Mulher adotada por italianos reencontra irmã no Brasil após quase 20 anos
A jovem foi adotada aos 10 meses pelo casal de italianos Massimo e Giuliana Calzamiglia e já sabia do processo desde pequena
A internet proporcionou o fim de um mistério para duas irmãs, separadas por um oceano mas reunidas pelas redes sociais. Grazieli da Silva Alves, de 20 anos, que mora em Nova Venécia, no Espírito Santo, e Gabriella Calzamiglia, de 19, que vive na Itália, perderam contato depois que a caçula foi adotada por um casal europeu ainda bebê.
As duas foram levadas para o Conselho Tutelar da cidade capixaba por iniciativa da mãe de sangue, que passava por dificuldades. Assim que o pai das meninas, que estava se separando da mulher, descobriu o paradeiro das filhas, ele correu para recuperá-las, mas já era tarde demais.
"Meu pai descobriu que a gente estava [no Conselho Tutelar] e quando foi buscar a gente, já tinham levado a Gabriella", contou Grazieli em entrevista ao UOL.
Gabriella atravessou o Oceano Atlântico e parou na cidade de Imperia, na região de Ligúria, na Itália, onde vive desde que saiu do Brasil. Hoje, ela cursa faculdade de Ciências da Educação.
A jovem foi adotada aos 10 meses pelo casal de italianos Massimo e Giuliana Calzamiglia e já sabia do processo desde pequena.
O caminho do reencontro virtual
Grazieli revela que sempre soube da existência da irmã mais nova e quando tinha 17 anos, entre 2017 e 2018, decidiu tentar achar Gabriella por conta própria, sem sucesso. Ao ser adotada, a caçula ganhou o sobrenome dos pais adotivos, ao qual a família biológica não tinha acesso.
Mal sabia ela que Gabriella também havia iniciado uma busca. Com os documentos da adoção em mãos, o processo da ítalo-brasileira foi bem mais fácil, já que o nome e sobrenomes da irmã mais velha ainda eram os mesmos.
"Há poucos anos abri os documentos de adoção que sempre estiveram perto de mim e descobri que tinha uma irmã", contou Gabriella ao UOL.
A jovem buscava Grazieli há cerca de um ano, quando publicou em seu Instagram uma foto da mais velha ainda bebê com a legenda: "Vou te achar".
Nos últimos meses, ela fez uma outra publicação nas redes sociais, explicando que estava à procura de sua irmã, fornecendo os detalhes que conhecia sobre a história. Dessa vez, ela conseguiu fazer a publicação "viajar" da Itália até Nova Venécia.
"Não esperava todo o compartilhamento que me levou até Grazieli", assume Gabriella.
"A família do meu marido me chamou na casa deles. Chegando lá falaram que minha irmã estava me procurando. Fiquei surpresa e muito emocionada, foi a melhor notícia que eu tive, era um sonho encontrar ela", emocionou-se a irmã mais velha.
Barreira linguística quebrada
Criada na Itália, Gabriella fala italiano e não sabe português. Na busca pela irmã, uma parente mandou uma mensagem para ela afirmando que conhecia Grazieli. Após investigar e ver que os nomes dos avós nos documentos eram iguais, ela teve certeza que realmente havia encontrado a irmã.
No dia 26 de abril, as duas tiveram contato pela primeira vez.
"Quando a vi na videochamada ela era muito parecida comigo [...]. Foi lindo: tínhamos olhos brilhantes, apenas nos olhamos, sem falar uma palavra, aproveitando o momento", descreveu Gabriella.
Grazieli detalha que nas chamadas seguintes as duas seguiram falando pouco, mas sem que isso impeça que as ligações sejam frequentes.
Já por mensagens de texto, as duas conseguem ultrapassar a barreira linguística graças a um tradutor virtual.
Volta ao Brasil
Gabriella ainda contou sobre a reação dos pais adotivos ao reencontro, afirmando que eles a apoiaram e ficaram maravilhados por ela ter localizado sua irmã mais velha. "Eles sabiam o quanto eu me importava [com isso]".
Da família no Brasil, a jovem já conhece virtualmente a sobrinha, filha de Grazieli, que tem um ano e sete meses.
Já seus outros três irmãos por parte de mãe ainda são desconhecidos, mas ela afirma que pretende vir ao Brasil para conhecê-los e visitar sua terra natal.
"Meu objetivo é ir a Nova Venécia para conhecê-los, assim que a pandemia de covid-19 acabar", falou.
Grazieli faz coro aos planos da irmã e diz que "não vê a hora" disso se tornar realidade.
"O que eu mais quero é encontrar e poder abraçar ela. Fazer perguntas, entender um pouco sobre a vida dela na Itália e entender o idioma dela", planeja.