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Empresa israelense que gera água a partir do ar terá base no Nordeste

Bolsonaro quer negociar a instalação de fábrica na região para venda de equipamentos que transformam umidade em orvalho

Por Redação OP9, com agências 26/12/2018 09h09
Empresa israelense que gera água a partir do ar terá base no Nordeste
Empresa israelense que gera água a partir do ar terá base no Nordeste - Foto: Redação OP9 com Agência Brasil e Agência Senado

A partir de janeiro, o Nordeste poderá ter uma instalação piloto para tirar água salobra de poços, dessalinizar, armazenar e distribuir para a agricultura familiar da região. A novidade nesse caso seria o uso de tecnologia israelense. Já no início do próximo ano, o futuro ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, visitará no país do Oriente Médio instalações de dessalinização, plantações e o escritório de patentes.

A informação foi divulgada nesta terça-feira (25) pelo presidente da República eleito, Jair Bolsonaro, por meio de seu perfil no Twitter. Ele disse que fará parcerias com Israel para beneficiar o Nordeste, única região do país onde foi derrotado nas urnas nas eleições de outubro.

“Também estudamos junto ao embaixador de Israel e empresa especializada testar tecnologia que produz água a partir da umidade do ar em escolas e hospitais da região. Poderemos, inclusive, negociar a instalação de fábrica no Nordeste para venda desses equipamentos”, escreveu no Twitter.

A empresa é a Watergen, que já realizou testes na capital do Vietnã, Hanói. Movido a energia elétrica, um equipamento pequeno pesando cerca de 50 quilos pode gerar entre 20 a 25 litros de água potável por dia. Uma unidade de grande escala pode extrair até 5.000 litros por dia.

O gerador de água atmosférica absorve o ar ambiente através de um filtro e o resfria até seu ponto de orvalho, extraindo água através da condensação. A água é então purificada, mineralizada e está pronta e segura para beber.

O pioneirismo de Fernando de Noronha
De acordo com o diretor da Região Nordeste, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Francisco Vieira Paiva, “a dessalinização faz parte de um contexto mundial. A indústria usa a dessalinização para processos industriais. Com relação ao consumo humano, países semelhantes ao Brasil, com regiões [climáticas parecidas com as do] Nordeste, têm experimentado essa tecnologia, porque é uma forma de minimizar o impacto às populações”, explicou.

Fernando de Noronha (PE) é o exemplo pioneiro de alcance público: possui uma usina de dessalinização para consumo humano que apoia o sistema de abastecimento da ilha, especialmente nos períodos de estiagem. O distrito estadual possui apenas um açude, o Xaréu, além de poços.

A experiência israelense
Israel é o líder mundial em reutilização de água, em todos os métodos. O governo investe maciçamente em dessalinização — mais de US$ 3,5 bilhões por ano, com 39 unidades em funcionamento. Em outubro de 2013, foi inaugurada a maior delas, em Sorek, produzindo 227 bilhões de litros por ano. Atualmente, mais da metade da água potável consumida vem do mar (600 bilhões de litros por ano) e a meta é, em pouco mais de cinco anos, chegar a 100%.

O consumo per capita de água na região é de 140 litros por dia e as três fontes — chuva, Mar da Galileia e três aquíferos — passaram por dificuldades recentes. Com 60% do território em área de deserto, Israel é muito dependente da agricultura irrigada, com a qual precisa alimentar 8 milhões de habitantes. Quase metade da irrigação é feita com água dessalinizada.

Desde 1955 a reutilização é política nacional e, com 80% de reúso da água doméstica (400 bilhões de litros por ano), o país está muito à frente de Espanha (14%), Austrália (9%) e Itália (8%), por exemplo.