levasse até o hospital para atendimento médico e, se necessário pagaria pela consulta.

Segundo apurado pelo G1, após a denúncia, o rapaz foi encaminhado para fazer um exame de lesão corporal no Instituto Médico Legal (IML). Após os exames, que ainda não tiveram os resultados divulgados, o paciente voltou para a UPA. A família do rapaz foi notificada sobre a situação e, na tarde de segunda-feira (19), esteve na unidade para buscar o rapaz e levá-lo para Salvador.

Ao G1, um dos proprietários da clínica negou os maus-tratos. De acordo com ele, que prefere não se identificar, o ex-dependente químico queria apenas conseguir sair do local e, na realidade, sofria maus-tratos na outra clínica em que estava internado. "Na transferência para Itariri, ele achou que iria para casa e, por isso, ficou revoltado com a situação. Durante a transferência, ele tentou fugir e acabou machucando o joelho ao tentar sair da ambulância", afirma.

O responsável pela clínica garantiu também, ao G1, que registraria um boletim de ocorrência por calúnia e difamação em nome da unidade. Em contato com a reportagem, a Polícia Civil disse que já está investigando o caso e apurando todas as denúncias. Testemunhas deverão ser ouvidas nos próximos dias para tentar esclarecer o caso.

Assustados
Funcionários da UPA que conversaram com o G1, disseram que ficaram "assustados com a intimidação e postura" dos homens que levaram o paciente até a unidade. Por isso, após o técnico de enfermagem receber o bilhete do paciente, a chefe do setor decidiu acionar a Polícia e a Guarda Municipal.

Por meio de nota, a Prefeitura de Peruíbe informou que deu todo suporte clínico e alimentar ao paciente e que o diretor de assistência social entrou em contato com os pais do rapaz. "Agradeceram e até gravaram um depoimento enaltecendo o trabalho da equipe da UPA. Na próxima quarta-feira (21) será entregue um relatório dos fatos e cópia do boletim de ocorrência ao Ministério Público que tomará as medidas que entender cabíveis".