Política

Novas acusações contra Júlio Cezar mostram rotinas de assédio na Prefeitura de Palmeira

Ex-servidora trabalhava no gabinete do prefeito

Por Berg Morais 24/08/2020 18h06
Novas acusações contra Júlio Cezar mostram rotinas de assédio na Prefeitura de Palmeira
Júlio Cezar, prefeito de Palmeira dos Índios - Foto: Cortesia

“Não só a Dra Margareth foi assediada, como tantas outras mulheres, inclusive eu”. A frase é de uma ex-servidora do município de Palmeira dos Índios, que também confirma ter sofrido assédio sexual e moral do prefeito Júlio Cezar (PSB), além de ter testemunhado reuniões com momentos de pornografia e humilhação às pessoas que ameaçavam o projeto de manutenção de Poder do gestor. A nova vítima surge após o Portal 7Segundos ter divulgado com exclusividade o caso de uma advogada que denunciou a prática criminosa.

Professora, pregoeira e psicóloga clínica, a nova vítima preferiu ter o nome preservado temendo ameaças. De iniciais L.O., ela relatou estar com o estado emocional altamente abalado e diz ter saído da cidade para seguir uma nova vida. “Coloquei ele no lugar dele e, simplesmente, deixei o município. Hoje faço minha vida e não dependo dele pra nada. Espero que a população se conscientize e faça uma Palmeira melhor”, disse, garantindo que coisas muito piores acontecem nos bastidores.

De acordo com a denunciante, o gestor era o líder de um esquema de apostas entre amigos, onde ganhava quem “pegasse” determinada mulher primeiro. “Fui assediada por ele sim! Fizeram uma aposta entre ele e mais duas pessoas pra ver quem me pegava... graças a Deus, nem ele nem ninguém conseguiu. Quando eu soube dessa aposta fiquei muito chateada. Até que ano passado, no mês de agosto, eu não suportava mais”, relatou.

L.O. destacou que passou momentos de terror em reuniões onde só homens participavam. “Muitas das vezes, no meio de um monte de homens, ele dizia: professora, você precisa de homem; o que falta pra você é homem. Ele fazia isso diante de todo mundo. Dizia que eu precisava de homem pra acalmar. Isso não é coisa que um gestor de uma cidade deve fazer”, lamenta.

Para ela, os momentos constrangedores foram incontáveis. “Sofri assédio. Reuniões com pornografias. Humilhações com pessoas. Eu ficava ouvindo do lado de fora, mas nunca participava. Com aqueles que se sentia ameaçado, ele [Júlio Cezar] batia na mesa e chamava palavrões. Dizia o que queria e o que não queria e todo mundo saia magoado”.

FRAUDE EM LICITAÇÕES


As denúncias sobre fraude em licitação feitas pela advogada Margareth Alves, primeira vítima da suposta prática de assédio por parte de Júlio Cezar, foram reiteradas por L.O. “Sou pregoeira. A gente fazia licitação e, às vezes, já vinha tudo arrumadinho. E nós não aceitávamos aquilo. Nós fazíamos a nossa parte. Eu, Emerson e o Adjalan. Mas, quando chegava no setor administrativo, tudo era mudado”.

Ela confirma que havia manipulação para beneficiar aliados do prefeito. “Quando chegava um processo de uma pessoa que ele não gostava, simplesmente ele fazia nós prorrogarmos o tempo de licitação para poder ter alguém que ele simpatizasse e pudesse dividir com ele a situação. O que seria planejado, não com a gente, mas com o gabinete e administrativo” denunciou.

SALÁRIO DE SECRETÁRIO PARA ORNAMENTADORA


A segunda vítima de assédio relata ainda momentos de sofrimento que ela e sua chefe passaram na secretaria de Captação de Recursos, e revelou que, mesmo não estando mais no primeiro escalão da prefeitura, Márcia Souza recebe um salário de secretário municipal.

“Eu tinha o cargo de diretora de captação de recursos. A secretária era Márcia Souza. Tanto ela como eu sofremos bastante. Mas ela sempre foi uma mulher de cabeça erguida e tinha nosso apoio. Hoje, ela recebe um salário de secretária pra arrumar a cidade. E outra: quem arruma não é ela. São os subordinados a ela”, revelou.

PROXIMIDADE COM A FAMÍLIA


L.O. fez questão de enfatizar a aproximação e respeito que sempre teve pelos familiares e pela ex-esposa de Júlio Cezar, e o que o poder o transformou numa pessoa diferente. “Eu chamava a mãe dele de Vó Dadá... Logo que ele se elegeu, as coisas mudaram completamente. Passei seis meses esperando para trabalhar, tive que vender um terreno pra me sustentar. Fui demitida do meu trabalho por fazer parte do partido dele, o PSB, e a dona da instituição que eu trabalhava era oposição a ele. Ela me demitiu e fiquei desempregada”, contou.

Segundo ela, após seis meses de espera, assumiu uma coordenadoria na secretaria municipal de Educação. Em seguida, passou a trabalhar no gabinete do prefeito. “Certo dia ele tinha tomado uns uísques em um local, e me deu um aperto diferenciado nas minhas costas. Eu percebi que não era normal e pedi que ele nunca mais fizesse isso”, disse.

DENUNCIANTE TEME AMEAÇAS


Por fim, L.O. garantiu que optou por não revelar sua identidade por conta de possíveis novas ameaças, e para preservar seus pacientes na clínica em que atende como psicóloga. “Minhas crianças, meus idosos, todas as pessoas que atendo não precisam, nesse momento, tomar conhecimento desse escândalo. No momento certo, tudo será legalmente resolvido”, concluiu.

A reportagem tentou contato telefônico com o coordenador de comunicação da Prefeitura de Palmeira dos Índios para saber da versão do prefeito sobre as acuações a ele atribuídas, mas as ligações não foram atendidas ou retornadas até o fechamento da matéria.